Viva Victor Jara, uma voz que nunca se calou!
O Poder Popular nº 79
Há 50 anos, na data de 16 de setembro de 1973, o cantor Victor Jara era assassinado pela ditadura de Augusto Pinochet no Chile. Neste dia quiseram apagar sua voz, mas seu canto já pertencia a outras bocas e nem a mais sanguinária das ditaduras da América Latina conseguiu fazê-lo calar.
Professor da Faculdade de Comunicação da UTE (Universidad Técnica del Estado, de Santiago do Chile), Victor Jara militava no Partido Comunista, havia apoiado a eleição de Salvador Allende à presidência do Chile e despontava como o maior nome da canção revolucionária em seu país. Assim como milhares de presos políticos, foi levado ao Estádio Chile, onde foi brutalmente espancado. Seu rosto vertia sangue quando lhe esmigalharam também as mãos, a coronhadas, diante de todos. Seus torturadores afirmavam fazer aquilo para que ele nunca mais empunhasse um violão.
Cinco dias após a prisão, Victor foi assassinado. O laudo emitido após a autópsia, feita quando localizaram o cadáver num matagal, indicou uma porção de ossos quebrados e 44 marcas de balas.
Antes de morrer, conseguiu redigir um poema, entregue aos companheiros de cárcere, que providenciaram cópias e conseguiram preservá-lo, dando-lhe mais tarde o título de “Estádio Chile”: “Somos cinco mil aquí/ en esta pequeña parte de la ciudad/ (…) Seis de los nuestros se perdieron/ en el espacio de las estrellas./ Uno muerto, un golpeado como jamás creí/ se podría golpear a un ser humano./ Los otros cuatro quisieron quitarse/ todos los temores, / uno saltando al vacío,/ otro golpeándose la cabeza contra un muro/ pero todos con la mirada fija en la muerte./ ¡Qué espanto produce el rostro del fascismo!”.
Em setembro de 2003, o Estádio Chile foi renomeado Estádio Victor Jara.
Victor Lidio Jara Martínez nasceu em 28 de setembro de 1932 na província de Ñuble. Filho de camponeses, foi criado em um ambiente rural, mas sua mãe, Amanda Martínez, era cantora e tocava violão. No final da década de 1950, participou do Conjunto Folclórico Cuncumén, onde conheceu Violeta Parra, cantora, compositora, artista plástica e ceramista chilena, considerada uma das fundadoras da música popular chilena. Aos poucos, a canção folclórica e os temas rurais foram cedendo espaço para a chamada música de protesto, mais urbana e, profundamente alinhada às bandeiras políticas da época.
Foi o diretor artístico do grupo Quilapayún entre 1966 e 1969, ano em que ganhou o primeiro prêmio no primeiro festival da Nova Canção Chilena, com a música “Plegaria a un labrador” e viajou a Helsinki, Finlândia, para participar de um ato mundial de protesto contra a Guerra do Vietnã. Em 1970, participou ativamente da campanha da Unidade Popular, que lançou a candidatura de Salvador Allende para a presidência do Chile. Nesse mesmo ano apresentou seu disco “Canto Libre”.
Com a posse de Allende, Jara foi nomeado embaixador cultural do país e integrou o Departamento de Comunicações da Universidade Técnica do Estado. Homenageou o revolucionário vietnamita Ho Chi Minh, citando-o nominalmente na canção “El Derecho de Vivir en Paz”. Gravou “Cruz de Luz”, de Daniel Viglietti, solidarizando-se com o padre e guerrilheiro colombiano Camilo Torres. Montou um repertório com canções em homenagem a Pancho Villa, Che Guevara e Salvador Allende. Musicou o poema de Neruda “Aquí me Quedo”: “Eu não quero a pátria dividida / cabemos todos na minha terra”.
Após vários anos de impunidade, em uma decisão histórica muito comemorada no Chile, a Suprema Corte do país condenou, em 28/08/2023, sete militares aposentados a penas de 8 a 25 anos de prisão pelo sequestro e assassinato de Víctor Jara. Um dos militares condenados, Hernán Chacón Soto, cometeu suicídio antes de ser preso.
As canções e o exemplo heróico de Victor Jara seguem vivos na memória de todos os que lutam contra a nefasta herança das ditaduras em nosso continente, pelo poder popular e pelo socialismo!
Fontes: https://pcb.org.br/portal2/