Toda Solidariedade ao povo da Ucrânia!
Carlos Serrano*
No início do mês de dezembro, na sede nacional do Partido Comunista Brasileiro, ocorreu um primeiro contato entre o PCB e a organização revolucionária Borotba (Luta) da Ucrânia. Nesta reunião estiveram presentes Paulo Oliveira, pelo Comitê Central do Partido; Carlos Serrano Ferreira, que promoveu os primeiros contatos com a organização ucraniana e realizou a tradução da conversa, e Aleksey Albu, membro do Comitê Central do Borotba.
Dentre os questionamentos feitos por Paulo Oliveira, um deles foi sobre os motivos da origem do Borotba. Essa organização foi formada em 2011 pela confluência de comunistas de várias tendências e origens, insatisfeitos com os rumos socialdemocratizantes das organizações de esquerda desse país. O próprio Aleksey Albu foi membro da Juventude do Partido Comunista da Ucrânia (PCU) e deputado regional de Odessa pelo mesmo partido.
O quadro apresentado por Albu da situação ucraniana foi assustador e bem diferente do que é pintado pela grande imprensa imperialista e por algumas organizações da esquerda brasileira. Ao contrário de ser uma “revolução da dignidade”, “europeísta”, “democrática”, o chamado Euromaidan foi de fato um golpe de Estado perpetrado por uma aliança de neoliberais pró-imperialistas e seus aliados fascistas. E o Borotba afirma isto com a isenção de quem fez oposição permanente ao presidente deposto Viktor Yanukovich. Segundo Albu, os fascistas forçaram a fuga do país do ex-presidente e, depois, em uma manobra muito parecida com a realizada no golpe militar-empresarial de 1964 no Brasil, declararam vaga a presidência, empossando um ilegítimo presidente provisório, o que contrariava as determinações constitucionais que exigiam novas eleições. Infelizmente, o PCU, desesperado, acabou votando nesta manobra para tentar sobreviver. Contudo, nem mesmo este equívoco impediu que, no processo em curso de acelerada fascistização do Estado e da sociedade, ucranianos esta organização, tal qual o Borotba e todos os setores revolucionários do país fossem proscritos, bem como ocorresse a criminalização do comunismo e a reabilitação dos fascistas da Segunda Guerra Mundial, forçando as forças progressistas a entraram na clandestinidade, emigrarem para as zonas liberadas do Leste do país ou fugirem para o exílio.
Da mesma forma, Albu falou da resistência nacional e popular que se iniciou principalmente no Leste e no Sul do país. Em Odessa, ele e outros iniciaram uma campanha contra o golpe, chamada de AntiMaidan, que também ocorreu em outras regiões do país e foi brutalmente reprimida. Ele mesmo foi um dos sobreviventes do Massacre de Odessa, de 2 de maio de 2014, quando centenas de militantes de esquerda foram cercados na Casa dos Sindicatos, sendo esta depois incendiada pelos fascistas. Apenas naquele dia, entre mortos e presos, o movimento de resistência perdeu meio milhar de militantes. A desorganização e incapacidade de unificação impediu a manutenção do movimento em Odessa, mas as populações da Crimeia lograram – em plebiscito legítimo – conquistar a independência e realizar antigo desejo de incorporação à Rússia. No Leste, com a adesão de parte dos setores policiais e do Exército, a população conseguiu se armar e iniciar uma resistência. O Borotba foi uma das organizações que se incorporaram com militantes na luta armada contra a ofensiva dos bandos fascistas, milícias de extrema-direita integradas à estrutura oficial do Estado, na recriada Guarda Nacional.
Albu apontou as dificuldades da resistência, mas também as potencialidades progressistas do processo nas Repúblicas Populares, onde há não só um sentimento de defesa dos direitos nacionais das minorias russas – atacadas por Kiev – mas também de classe, com forte conteúdo antioligárquico (grande burguesia monopolista emergida no caos do final da URSS). Contudo, as condições são extremamente adversas. Ele mesmo foi forçado a se exilar, e muitos companheiros sobrevivem com a solidariedade internacional de militantes da esquerda europeia. Solidariedade que também se deu com a ida de militantes para ajudar na luta antifascista.
Foi em busca de esclarecer os fatos que ocorrem na Ucrânia, por fora das mentiras da grande imprensa, e para estabelecer contatos mais amplos e fazer crescer a solidariedade à resistência antifascista desenvolvida pelo povo ucraniano que esta reunião ocorreu. O Borotba tem promovido contatos com várias organizações da esquerda europeia, mas expressou seu desejo de manter um fluxo permanente de contatos com o Partido Comunista Brasileiro, o que foi visto com bons olhos pelo representante do Comitê Central do PCB na reunião. Além disso, solicitou a ajuda do PCB para estabelecer contatos com outras organizações que eles admiram, mas fruto do isolamento do conflito, ainda não tiveram condições de fazê-lo, como o Partido Comunista da Grécia (KKE).
Esta frutuosa reunião também serve de lição a todos os militantes do Partido de que. A tarefa de relações internacionais e solidariedade deve ser consolidada no PCB, e todos os militantes podem colaborar com a abertura de contatos e ampliação de nossa influência internacional.
Toda solidariedade ao povo ucraniano! Fascistas, não passarão!
*Militante do PCB-RJ