Contra a OTAN e a guerra imperialista, pela paz e o socialismo!

Nota Política do Partido Comunista Brasileiro – PCB

A crise mundial do capitalismo e o declínio do imperialismo estadunidense têm produzido um conjunto de ações desesperadas dos Estados Unidos, que envolvem sanções, sabotagens e provocações às nações que não se dobram aos seus interesses, além do fomento de guerras em várias regiões do mundo, como é o caso da Ucrânia. Esta guerra não começou em fevereiro de 2022, mas em 2014, quando os Estados Unidos e a OTAN, visando completar o cerco à Rússia, promoveram o golpe de Estado para colocar a Ucrânia na OTAN, instalar mísseis de médio alcance com ogivas nucleares e buscar desmembrar a Rússia em várias repúblicas, como aconteceu na Iugoslávia, visando saquear seus imensos recursos naturais.

Diante da nova realidade, na qual o governo central ucraniano subiu o tom da discriminação à minoria étnica russa no país, os povos de origem russa de certas regiões da Ucrânia, como Donetsk e Luhansk, se sublevaram de armas na mão contra o governo. Na Criméia, os povos locais também se sublevaram e realizaram um plebiscito para sua incorporação à Rússia, o que terminou ocorrendo ainda naquele ano. Diante do avanço das milícias de Donbass, o governo ucraniano foi obrigado a aceitar os Acordos de Minsk, pelo qual garantia-se a autodeterminação a esses povos. No entanto, o que ocorreu depois foi o desrespeito aos acordos de Minsk e a ação dos Estados Unidos e da OTAN no sentido de entregar ao exército ucraniano as armas mais sofisticadas para derrotar os povos sublevados e incorporar a Ucrânia à OTAN para futuras ações contra a Rússia. Isso, segundo os russos, colocaria em risco sua segurança estratégica.

Foi nessa conjuntura que o governo da Rússia iniciou a invasão da Ucrânia, mediante a chamada Operação Militar Especial, através da qual alegava proteger a população de origem russa e desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia. Posteriormente, com o desenvolvimento da guerra, realizou-se um plebiscito nessas regiões, onde a maioria da população optou por se incorporar à Rússia, o que terminou acontecendo. A resposta dos Estados Unidos, da OTAN e da União Europeia foi promover sanções contra a Rússia, sabotar o gasoduto Nord Stream 2, ampliar o fornecimento de armas à Ucrânia, treinar seus militares para manejar o maquinário sofisticado de guerra e mobilizar mercenários de várias partes do mundo para lutar na Ucrânia, o que transformou a guerra não mais num conflito entre Rússia e Ucrânia, mas entre todo o bloco ocidental e a Rússia.

É preciso avaliar mais profundamente o que está em jogo nessa guerra. O governo dos Estados Unidos, a OTAN e a União Europeia têm como objetivo estratégico expandir sua organização militar para desestabilizar o governo russo, controlar seus recursos naturais e desmembrar o país em várias repúblicas e, assim, tentar conter o fortalecimento político, econômico e militar do bloco Rússia-China. Tal objetivo, por sua vez, deve ser compreendido no cenário em que a China vem sendo considerada, por sucessivos governos estadunidenses, como seu principal inimigo estratégico, quadro esse que não dá nenhuma indicação de que venha a ser revertido proximamente. Os imperialistas imaginavam que as sanções possibilitariam a desorganização econômica da Rússia e que, com a ajuda militar à Ucrânia, venceriam a guerra. Nada disso aconteceu: as sanções se voltaram contra a Europa e os Estados Unidos, e o bloco ocidental parece estar perdendo a guerra.

Não se pode esquecer que o bloco ocidental, mesmo com tantos atos de guerra e sabotagem à paz mundial, imputa exclusivamente à Rússia a responsabilidade pelo belicismo na região, a despeito da invasão do Iraque, do Afeganistão, da Líbia e da Síria e da tentativa de desestabilização de vários países através das chamadas revoluções coloridas. Essa retórica seria risível se não fosse a expressão de um processo trágico. Aliás, o simples fato de a OTAN não ter sido extinta após o fim da URSS mostra de modo eloquente sua finalidade: a ampliação do belicismo imperialista estadunidense pelo mundo, com mais de 700 bases militares em todos os continentes, o maior orçamento militar do planeta e uma estrutura de inteligência sempre disposta a golpes de Estado e derrubada de governos.

A Rússia é hoje um país capitalista, com uma burguesia que tomou de assalto o patrimônio dos trabalhadores construído ao logo de mais de 70 anos, tem pretensões expansionistas e exerce forte repressão contra a classe trabalhadora russa. Além disso, o governo russo exalta, internamente, um discurso chauvinista que remete à Grande Pátria ou Grande Mãe Russa, discurso esse também reacionário. Não na mesma escala, mas de forma idêntica, as burguesias russas ligadas aos negócios de guerra têm se aproveitado dessa guerra para ampliar seus empreendimentos e influência, inclusive em outras partes do mundo, como nas recentes sublevações na África ocidental. O Grupo Wagner, composto por mercenários de extrema direita, serve de “testa de ferro” para o bilionário mercado vinculado à máquina de guerra.

Ou seja, se o imperialismo estadunidense continua sua antiga estratégia de reverter as tendências do declínio da acumulação de capitais por meio da indústria da guerra, a burguesia russa aprendeu rapidamente a aplicar essa mesma estratégia com objetivo de consolidar seu posicionamento tanto na exploração dos trabalhadores russos, quanto na exploração de riquezas de outros povos além de suas fronteiras.

Por sua vez, a Ucrânia, que era um país industrializado, se desindustrializou e está sendo dominada por grupos oligárquicos e corruptos, que levaram o país à pobreza e incentivam ideologias fascistizantes tanto na sociedade quanto no exército, valendo-se para isso do estímulo ao sentimento antirrusso, reforçado há anos pelas frequentes ações militares perpetradas pelo Estado ucraniano contra a população de origem russa. Além disso, o governo da Ucrânia colocou na ilegalidade os comunistas e diversas forças progressistas e democráticas.

Os comunistas são contra a guerra, porque a guerra não interessa à classe trabalhadora. Nesta guerra, particularmente, consideramos que as tarefas dos comunistas, internacionalmente, são:

1. Denunciar as ações do imperialismo estadunidense, da OTAN e da União Europeia, que atiraram a região nas mãos do fascismo e da reação, com o objetivo de mitigar a crise que atravessam e manter sua influência imperialista no mundo.

2. Conclamar os trabalhadores e as trabalhadoras dos países membros da OTAN a lutar pela saída de seus países dessa organização imperialista, por sua dissolução e um futuro de paz para todos os povos.

3. Denunciar a hipocrisia e o oportunismo da burguesia russa e de seu Estado, que se valem da defesa das populações etnicamente russas como uma oportunidade para a anexação territorial de parte da Ucrânia e a expansão dos negócios de guerra vinculados aos grupos mercenários com estreitas relações com o Kremlin.

Como comunistas, acreditamos que nenhuma burguesia de nenhuma nação trará aos explorados um mundo de paz e progresso social. Por isso, conclamamos o proletariado russo e o ucraniano a ajustarem contas com as frações nacionais da burguesia nesses países, assim como reafirmamos nosso compromisso com a luta do proletariado mundial pela superação do sistema capitalista e a construção do socialismo, no rumo do comunismo.

Trabalhadores de todo mundo, uni-vos!

Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro (PCB)