Ucrânia: eleições fraudulentas mantêm regime antipovo

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A vitória de Volodymyr Zelensky, um ator popular e comediante, no segundo turno da recém encerrada eleição presidencial da Ucrânia, com mais de 73% dos votos, sobre Petro Poroshenco, o atual presidente do país – de direita -, causou surpresa e muitas dúvidas quanto ao futuro próximo da Ucrânia em todo o mundo. Zelensky não tinha uma carreira política efetiva, não apresentou um programa de governo claro e, ao longo da campanha, divulgou opiniões e propostas pouco definidas sobre os grandes temas que interessam ao país. Pode ter feito o papel, o mesmo que foi exercido por candidatos em eleições recentes, em outros países, nos últimos tempos, de um candidato “antissistema”, que captou votos de insatisfação geral do eleitorado.

Para Petro Symonenko, Secretário Geral do Partido Comunista da Ucrânia (PCU), em entrevista a GolosUA, de 22 de abril de 2019, os ucranianos não votaram em Zelensky, mas contra a política de Poroshenko”. Para Symonenko, os cidadãos votaram contra as políticas do atual governo e, em particular, contra as reformas sociais e econômicas realizadas e pelo fato de que a Ucrânia está sendo controlada de fora. Foi um voto, para o Secretário Geral, contra os grupos paramilitares ilegais que têm sido usados pelo governo para a repressão psicológica, para asfixiar as oposições e dissidências. Além disso, para ele, os ucranianos estão fartos da falta de liberdade de opinião e de debate político na sociedade.

Em pronunciamento às vésperas da eleição, veiculado pelo Partido Comunista Francês, Symonenko referiu-se ao pleito como “uma escolha sem escolha”. Para ele, a campanha presidencial foi originalmente destinada a manter no poder “o regime de fantoches, oligarcas, neonazistas e criminosos criados após o golpe armado, de extrema direita, de 2014”. Os chamados “novos chefes”, os que saíram da lista de candidatos, eram apenas, para ele, as novas máscaras dos mesmos oligarcas”. O contexto ucraniano é de explosão da desigualdade ainda crescente entre uns poucos ricos e milhões de pessoas comuns que estão lutando para fazer face às despesas quotidianas. Há também uma grande divisão do país em muitos outros aspectos. Na política, o conflito entre a proximidade histórica com a Rússia e o desejo de muitos em aproximar-se da União Europeia; na Ucrânia muitos têm no russo a sua primeira língua, e não o ucraniano; há ainda uma divisão na Igreja Ortodoxa. Nessa eleição, essas divisões afloraram e se ampliaram.

Symonenko avalia que a situação é muito grave e que nenhuma das questões-chave que afetam as pessoas comuns será resolvida com facilidade. É por isso, diz ele, que o candidato do Partido Comunista, em clara violação da Constituição e sob a lei discriminatória de “descomunização”, foi proibido de concorrer, ao mesmo tempo em que as candidaturas de forças neonazistas e neofascistas foram registradas sem nenhum problema pela comissão eleitoral.

O Secretário Geral do PCU analisa o comportamento dos candidatos da oligarquia: para ele, em cada eleição, os partidos da oligarquia jogam com as exigências justas e as expectativas populares, usando palavras de ordem dos comunistas, como segurança no emprego e aumentos salariais, mais saúde e educação de qualidade acessíveis, preços públicos justos, igualdade entre as línguas maternas – russo e ucraniano – combate à discriminação étnica, religiosa e ideológica. Symonenko conclui com a constatação de que, como a experiência demonstrou, “eles esquecem tudo isso imediatamente após a votação”.

E nessa última eleição não foi diferente. Ao analisar o discurso dos candidatos, Symonenko entende que não será interrompida a guerra civil no Donbass (na região da Crimeia, onde forças de oposição ao governo da Ucrânia, apoiadas por voluntários russos, declarou independência em 2014. Está em discussão, no Parlamento local, uma proposta de anexação da Crimeia à Rússia que tem apoio majoritário da população). De igual formas, as reformas econômicas – que são o caminho de suicídio para a Ucrânia, pois seguem diretamente as prescrições do FMI e do Departamento de Estado dos EUA – terão prosseguimento, atendendo aos interesses das multinacionais e penalizando a saúde, as aposentadorias, a educação pública e os interesses populares em geral. Com base nos discursos dos candidatos, para Symonenko, a política “russofóbica” não será mitigada, embora, de acordo com pesquisas recentes, mais de 57% dos ucranianos tenham uma boa ou muito boa opinião sobre a Rússia e 77% tenham uma boa ou muito boa visão sobre os russos. Assim, não é de se esperar qualquer progresso no sentido do restabelecimento de relações de boa vizinhança com a Rússia. E, com base em recentes declarações de Zelensky, elogiosas a um histórico colaborador nazista (Stepan Bandera, 1909-1959, político nacionalista), o processo de fascistização da sociedade não vai parar. Os dois candidatos que disputaram o segundo turno receberam o “OK” dos Estados Unidos para governar. Para Symonenko, a Ucrânia está condenada a ser uma neocolônia e também uma “cabeça de ponte” nas fronteiras com a Rússia e a União Europeia, a serviço do projeto de dominação mundial dos EUA.

No entanto, o Secretário Geral espera que, nas próximas eleições parlamentares que serão realizadas em outubro, a mobilização popular avance e derrote a oligarquia e suas marionetes, e os bandidos a seu serviço possam ser postos para fora do país. Symonenko encerrou a entrevista reafirmando os compromissos de luta do PCU e indicando que os comunistas ucranianos farão todo o esforço para que a oligarquia seja derrotada.

Secretaria de Relações Internacionais do PCB

Fonte: https://golos.ua