A guerra esquecida que pode incendiar o mundo

imagemCrédito: Giampaolo Rossi

Humberto Carvalho

A GUERRA ESQUECIDA QUE PODE INCENDIAR O MUNDO

Em abril deste terrível ano de 2021, completam-se sete anos de guerra entre a Ucrânia e as Repúblicas Populares de Donestk e Lugansk, da região de Donbass.

Donbass é uma região rica em energia, situada ao leste da Ucrânia, na fronteira sul da Rússia.

Devido a esses longos sete anos de duração e por estar localizada em uma região afastada do “brilho ocidental” e, ainda, porque a Ucrânia é dominada pela extrema-direita corrupta e sanguinária cuja manutenção no poder (não só na Ucrânia) interessa ao império norte-americano, o Mundo parece ter esquecido essa tragédia que vive o povo de Donbass.

O motivo da guerra foi a separação dos oblasti (significa regiões, em russo, equivalentes aos nossos estados-membros) de Donetsk e Lugansk, que proclamaram sua independência da Ucrânia, denominando-se repúblicas populares e se uniram numa confederação, a Konfederatyvnaya respublika Novorossiya (República Confederativa da Nova Rússia) ou Soyuz Narodnik Respublik (União das Repúblicas Populares).

A independência de Donbass surgiu como uma reação ao golpe oligárquico e neonazista ocorrido em Kiev e, em grande medida, incentivado pelas células locais do Partido Comunista e do Partido Socialista Progressista, ambos da Ucrânia, derrotando o Partido da Região, que apoiava o golpe de estado perpetrado em Kiev.

Os acordos de Minsk reduziram a dimensão da guerra. Mas foi uma redução hipócrita porque a Ucrânia, dominada pelos neonazistas, rompia seguidamente esses acordos e investia contra o povo rebelde de Donbass, destruindo casas, fábricas, aeroporto de Donetsk, escolas, universidades e, por óbvio, matando crianças, mulheres, idosos e militares.
Porém, esse quadro tende a mudar para pior.

A Ucrânia, de longa data, vem se preparando para uma grande ofensiva, visando a derrota militar e política dos rebelados de Donbass.

Realmente, com o apoio dos Estados Unidos e alguns de seus aliados, a Ucrânia tem um plano de fortalecer seu exército para tomar de assalto as Repúblicas Populares.

Em 2019, segundo o site da ABC News, a administração Trump aprovou a venda de 39 milhões de dólares de armas letais “defensivas” à Ucrânia. Aprovou, também, a soma de 400 milhões de dólares para serem aplicados em assistência militar à Ucrânia. Faz parte desse pacote belicista a entrega de armas anti-tanques Javalin, 150 mísseis e duas plataformas de lançamento de mísseis (confira em https://abcnews.go.com/Politics/trump-admin-approves-sale-anti-tank-weapons-ukraine/story?id=65989898).

A Ucrânia, também, comprou os Bayraktar drones da Turquia que fizerem um “sucesso” na guerra do Azerbaijão com a Armênia pelo Nagorno-Karabakh ( veja em https://www.trt.net.tr/portuguese/economia/2019/01/13/presidente-da-ucrania-acordo-sobre-a-importacao-de-drones-da-turquia-1124467).

Como se não bastasse, em 3 de março deste ano, já na administração Biden, foi anunciado, pela Euronews, que o Pentágono aprovou um pacote de ajuda militar de 125 milhões de dólares para a Ucrânia, que inclui treino militar, equipamento e consultoria para, segundo os Estados Unidos, ajudar Kiev a preservar a integridade territorial do país, proteger as suas fronteiras e melhorar a articulação com a OTAN.

“Esta ação reafirma o compromisso dos Estados Unidos em fornecer armas letais defensivas para permitir que a Ucrânia se defenda de forma eficaz contra a agressão russa. Obviamente continuamos a incentivar a Ucrânia a continuar a implementar reformas para modernizar o setor de defesa, em linha com os princípios e padrões da OTAN”, salientou John Kirby, porta-voz do Pentágono (confira em https://pt.euronews.com/2021/03/02/pentagono-concede-ajuda-militar-a-ucrania-contra-a-agressao-russa).

Com a chegada de Joe Biden à Casa Branca, Washington promete fazer da Ucrânia uma de suas prioridades em termos de política externa, o que implica em aumentar a tensão com a Rússia.

Em 11 de março deste ano, o site Conflitos e Guerras publicou uma análise do especialista militar Oleksiy Valyuzhenich que dividiu as pretesões miltares, atuais, da Ucrânia, em duas fases: a primeira consistiria na utilização dos drones para localizar e destruir linhas de defesa terrestre e as defesas antiaéreas de Donbass. A segunda fase, consistiria na utilização de tanques apoiados por aviões para invadir e ocupar militarmente as repúblicas populares (veja em https://conflitosguerras.com/2021/03/o-possivel-cenario-de-guerra-em-donbass-no-leste-da-ucrania.html e, também, em https://corfiatiko.blogspot.com/2021/03/blog-post_775.html, este no idioma grego, mas com tradução para o inglês).

Diante dessa situação, o Presidente da República Popular de Donetsk, Denis Pushilin, afirmou : “as tensões aumentaram na linha de contato devido a fatores externos e internos nos últimos dias. Fatores externos incluem o presidente Biden dos Estados Unidos que tiveram uma influência direta sobre ‘Maidan’ e a derrubada do governo na Ucrânia. As razões internas são a difícil situação econômica e a crise política na Ucrânia”.

E acrescentou: “A tentativa de resolver o conflito de Donbass pela força será equivalente ao suicídio para a Ucrânia” (https://dan-news.info/en/world-en/dpr-head-calls-biden-s-policy-a-factor-behind-donbass-conflict-escalation.html).

As repúblicas populares rapidamente estão convocando o alistamento militar de pessoas, segundo suas leis, que podem servir nas forças armadas (veja em https://info-portal.com.ua/2021/03/10/zhiteli-luganska-alchevska-i-perevalska-massovo-poluchayut-povestki-iz-voenkomatov/, está em russo, com tradução para o inglês).

A Rússia tenta apaziguar os ânimos, sugerindo à Ucrânia que negocie, diretamente com as Repúblicas Populares, o fim do conflito. Mas, isso não interessa à Ucrânia que exige a reintegração, ao país, dos territórios de Donbass.

Mas a Rússia não poderá abandonar os rebeldes de Donbass porque, em primeiro lugar, se o fizer, colocará em perigo a integração da Criméia ao território russo posto que se Donbass retornar à Ucrânia, a Criméia também poderá ser reclamada. Depois, militarmente, é importante para a Rússia ter, na sua fronteira um país independente da Ucrânia, pois uma eventual invasão da Ucrânia à Rússia teria de passar, primeiro, por uma invasão de Donbass, se o plano for invadir a Rússia pela fronteira sul do país de Putin.

Agora temos de nos perguntar: o que quer o império americano? Resposta: uma guerra contra a Rússia. Mas, não uma guerra direta – EUA x Rússia. E sim uma guerra que os americanos chamam de “proxy war” (guerra por procuração). Ou seja, a guerra americana contra a Rússia terá um “procurador” para fazer a guerra: a Ucrânia.

Porém, um conflito direto entre Ucrânia e Rússia levaria, inevitavelmente, a um conflito mundial, tendo em vista as políticas de alianças, militares principalmente, desses países. Imaginem uma guerra mundial quando o mundo sofre os efeitos funestos de uma pandemia.

Na guerra de 1914-1918, surgiu a Gripe Espanhola, uma pandemia que dizimou milhares de vidas, inclusive no Brasil, tão afastado, geograficamente, do cenário daquela guerra.

Uma guerra mundial nos dias de hoje, combinada com a pandemia que nos derrota, o que fará com a Humanidade?
LUTE PELA PAZ E POR VACINAS!