Kroton: monopólio da educação ataca o ensino público e a juventude
Por Raul Cruz*
A empresa Kroton, maior monopólio da educação no mundo, anunciou dia 23 a compra da Somos Educação, gerenciadora de grandes colégios, como o Anglo, e de editoras como a Saraiva e a Scipione. Com essa investida, a empresa — financiada por capital estrangeiro das potências imperialistas e por uma das famílias mais ricas do Brasil — escancara sua intenção de dominar não só o mercado das instituições de ensino superior (IES) privadas, mas também das de ensino básico, se configurando como uma grave ameaça aos estudantes e à juventude.
Na medida em que avançam os monopólios, avança também a mercantilização da educação, a militarização e a censura nas escolas — através de projetos nos moldes do “Escola sem Partido” — e a precarização do ensino público. E quem é a maior beneficiada por tudo isso? A mesma burguesia que é dona da Kroton, obviamente. Ela é que vai lucrar com a transformação de nossa juventude em pessoas esvaziadas de senso crítico, que se endividam para fazer uma faculdade e são submetidas aos mandos e desmandos dos patrões.
Aí mora a amplitude do problema. Não estamos falando de uma simples união de capitais — que por si só já é prejudicial — mas da passagem da formação do futuro proletariado para as mãos da mesma burguesia que o irá explorar em 3 ou 4 anos. É entregar a arma na mão do carrasco.
Devemos entender esse processo como parte de um movimento mais amplo. Desde a crise do capitalismo no final da década de 1970 e especialmente após a grande Crise de 2008, o capital vem buscando novas maneiras de aumentar suas taxas de lucro e seu controle sobre a classe trabalhadora. A imposição de um monopólio como esse é um ataque nas duas frentes: amplia os ganhos da Kroton, como grupo capitalista individual, e possibilita um maior poder ideológico sobre os trabalhadores, desde a mais tenra idade, favorecendo a classe burguesa como um todo.
Assim, combater fusões como essa não é sair em defesa de uma concepção vazia de “livre mercado” ou de um modelo de capitalismo sem monopólios, uma vez que estes são intrínsecos ao funcionamento do sistema, em sua fase monopolista e imperialista. Longe disso, é uma das frentes de combate principais dos comunistas e revolucionários, uma vez que já estão claros os efeitos negativos que recaem sobre o proletariado como um todo.
A questão da centralização do capital sempre foi um tema caro aos comunistas e à classe trabalhadora do mundo todo. O combate ao capital monopolista é uma das tarefas primordiais dos revolucionários. Vivemos na fase imperialista do capitalismo, em que essas fusões são a forma dominante de organização burguesa e raiz de profundas contradições — como aponta Lenin na sua obra “Imperialismo, etapa superior do capitalismo”. Quando se fala de educação, nossa força deve ser duas vezes direcionada ao combate, pelos motivos já citados.
A União da Juventude Comunista (UJC) sempre fez questão de deixar claro que os monopólios da educação são nossos grandes inimigos e que a juventude deve se organizar para atacar de forma sistemática e incisiva o poderio dessas grandes empresas. É papel de toda a esquerda revolucionária lutar para que a educação e as escolas passem a pertencer à classe trabalhadora e não ao grande capital.
O momento é de união em organizações combativas, que não se reduzam à prática da conciliação de classes e a projetos vagos na educação. Não podemos nos esquecer, nem por um minuto, que a força desses monopólios aumentou de forma estrondosa nos governos petistas com o apoio de todo o campo democrático-popular. Além disso, não podemos nos esquecer que não há um erro de cálculo nesse processo, mas sim é o funcionamento corrente do capitalismo e que, enquanto não superarmos o modo de produção capitalista, não superaremos a escola de orientação burguesa e capitalista, com todas as suas contradições. A saída é, como sempre foi, um projeto de educação socialista e popular para o país, como defendido pelo PCB e seus coletivos.
Em seu programa “Pão, Terra, Trabalho e Moradia” o Partido Comunista Brasileiro (PCB) deixa bem claro qual é a sua linha política. Devemos lutar pela “estatização de todo o sistema de ensino nacional, especialmente das universidades privadas e escolas particulares e nova regulação para as entidades confessionais, com a implantação de uma ampla reforma na educação que possibilite, no médio prazo, a criação de uma escola de qualidade para todos, da educação infantil ao ensino superior, além da pós-graduação. [Por uma] campanha nacional para a erradicação do analfabetismo no prazo de dois anos, utilizando-se dos métodos universalmente testados e exitosos em Cuba, na Venezuela e na Bolívia”.
Ou seja, um projeto revolucionário, consequente, que entregue para o povo e sob o controle do povo uma escola pública, estatal, laica, de qualidade e integrada a uma nova sociedade, socialista. Não hesitaremos até, com isso em mente e em punho, derrotarmos o projeto tecnicizante, explorador e mercantil da burguesia.
*Militante da UJC de São José dos Campos/SP