Combate comunista ao machismo de cada dia

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O machismo está profundamente enraizado no comportamento de homens e mulheres em nosso país. Não bastasse ser um padrão estrutural da sociedade capitalista, no Brasil é agravado por fatores sociais que remontam a época da colônia. É a cultura machista que permite todo tipo de abusos e assédios e que passam, muitas vezes, por comportamentos naturalizados. A constatação desses fatos não nos exime do forte comprometimento com a recusa e a luta para exterminá-los.

Como comunistas, somos os primeiros a lutar contra todo tipo de opressão, o que significa a luta cotidiana para combater o machismo e o assédio presentes no nosso próprio comportamento. Sem compreender isso não podemos ser comunistas. Entendemos que a naturalização desse comportamento faz com que muitos militantes continuem a assediar as mulheres sem, muitas vezes, se darem conta do que isso representa. Outras vezes, devemos constatar, os militantes se utilizam, conscientemente, de posições de poder para praticar assédio e reforçar o comportamento machista próprio dos prepostos do capital e que combatemos fortemente. Isso é inaceitável.

Uma mulher assediada sofre uma dor que ultrapassa qualquer dor física, pois seu ser é rebaixado à insignificância mais abjeta. Todo tipo de assédio machista provoca um sentimento de desprezo por si mesmas tão forte que muitas mulheres abandonam qualquer esperança de pertença consciente à coletividade e, na reificação e isolamento, desenvolvem todo tipo de doença que vai da depressão ao suicídio.

O feminismo classista que defendemos não significa, em absoluto, que a opressão machista a que estão submetidas as mulheres só será objeto de “resolução” com o fim do capitalismo, ou da sociedade de classe. Muito ao contrário, é na mudança imediata dos comportamentos machistas de todo tipo, principalmente dos e das militantes, que poderemos avançar na luta contra o capital. Sem essa transformação estaremos exercendo o cinismo típico da sociedade em que vivemos.

Assim como é inadmissível um comunista racista, esperamos que as mudanças comportamentais e subjetivas de todos nós militantes torne inadmissível um comunista machista. Quando constatamos ou somos informados de qualquer tipo de assédio praticado por militante, é nosso dever efetuar o combate.

O assédio sexual é um ato grave e deve ser punido. No entanto, o punitivismo próprio da sociedade burguesa não transforma nada, apenas finge resolver o problema aplicando uma pena ao infrator, infringindo um sofrimento a ele, sem que isso modifique em nada o seu comportamento. A lei de Talião – olho por olho – é sempre retomada nos momentos em que a crise social se estabelece e tem por consequência o agravamento da barbárie.

Nós queremos e estamos construindo um tipo de relação social diferente e que deve começar por nós mesmo. O erro cometido não pode ser aceito, no entanto, deve ser objeto de análise e tomada de consciência, o que chamamos de crítica e auto-crítica profundas e sinceras. Vale lembrar que autocrítica não pode ser confundida com o comportamento católico da confissão e penitência que, após o processo, libera a consciência do indivíduo para o novo pecado. Auto-crítica é um processo prático-consciente. Fazer uma auto-crítica é se comprometer em não mais cometer o erro e, acima de tudo, compreender porque errou, transformar-se a si mesmo no processo.

Como o machismo está tão profundamente enraizado no nosso ser social, é um dos comportamentos mais difíceis de ser transformado. Na maioria das vezes, o militante que cometeu algum assédio não entende que o que fez está errado e que se encaixa nessa categoria de comportamento que devemos combater.  É nosso dever fazê-lo compreender e o papel da formação é determinante para a construção de uma nova postura.

No caso do assédio sexual, abuso de poder e desvios comportamentais decorrentes do machismo, indicamos a leitura dos seguintes textos, como processo profundo de auto-crítica consciente:

SAFFIOTI, Heleieth. O poder do macho. São Paulo: Ed. Moderna, 1987.

SAFFIOTI, Heleieth.  Contribuição feminista para o estudo da violência de gênero.  http://www.scielo.br/pdf/cpa/n16/n16a07.pdf

DAVIS, Angela.  Gênero, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016.

Feita a autocrítica na prática, o(a) militante pode e deve reassumir suas atividades partidárias com o compromisso de correção do seu comportamento, sob pena de exclusão sumária dos quadros partidários.

Comitê Central do PCB