Cravando a bandeira americana em território brasileiro
Humberto Carvalho*
Em junho deste ano, o Brasil recebeu a visita do sr. Mike Pence, o Vice-Presidente dos EUA. Em agosto, foi a vez do sr. Jim Mattis, cujo apelido é “Cachorro Louco”, Secretário (Ministro) da Defesa americano ser recepcionado pelo governo brasileiro.
O que há por trás dessas “visitas” ocorridas tão celeremente?
Vários assuntos, entre eles, a necessidade de um “endurecimento” em relação à Venezuela e, certamente o mais significativo, “negociações” em torno da base de lançamento de foguetes aeroespaciais, localizado em Alcântara, no Maranhão.
O Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) foi criado em 1983, como uma alternativa à base de lançamentos de foguetes de Barreira do Inferno, no Rio Grande do Norte, cuja ampliação não é permitida, por motivos de segurança, em virtude do crescimento urbano ao seu redor.
Não é necessário dizer que o CLA é estratégico para o Brasil, não só do ponto de vista da segurança nacional, mas também do conhecimento e desenvolvimento científicos. Essa importância salta aos olhos de qualquer um.
O governo FHC tentou entregar Alcântara para os americanos, no que foi impedido pela comunidade científica e pelo Congresso Nacional e as negociações foram encerradas no governo Lula.
Agora, o governo entreguista de Temer se mostra disposto a ressuscitar os planos de FHC em relação a Alcântara.
As autoridades brasileiras e americanas alegam que, pelo fato de Alcântara estar próximo à linha do Equador, haveria economia de combustível para lançamentos dos foguetes, permitindo, assim, uma maior carga a ser transportada pelos veículos espaciais. Isso seria um trunfo para o Brasil negociar e um alento para a já combalida economia americana, apesar de possuir muita “gordura”, ainda, para queimar.
Mas todos nós sabemos da diferença entre o discurso e as reais intenções dos EUA. Eles possuem mais de 700 bases militares terrestres ao redor do Mundo, sem contar as frotas navais, com submarinos nucleares carregados de misseis convencionais e atômicos, espalhadas pelos oceanos e mares do planeta.
Os americanos possuem a base de Canaveral de onde lançam seus foguetes, visando a conquista do espaço cósmico. Seus aliados europeus possuem a base espacial de Kouru, na Guiana Francesa, também próxima à linha do Equador, que pode ser utilizada pelos americanos. Então, por que esse interesse em Alcântara?
Certamente, evitar que o Brasil desenvolva conhecimento e tecnologia aeroespacial capaz de torná-lo competitivo, nessa área, o que tornaria nosso país um líder na América do Sul no desenvolvimento de foguetes, satélites e naves espaciais. Devido ao corte de gastos do governo Temer, o programa aeroespacial brasileiro está parado e assim estamos nos atrasando nessa importante área científica.
Em 2011, Julius Assange, através do WikiLeaks, revelou que o governo dos Estados Unidos quer impedir a criação de um programa de produção de foguetes espaciais brasileiros. Por isso, as autoridades estadunidenses pressionaram parceiros dos brasileiros nessa área (como a Ucrânia) para não transferir tecnologia do setor ao país. A restrição dos Estados Unidos está registrada em telegrama que o Departamento de Estado enviou à sua embaixada em Brasília, em janeiro de 2009, onde escreve: “Não apoiamos o programa nativo dos veículos de lançamento espacial do Brasil. … Queremos lembrar às autoridades ucranianas que os EUA não se opõem ao estabelecimento de uma plataforma de lançamentos em Alcântara, contanto que tal atividade não resulte na transferência de tecnologias de foguetes ao Brasil”. Os Estados Unidos também não permitem o lançamento de satélites norte-americanos (ou fabricados por outros países mas que contenham componentes estadunidenses) a partir do Centro de Lançamento de Alcântara, “devido à nossa política, de longa data, de não encorajar o programa de foguetes espaciais do Brasil”, conforme outro documento confidencial divulgado.
Então, temos de repetir a pergunta relativa ao porquê do interesse americano em Alcântara.
Os EUA possuem base militares na Colômbia. Macri teria permitido a criação de uma base militar estadunidense na Patagônia , Argentina. No Paraguai, eles possuem um aeroporto na cidade de Marechal Estigarribia, localizado na região da tríplice fronteira que, também, domina o Aquífero Guarani, a maior reserva mundial de água doce. Segundo especialistas, as futuras guerras no mundo não serão mais pelo domínio do petróleo, mas pelo empoderamento sobre a água…
Porém, os yankees não possuem, ainda, bases militares no Brasil. O objetivo da conquista de Alcântara seria a criação de uma base militar americana naquela península maranhense. E como em todas as bases militares americanas situadas em territórios de outros países, as autoridades locais não exercem a soberania, e não vigoram as leis e os interesse nacionais e sim as leis e os interesses americanos. Isso acontecerá, no Brasil, se Alcântara for entregue aos americanos.
Com essa base militar em Alcântara, os americanos ademais de estarem perto, exercerem vigilância sobre a Amazônia e suas riquezas, poderão ter um sistema de controle sobre a América do Sul e sobre a África ocidental, ameaçando, não só a soberania dos países desses continentes, mas visando concretizar suas operações político-militares nessas áreas, ademais de terem mais um ponto de confrontação com a Rússia e a China.
Se isso se realizar, os americanos não sairão de Alcântara, como não saíram de Guantânamo, em Cuba.
É preciso pensar no futuro do nosso país e, assim, não permitir que se crave a bandeira americana no território brasileiro. Alcântara é nossa!
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
*Militante da Célula Internacionalista do PCB – Porto Alegre (RS)