Frente Ampla e Estratégia Revolucionária: questões preliminares

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Por Cezar Lucho

É compreensível a inquietação e dúvidas entre militantes e ativistas acerca de como construir a mais efetiva, ampla e massiva resistência aos ataques do governo Bolsonaro. Longe de me propor a resolver todos os impasses, creio que existem alguns pressupostos para desenvolvermos debates e ações mais qualificadas.

1 – A crise sistêmica do capitalismo continua e intensifica as contradições interimperialistas. O ciclo econômico aberto no final dos anos de 1970 e aprofundado em 2008 se caracteriza pela grande dificuldade de o capitalismo internacional valorizar capitais acumulados. A hegemonia neoliberal é extremamente eficiente no que tange à concentração das riquezas, fortalecendo a elite financeira transcional e burlando, em termos imediatos, a lei do valor para acelerar a acumulação de capitais. No entanto, apresentou resultados medíocres em termos de crescimento econômico. O centro dessa hegemonia ainda são os EUA e parte da Europa.

Concomitante a este processo, principalmente na periferia do sistema, aceleram-se formas ainda mais predatórias e expoliativas de acumulação: roubo de patentes, privatizações, assalto ao fundo público por parte do capital financeiro, expropriação de camponeses, indígenas e quilombolas, tráfico de drogas, armas, pessoas e comércio sexual. Em suma, no século XXI, para o capitalismo continuar a sobreviver, terá que produzir ainda mais bárbarie e eliminar conquistas civilizatórias. Em termos imediatos, o atual ciclo de acumulação se choca não apenas com os direitos sociais, mas, principalmente, com as liberdades democráticas formais.

2 – Nesse sentido, há a necessidade de a superestrutura jurídica e política se adaptar à estrutura econômica. Em nome do “combate à corrupção e ao crime organizado”, se estrutura todo um rearranjo institucional, já em curso nas últimas décadas, a fim de restringir as liberdades democráticas e legalizar o aumento da exploração e formas espoliativas de acumulação. No plano político, cresce a associação com o fundamentalismo religioso, grupos paramilitares e o tráfico de drogas e armas.

3 – O governo Bolsonaro é apenas a “ponta do iceberg” desta nova fase da dominação burguesa e imperialista em nosso país. Não é por acaso que os dois ministérios mais estratégicos do governo são o da economia e da justiça. Nesta fase, tendo como base a contradição entre capital e trabalho, afloram ainda outras contradições, como, por exemplo: imperialismo x soberania nacional, ultraliberalismo x liberdades democráticas, patriarcalismo x direitos das mulheres., etc.

4 – A frente ampla não é um dado da realidade. Infelizmente, pela desorganização e o baixo nível ideológico dos setores progressistas, a frente terá que ser construída e efetivada de baixo para cima. Nem velhas e degeneradas negociatas no parlamento nem a promoção oportunista de falsos heróis que se projetam acima de qualquer cosntrução coletiva serão capazes de frear a ofensiva devastadora em curso. É preciso articular e organizar a luta pelas liberdades democráticas e por direitos sociais no cotidiano, a começar por defender as liberdades das organizações populares e juvenis do povo brasileiro, como o MST, MTST, UNE, UBES, Sindicatos e Centrais Sindicais. Assim como é mais que necessário defender os direitos sociais, previdenciários e trabalhistas. Cabe a todos os revolucionários mais consequentes lutar pela existência dessa frente ampla para além das ilusões institucionais.

5 – Concomitante a esse processo, trata-se, no médio prazo, de construir uma nova hegemonia popular e proletária no interior dessa resistência. A atual hegemonia reformista e pequeno burguesa, ideologicamente associada a concepções pós-modernas de esquerda, já demonstrou sua insuficência em compreender e desenvolver táticas e estratégias de enfrentamento ao avanço da nova direita no Brasil e no mundo. Obviamente, para isso ocorrer, primeiramente devemos lutar para a existência de uma ampla e unificada resistência, massificar e refundar a democracia opéraria nos sindicatos, associações populares e estudantis, compreender e se inserir gradualmente entre os setores mais dinâmicos do proletariado do século XXI e construir uma contraofensiva ideológica anticapitalista e socialista.

São tarefas altamente complexas que se relacionam com objetivos de curto, médio e longo prazo. No entanto, saber contra quem e como lutar é um primeiro passo fundamental nessa conjuntura.

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