Cuba: Operação Verdade. 60 anos de luta contra a mentira

imagemPor Gustavo Espinoza M., sindicalista peruano participante do Fórum internacional de Jornalismo sobre a Operação Verdade, realizado em Havana, Cuba

Resumen Latinoamericano

Queridos amigos:

Na história humana, a verdade nasceu como antípoda da mentira, esgrimida como uma arma de combate. Cabe dizer – e é verdade – que a mentira é uma maneira de criar caos e confusão; e é, em boa medida, similar à violência.

Foi há 60 anos, em 15 de janeiro de 1959, que o congressista republicano Wayne Hays assumiu nos Estados Unidos a defesa dos capangas de Batista julgados em Cuba pela comissão de crimes hediondos. Foi esse fato o que bem poderia considerar-se o início da ofensiva ianque contra a Revolução Cubana.

Naquela data ele exigiu a redução da cota açucareira, sanções econômicas e até o desembarque de soldados norte-americanos na ilha do Caribe; reivindicando a impunidade dos assassinos da ditadura deposta. Essa torpeza alimentou uma gigantesca campanha desatada pela “Grande Imprensa” na América e no mundo. Não haviam se concretizado ainda medidas profundas de corte revolucionário em Cuba naqueles dias, mas isso não importava. Bastava que se tocasse um fio da imensa tela de sua dominação, para que viessem à luz todas as fontes de sua vontade predadora.

O mérito de Fidel foi perceber esse fenômeno de forma imediata. Isso explica a imensa mobilização de 21 de janeiro em Havana e a coletiva de imprensa oferecida pelo Governo de Cuba para quase 400 jornalistas, a fim de denunciar os fatos. No dia 24, deu início à OPERAÇÃO VERDADE, que recordamos hoje. Na sequência, deu-se toda uma série sucessiva de acontecimentos.

A campanha contra Cuba, ao longo dos 60 anos transcorridos desde então, tem movimentado um conjunto de mentiras e farsas. Isto chegou a extremos irracionais como quando se estimulou a fuga de cérebros, se impulsionou a Operação Peter Pan, se executou Playa Girón, se acirrou a tensão mundial com a Crise dos Mísseis, em outubro de 1962 e se implementou o bloqueio genocida que ainda se mantém até hoje. Do começo ao fim, foi a mentira a peça principal da campanha contra Cuba, não apenas nos Estados Unidos, mas em todo mundo.

A imprensa peruana –alentada pela SIP e financiada por poderosos grupos econômicos – se somou a ela com muito empenho. Em 1959 o diário “La Prensa”, porta voz dos Exportadores, desatou uma caluniosa ofensiva contra Cuba com o tema dos “fuzilamentos”. Foi uma maneira de encobrir o fato de que combatia um processo porque afetava os interesses da classe dominante e do Grande Capital. Essa campanha foi liderada não apenas por esse diário. “Ultima Hora”, “La Crónica”, “La Tribuna” –o diário da APRA – e até “El Comercio”, que então luzia um certo verniz patriótico se somando à campanha pela Nacionalização do Petróleo, reproduziram o ritmo monocórdio de todas as mentiras da imprensa mundial contra a Revolução Cubana. No extremo, anunciaram com regozijo a queda do governo cubano em Girón, a morte de Fidel, o desaparecimento de “Che” e outras truculências bem pagas.

Durante 60 anos a imprensa peruana não tem deixado de mentir contra Cuba. “o racionamento”, “as pessoas que morrem de fome”, “a democracia fuzilada”, “a ditadura sinistra”, “o Império dos Castro” tem sido a cada dia as manchetes dos meios de comunicação a serviço do Império e da classe dominante. E, claro, nos anos da ”Guerra Fria”, esta ofensiva da imprensa foi ainda mais agressiva. Nada indignava mais a imprensa peruana que constatar a amizade que unia a Cuba à União Soviética e outros países do mundo. Sonhava em vê-la solitária, a afundar no mar, para alegria e consolo da Casa Branca.

A debacle da URSS não atenuou esta ofensiva. Pelo contrário¸ a alimentou. Nas páginas dos diários, pelo rádio e pela TV, buscavam com afã divulgar a crise e saltavam de gozo pensando que “a queda do regime socialista” era questão de dias. Esfregavam as mãos e esperavam ansiosos pela notícia que nunca chegou. Contra todos os seus pronósticos, Cuba saiu vitoriosa. No Peru e no mundo, a “grande imprensa” não teve outra saída a não ser engolir cada uma de suas palavras. Porém, não renunciou à mentira como sua “arma de combate”.

O tema dos 5 Herois Cubanos prisioneiros do Império desde setembro de 1998, lhes deu carne para explorar por mais de 15 anos. Eles foram chamados de espiões, disseram que planejavam “atentados terroristas” nos Estados Unidos, que tentaram matar cidadãos indefesos, que conspiraram para impedir a “vitória democrática” em Cuba. Quando os acusados finalmente foram postos em liberdade porque eram inocentes, então se calaram de forma envergonhada. Já não tinham mais nada para dizer. Nunca, até hoje, voltaram a mencionar o caso.

Porém, a mentira seguiu reinando em seu discurso. Ela os levou a negar o que hoje reconhece expressamente o Banco Mundial: que Cuba tem a melhor educação da América Latina, que a política de saúde de Cuba é a mais eficiente do nosso continente, que os avanços científicos e tecnológicos alcançados por Cuba não têm sido obtidos por nenhum outro país de língua espanhola na América, que Cuba é o país mais seguro da região. Então a mentira, a mentira histórica que sempre urdiram contra Cuba a estenderam para todos os outros processos libertadores que ocorrem em nosso continente.

Nada disso nos surpreende. Eles mentem também todos os dias, quando falam dos problemas do nosso país. E apresentam os empresários não como exploradores, mas como “promotores do progresso”, e aos trabalhadores como “preguiçosos e improdutivos”. Dizem-nos, por exemplo, que a mineração é a fonte da riqueza e que nós somos um país minerador. Assim o fazem para que baixemos a guarda e permitamos que as grandes empresas do ramo, como Yanacocha ou Southern, levem nossas riquezas. Mas os peruanos sabemos que precisamente nas regiões em que essas e outras empresas operam é que abunda a pobreza e reina a miséria e a fome.

Em Oroya, por exemplo, o centro metalúrgico mais importante, 97% das crianças têm os pulmões afetados por chumbo. Recentemente, em Cerro de Pasco, denunciou-se que 85% das pessoas menores de 18 anos sofrem os efeitos da silicose, uma enfermidade produzida pela mineração. De resto, os rejeitos da mineração matam o gado, destroem o ecossistema e afetam letalmente a biodiversidade. Porém, a ”Grande Imprensa” assegura que tudo isso vale “pelo progresso e o desenvolvimento”. São as mesmas mentiras repetidas a cada dia com a secreta esperança de convertê-las em “verdade”.

Somos conscientes, então, de que isso ocorre em todas as partes. Por isso não cremos nunca no que dizem contra a Venezuela, ou contra a Nicarágua e contra a Bolívia. Sabemos que as coisas são exatamente ao contrário do que eles dizem. Quando dizem que nesses países as coisas vão mal, com certeza que estão bem. Quando asseguram que “já vai bem”, então foi porque cometemos erros e perdemos a batalha de forma transitória. Isso não haverá de acontecer em Cuba.

É muito importante que façamos este encontro, que intercambiemos impressões e experiências, que recapitulemos nossa própria história, porque a luta entre a vida e a morte é a luta entre a verdade e a mentira. Que a verdade é – e será sempre – a bandeira dos povos. E que a mentira é, e será sempre, a mais letal das armas dos poderosos. Por isso a luta pela verdade é, em nossa América, o pão de cada dia. Isso nos ensinou a experiência, e também o aprendemos com a “Operação Verdade”.

Havana, 22 de janeiro de 2019.

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/2019/01/26/cuba-la-operacion-verdad-60-anos-de-lucha-contra-la-mentira/

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