“Eu avisei”: notas sobre consciência de classe e unidade

imagemPor Antonio Lima Júnior, jornalista e militante da Unidade Classista no Ceará

Desde o início do governo Bolsonaro (PSL), a cada medida impopular que este governo tenta impor, vemos surgir nas redes sociais uma espécie de palavra de ordem, o famigerado “eu avisei”. Tal forma de posicionamento nos coloca diante de uma série de problemas sobre a ausência de tática concreta no conjunto dos movimentos sociais e descontentes em geral sobre como derrotar essas medidas, levando esse governo junto.

Em primeiro lugar, recordamos o processo de consciência de classe, que Marx definiu e que a tradição marxista continuou empenhada em compreender os processos que se localizam em “classe em si” e “classe para si”. Diante dessa movimentação entre ter consciência de que pertence a uma classe e ter consciência de que deve lutar para a sua classe, há um poço profundo que afirma que a consciência de classe não é algo estático, que pode inclusive regredir em capitulações, revisionismos e traições de classe.

Assim, cabe aos que estão percorrendo esse longo trajeto da consciência de classe sempre ter em mente e em suas ações que a sua condição de consciência não está consolidada, bem como as dos demais; e que é papel fundamental o exercício do ser coletivo, buscando formas de elevar a consciência de classe dos camaradas que ainda estão em um profundo grau de alienação.

Repetir fraseologias como “eu avisei” vão na contramão desse processo de conscientização, reafirmando uma falsa impressão estática, onde o indivíduo que “avisa” está num grau consolidado, quando na verdade está esquecendo da missão histórica coletiva e não individual a que está querendo abarcar. Essa afirmação também reforça o conceito difuso que foi empregado para os seguidores da família Bolsonaro, os “bolsominions”, que não distingue os trabalhadores iludidos, que nada são que consequência do processo de alienação do capitalismo, amargurados por anos de conciliação e descrédito na política, dos protofascistas organizados que estão nas franjas do governo, entre milicianos e setores conservadores da classe média.

Tal distinção é importante para entender quem são nossos verdadeiros inimigos e com quem devemos buscar trabalhar a consciência para somar na luta, pois, além disso, o aviso diverge daquilo que entendemos como unidade, visto que o inimigo em comum é a classe oposta e seus aparatos, no caso o governo. Se o inimigo é comum, temos o papel de aglutinar aqueles que estão pulando para o nosso lado, não os repelindo por não estarem conosco antes. Tal posição não passa de mero sectarismo purista que não compreende a conjuntura e suas mediações táticas.

A ausência de uma estratégia que tenha uma saída concreta acaba deixando no imaginário de muitos o simples imediatismo ou revanchismo de quem está acostumado ao modus operandi da política tradicional, acreditando que basta apenas trocar as peças que a crise do capitalismo será resolvida. Isso mostra o quão ainda estamos reféns de medidas conciliatórias, que não buscam a emancipação da consciência de classe dos trabalhadores e trabalhadoras. Mais importante que avisar, nesse momento, é somar o coro dos descontentes com um programa real que avance no grau de organização da classe trabalhadora.

Não podemos virar a página de décadas de conciliação com uma resposta purista e fajuta, mas sim com uma saída que traga a emancipação e a organização da classe. É preciso arregaçar as mangas e construir o poder popular, chamando todos para pensar a unidade na luta contra os desmontes, confluindo numa greve geral, único sinal de alerta que a burguesia teme no processo da luta de classes.

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