O idiota útil
Bolsonaro talvez seja o maior idiota útil da história do Brasil. Não é novidade a ignorância autodeclarada do atual presidente. Sem falar nos absurdos lógicos, políticos e científicos que vocifera como se fossem grandes virtudes. Ser um grande idiota é algo que todos sabem que ele é, embora alguns insistam em não reconhecer para escamotear a própria idiotice.
A parte útil da expressão que dá título a esse texto talvez seja a mais importante. Útil a quem? Útil para quê? Formular questões e buscar respondê-las de forma racional está fora de moda no contexto atual, mas somos teimosos e não seguimos todas as tendências da moda.
Desde o início da sua vida política o atual presidente nunca hesitou defender métodos autoritários e a violência como práticas legítimas para eliminar qualquer tipo de oposição, mas foi com a campanha eleitoral que ficou claro a quem servia o “mito”. Falas como “ou o trabalhador tem emprego ou tem direitos” quando questionado sobre a reforma trabalhista já demonstravam claramente o compromisso com as elites econômicas e o total descaso com a população trabalhadora.
Uma vez eleito não titubeou em beijar as botas do presidente dos Estados Unidos Donald Trump, assinando acordos que não geraram nenhum benefício ao nosso país, pelo contrário, somaram-se prejuízos como no caso da redução das tarifas do trigo estadunidense que praticamente inviabiliza a produção do trigo nacional. Sem falar nos cortes gigantescos na educação, decretando a falência do ensino superior e dos projetos de pesquisa do país.
Enquanto isso, a proposta de reforma da previdência enviada ao congresso pretende economizar 1 trilhão de reais dos recursos que seriam destinados a benefícios e aposentadorias para cobrir o rombo do déficit público. Ou, em bom português, transferir recursos dos mais vulneráveis (idosos, pensionistas e enfermos) para garantir os recordes de lucratividade das instituições financeiras e bancos.
Porém, a expressão mais profunda da idiotice é o clima de rivalidade futebolística que tomou conta do cenário político brasileiro. As paixões falam mais alto do que qualquer interesse, possíveis ganhos ou perdas de direitos. Defende-se a corja do atual presidente como se fosse o time de coração que não ganha nada há anos, mas continua a ser o melhor que todos os demais ou é capaz de ir até as últimas consequências numa discussão com o vizinho por causa de uma partida de futebol que, na prática, não muda nada em suas vidas.
Por outro lado, grande parte dos indignados com a direção a que estamos sendo empurrados teimam em manter a postura de arquibancada, gritando e esbravejando nas redes sociais ou em rodas de conversas entre torcedores do mesmo time. Enquanto isso, o time adversário desfila em campo e soma vitória atrás de vitória diante de um adversário perdido e com boa parte do time no departamento médico.
No ultimo dia 15 de maio chegaram alguns reforços para o time dos trabalhadores. As centenas de milhares de pessoas nas ruas lutando pela educação pública e contra a Reforma da Previdência dão esperanças de virada de jogo. Mas um grande time não se faz somente com grandes jogadores, é preciso jogo coletivo, organizar as ações e ter bem claro aonde queremos chegar.
Por enquanto, o idiota segue em campo. Útil ao donos do time (bancos, grandes empresas nacionais e internacionais), segue marcando gols, mas está longe de ser o craque insubstituível. Sua idiotice é tão útil quanto descartável. No banco de reservas possíveis substitutos já pedem passagem. Como substituto imediato, o vice Mourão tenta se afastar do governo colocando-se como opção. O menino Maia sabe que não é cotado para a substituição, mas já se prepara para fazer parte de uma possível nova escalação do governo.
O inimigo segue jogando e apresentando as suas armas. A greve geral do dia 14 de junho pode ser um grande marco na virada de jogo. Resta saber quem mais está a fim de entrar em campo.