OS COMUNISTAS PARAGUAIOS, A ATUALIDADE E O FUTURO
Foi nos combates contra a ditadura terrorista de Stroessner e pelos ideais socialistas que os comunistas pagamos o alto preço do assassinato e desaparecimento de militantes e dirigentes, encarcerados por longos anos e torturados de modo selvagem.
O cumprimento, a realização e o avanço de mudanças a favor das maiorias trabalhadoras, têm entre suas causas fundamentais uma trajetória indeclinável e insistente dos comunistas, dos lutadores antiimperialistas de todos os setores sociais e políticos por um Paraguai novo e melhor.
Esta antiga e longa batalha pela liberdade e pela revolução conhece momentos culminantes nos quais os comunistas participaram na primeira linha de fogo:
* A greve geral operária que começou no dia 27 de agosto de 1958 por aumento de salários, pelas liberdades públicas e pelos direitos fundamentais dos trabalhadores, que foram arrasados pela ditadura terrorista de Stroessner. * O movimento estudantil e popular antiditatorial, de abril a maio de 1959, foi reprimido brutalmente pelo stronismo, determinando a ruptura de uma parte importante dos colorados com o ditador, de onde surgiu depois o Movimento Popular Colorado (MOPOCO). * A luta guerrilheira da Frente Unida de Libertação Nacional (FULNA) e do Movimento 14 de Maio, com centenas de heróicos combatentes e mártires que fecundaram gestos memoráveis, libertadores de nosso povo. * As históricas lutas das Ligas Agrárias pela terra, na década de 1970, com milhares de lutadores martirizados pela crueldade ditatorial. * Os reiterados esforços dos comunistas e revolucionários (como a Organização Política Militar – OPM) no desenvolvimento da consciência combativa do povo e da importância da unidade de todos os setores democráticos, progressistas e revolucionários para derrocar o regime ditatorial na década de 1980 e desenvolver um poder do povo. * As grandes mobilizações nacionais da juventude e dos estudantes de medicina e médicos do Hospital de Clínicas, as marchas do silêncio organizadas por Monsenhor Ismael Rolón, Chefe da Igreja Paraguaia, à frente dos religiosos progressistas e dos católicos contrários ao tirano Stroessner e seu grupelho militar e civil, beneficiário e servil do sistema ditatorial.
Golpe de 1989
Estas permanentes lutas populares criaram as condições para a derrubada do ditador Stroessner, em 2 e 3 de fevereiro de 1989.
O golpe militar sangrento, encabeçado pelos generais Andrés Rodríguez, Lino Oviedo, Regis Romero e outros, com a participação de dirigentes colorados cúmplices da ditadura como Luis María Argaña, se adiantou ao povo em luta e dissipou seus objetivos libertadores, derrubando o ditador Stroessner, mas instaurando um continuísmo ditatorial atrás de uma fachada democrática fraudulenta.
Iniciou-se então a chamada “transição democrática”, com fortes nostalgias autoritárias que obscureceram, com crimes contra os camponeses e contra o movimento popular, as liberdades conquistadas por nosso povo. Estas liberdades já obscurecidas foram presas com a grossa corda do modelo neoliberal, posta no pescoço de camponeses e operários pela mão dos sucessivos governos continuístas e entreguistas que se puseram à disposição do imperialismo ianque, para cantar em uma só voz a lúgubre e aterrorizante música neoliberal. Esta ia deixando sem terra os camponeses, sem emprego os trabalhadores – no melhor dos casos, empregos informais sem segurança social e sem estabilidade no trabalho-, com cada vez menos educação e saúde públicas e gratuitas para nossa população, e com uma crescente delinquência, produto do todo mencionado acima, somado à perversão generalizada através do individualismo competitivo e anti-solidário a favor da lógica do consumo e do salve-se quem puder.
Contra todo este modelo os povos latinoamericanos começaram a se rebelar. Com os triunfos eleitorais de Hugo Chávez na Venezuela (1998, 2000 e 2006), Ricardo Lagos no Chile (2000), Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil (2002 e 2006), Néstor Kirchner na Argentina (2003), Martín Torrijos no Panamá (2004), Tabaré Vázquez no Uruguai (2004), Evo Morales na Bolívia (2005), Michelle Bachelet no Chile (2006), Daniel Ortega na Nicarágua (2006), Rafael Correa no Equador (2006), Cristina Fernández na Argentina (2007) e Álvaro Colom na Guatemala (2007), deixaram bem claro seu natural rechaço à política de extermínio popular desenvolvida pelo neoliberalismo em toda América Latina. Se bem, é certo, que muitos destes governos, por diferentes motivos, não têm superado o neoliberalismo e em alguns casos significam desilusão e traição ao movimento popular, que trabalhou por seus triunfos. Também é certo que desde meados dos anos 1990 os povos têm iniciado um processo de reorganização e de luta permanente para dirigir seus destinos.
É dentro deste contexto que em 20 de abril de 2008 começa a se fechar e superar esta “transição democrática” mentirosa, e se abre o caminho para um processo de mudanças democráticas e libertadoras. Os comunistas e os revolucionários lutamos para orientar este processo rumo ao socialismo, à sociedade dos trabalhadores, livre da exploração capitalista.
Aprofundamento democrático
Os comunistas identificamos que está ameaçado o projeto e o programa de mudanças, pelos quais o povo lutou e votou para chegar à vitória do dia 20 de abril, contra a “transição continuísta” e o populismo. Está ameaçada a Reforma Agrária, o aprofundamento democrático, a recuperação da soberania energética, a luta pela recuperação das liberdades sindicais e as conquistas trabalhistas.
Há uma evidente conspiração da qual participam inclusive membros do Poder Executivo, como tem sido denunciado e é visível a olho nu. Este é, por exemplo, o caso do vice-presidente Federico Franco, grande inimigo do processo de mudanças. Concessões e erros do Poder Executivo se expressam em várias ações que contrariam as promessas de mudanças democráticas prometidas por Lugo.
As operações militares, policiais e judiciais em San Pedro apresentam caráter negativo para o avanço do processo democrático. Também é contra-revolucionário o “Plano Umbral”, de intervenção estadunidense nas nossas questões internas, com o pretexto de combater a corrupção, e o chamado “Plano Anticrise”, prendendo o Paraguai ao intercâmbio comercial ianque e mundial na crise global.
Entretanto, a confirmação de corrupção no aparato estatal herdado, o combate à mesma por parte de alguns secretários de Estado, os esforços para aplicar a gratuidade à saúde, as firmes posições de Lugo nas negociações a favor de nossa soberania energética e o combate frontal que o mais decrépito setor da oligarquia paraguaia está fazendo ao governo, nos colocam a necessidade de participar na defesa do processo de mudança, o que implica defender a vitória popular do dia 20 de abril contra qualquer tipo de intenção golpista ou desestabilizadora. Não permitiremos que nos tirem Lugo.
Assim como questionamos as posições antipopulares do Governo e apoiamos as medidas a favor das maiorias, não hesitaremos em lutar pela defesa do processo de mudança ameaçado hoje pelos vendepatrias, traidores insaciáveis, mesquinhos e criminosos de sempre.
Os comunistas somos e seremos fiéis à trajetória combativa e ao exemplo que nos deixaram nossos heróis e mártires.
A atualidade é de luta irrenunciável pelo projeto e pelo programa de mudanças progressistas e libertadoras que triunfou na eleição de 20 de abril de 2008, de transcendência histórica.
O futuro socialista do Paraguai será seguro sempre e quando o movimento popular revolucionário marche em direção à unidade, preservando sua independência, e os comunistas – juntamente com os companheiros revolucionários – preservemos nossa identidade democrática, patriótica e socialista dentro do amplo movimento popular.
Lutar pela unidade popular necessária para o aprofundamento do processo de mudança!
Pela soberania nacional e pelo socialismo!
Viva o 81° aniversário do glorioso Partido Comunista Paraguaio!
Asunción, 17 de fevereiro de 2009.
(tradução Roberta Moratori)