FSM: A esperança reside nas nossas lutas
A OIT, antes e depois
por George Mavrikos*
Caros amigos, colegas, senhoras e senhores,
Completou-se este ano o centenário da fundação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), e esta é uma oportunidade para fazer uma avaliação objetiva, a partir da perspectiva da Classe Operária Mundial. Para tirar as verdadeiras conclusões, por parte do movimento sindical militante. Para avaliar os resultados.
Acreditamos que a história da OIT está dividida em dois períodos principais. Da sua fundação até 1990 e de 1990 até hoje. No primeiro período, desempenhou, em geral, um papel positivo e muitas vezes funcionou como um mecanismo de proteção dos direitos dos trabalhadores. As correlações de forças internacionais beneficiaram e apoiaram o papel da OIT, com a ação decisiva da União Soviética, da República Popular da China, de muitos outros países socialistas e do Movimento dos Países Não Alinhados. Essas favoráveis correlações tiveram do seu lado um importante aliado. O movimento sindical militante, com papel de liderança, na altura, da Federação Sindical Mundial. Tinham também do seu lado as grandes lutas de classe de todos os trabalhadores.
Os sucessos na institucionalização de notáveis conquistas, como acordos coletivos de trabalho, previdência social, gastos sociais, melhores salários e condições de trabalho das mulheres trabalhadoras, tempo de trabalho, aumentos salariais, progresso das liberdades democráticas e sindicais, foram o resultado dessas circunstâncias. Os sindicatos desenvolveram-se em todos os cantos do planeta.
Não importa a quantidade de tinta que está sendo derramada pelos modernos caluniadores, sempre a verdade prevalecerá.
Após as derrotas de 1989-1991 e das mudanças ocorridas, a situação e o papel da OIT, assim como de todas as organizações internacionais, também mudaram.
Nestes dias, aqui, na Conferência anual, ministros e primeiros ministros chegaram, usaram palavras grandiloquentes e promessas vazias e tentaram apresentar uma imagem virtual da realidade.
Antes de 1990, os patrões não queriam ouvir falar da OIT. Agora, consideram-na sua aliada e amiga. Por quê? Todos devem pensar e, por si próprios, dar a resposta.
Mas, sejam quais forem as palavras de algumas pessoas, a verdade está nos locais de trabalho, onde os trabalhadores sofrem com a violência e o autoritarismo do Estado, com o desemprego e as demissões, com o trabalho informal, com as privatizações, com a pobreza e a barbárie capitalista. A verdade está no mar Mediterrâneo, onde mães e crianças estão sendo afogadas no seu esforço para escapar da agressão imperialista.
Esta imagem também é o resultado do papel desempenhado pela OIT e da situação atual das lideranças do movimento sindical.
Desde 1960, o bloqueio contra Cuba continua. O que fizeram as organizações internacionais?
Em Soma, na Turquia, em 13 de maio de 2014, 301 trabalhadores foram mortos. O que fizeram as organizações internacionais?
Na fábrica de Rana Plaza, no Bangladesh, em 24 de abril de 2013, 1.132 meninas e mulheres foram assassinadas. O que fez a OIT?
Na Colômbia, nos últimos três anos, 600 militantes sindicais foram assassinados. Quem foi punido por esses crimes?
No Chile, o governo mina, com métodos antidemocráticos, o funcionamento independente do CAT. O que fez o gabinete responsável da OIT?
O que fizeram as organizações internacionais para proteger os trabalhadores da Palestina, da Síria, do Iraque e do Iêmen dos imperialistas? Só palavras. É este o quadro.
Hoje, os Chefes de Estado vieram aqui e disseram-nos que o preto é branco. O Sr. Macron – que ataca e agride os manifestantes, que demite 1.000 trabalhadores da central de carvão de Gardanne, de cujo partido o deputado Mohamed Laqhila ameaça fechar o funcionamento do Centro Sindical da UD CGT 13 – veio aqui há alguns dias e apresentou-nos uma falsa realidade. O Sr. Macron e a Sra. Merkel veem hoje a OIT como um mecanismo ideológico a favor das suas políticas. Esta é a verdade. Esta é a imagem real. Ao mesmo tempo, fortalecem os fenômenos do neofascismo e da xenofobia com as suas políticas antitrabalhadores.
Este quadro só pode, e deve, ser mudado pelos trabalhadores de hoje, com as suas lutas unitárias de classe. Fortalecendo os sindicatos na base. Melhorando a democracia sindical. A esperança está nas nossas lutas.
04/Outubro/2019
[*] Secretário-Geral da Federação Sindical Mundial (FSM). Intervenção na 108.ª Sessão Plenária da Organização Internacional do Trabalho
O original encontra-se em www.wftucentral.org/… e a tradução em
pelosocialismo.blogs.sapo.pt/intervencao-na-108-a-sessao-plenaria-da-77565
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/