SOBRE A OPERAÇÃO CASTAWAY E LANÇA FOGUETES RPG-7 EXTRAVIADOS

Durante os últimos dois anos e meio, Honduras se converteu aceleradamente num dos países mais violentos e inseguros do mundo. Entre 2009 e 2011, o índice de mortes violentas se duplicou e as violações aos direitos humanos aumentaram constantemente. O Estado e a Sociedade hondurenha estão atolados na pior crise de sua história, em matéria de segurança pública, agravada pelo alto nível de impunidade no Sistema de Justiça, que coloca claramente o fato da decomposição vir se acumulando há muitos anos.

O aparato responsável por promover justiça e colocar em prática todo o sistema desenhado com o intuito de dar proteção e garantir a segurança dos habitantes, parece impotente ou desapareceu do cenário nacional. Em geral, o Estado não mostra a fortaleza necessária no momento em que a sociedade mais necessita.

Estes fatos, tão preocupantes como inegáveis, possuem como denominador comum a circulação, em território hondurenho, de armamento de grande poder, com alto potencial para uso criminoso, sem que até agora se faça algo para localizá-lo, nem para alertar a população acerca do perigo latente que encerra sobre ela.

O governo norte-americano admitiu publicamente a entrega de umas mil armas de grosso calibre para grupos de perigosos delinquentes, mediante a operação “Castaway”, versão para nosso país de “Velozes e Furiosos”. Ambas são manobras ilegais e encobertas pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, através de sua Agência contra o Álcool, Tabaco e Armas – ATF (a mesma que determinou que o incêndio do presídio de Comayagua foi um acidente).

Às operações anteriores se soma o extravio de armamento de alto poder destrutivo (RPG–7) dos arsenais das Forças Armadas há quase dois anos, sem que suas líderes, até a presente data, tenham conseguido emitir uma explicação razoável sobre este fato, com a exceção de um breve comunicado feito pela imprensa da Secretaria de Defesa, em 7 de fevereiro do ano em curso, no qual encontramos mais razões de preocupação que esclarecimentos. No mesmo se afirma que se extraviaram apenas canhões, não as ogivas e que, portanto, não existe perigo algum, abordando com rapidez o assunto de importância nacional.

As armas, foguetes RPG-7, constituem um conjunto de alto poder explosivo, portátil, de alta mobilidade, que pode ser operado por uma única pessoa, perfurar lâminas de meio metro de grossura e alcançar objetivos até meio quilômetro de distância. O mesmo foi utilizado em vários cenários bélicos no mundo, desde a década de 1960.

Também chama atenção o desenvolvimento de um padrão midiático, que repete com oportuna periodicidade o extravio deste poderoso armamento. Assim como a falta de racionalidade no processo de resolução, nos leva a pensar que “poderia” existir um plano elaborado que implicaria a utilização destas armas com fins incertos, contra a população civil inocente.

Fundamentados nas evidências, consideramos imperativo que o Presidente Porfirio Lobo Sosa, Comandante Geral das Forças Armadas, peça explicações precisas sobre a operação Castaway ao vice-presidente dos Estados Unidos, senhor Joe Biden, em sua visita à Tegucigalpa, na terça-feira, 6 de março, demandando a ação urgente do governo dos Estados Unidos, indicando os responsáveis pela transferência no solo hondurenho e o paradeiro final destas armas; ordenando a quem corresponda apresentar um informe detalhado do acontecido, e se implementem as ações até eliminar de forma definitiva a ameaça, garantindo que este arsenal não seja utilizado contra a sociedade hondurenha.

Nos planos de depuração dos órgãos de segurança e justiça do Estado de Honduras, obrigatoriamente se devem incluir estes graves problemas, assim como a proteção preventiva das vítimas potenciais e a reparação aquelas que já estão sendo afetadas. Esta é uma responsabilidade do Estado de Honduras que não deve ser evitada.

Tegucigalpa  3 de março de 2012

José Manuel Zelaya Rosales

Coordenador Geral do Partido Liberdade e Refundação

Tradução: Maria Fernanda M. Scelza (PCB)