Israel quer a anexação da Cisjordânia
Jorge Cadima
ODIARIO.INFO
O poder sionista em Israel, sempre com o apoio dos EUA, pretende avançar com a anexação formal de quase um terço da Cisjordânia. Trata-se de uma machadada – que Israel e Trump-Pompeo desejam definitiva – na viabilidade de um Estado Palestiniano, que rasgaria décadas de promessas de resoluções internacionais e mesmo de acordos assinados por Israel e EUA. Um novo crime a somar a já tantas décadas de ocupação e genocídio. Como vem sendo habitual, o Governo Português e o seu cada vez mais inqualificável MNE envergonham o país com o seu silêncio cúmplice. É necessária toda a solidariedade ao povo palestiniano!
O Programa do novo governo de Israel prevê a anexação formal de quase um terço da Cisjordânia, território palestino que, segundo inúmeras resoluções internacionais, deverá integrar o Estado a que o povo palestino justamente aspira. O governo de Netanyahu pretende concretizar a anexação já a partir deste mês. Seria uma machadada – que Israel e Trump-Pompeo desejam definitiva – na viabilidade dum Estado Palestiniano. Os territórios a anexar retalham a Cisjordânia em pequenas ilhotas, como os velhos bantustões do apartheid na África do Sul. Incluem a bacia do Rio Jordão, que separa a Palestina da Jordânia, enclausurando a Cisjordânia e impedindo o seu acesso direto ao exterior.
A realidade da Cisjordânia nunca deixou de ser a da ocupação, nem mesmo após a criação da Autoridade Palestina na sequência dos Acordos de Oslo de 1993. Cerca de 60% do seu território faz parte da chamada Zona C, que Oslo previa que permanecesse sob controle militar direto de Israel (como aconteceu) até à conclusão do processo de negociação (que nunca aconteceu). Mais de 22% da Cisjordânia faz parte da Zona B, formalmente sob «controle conjunto» de Israel (no plano militar) e da Autoridade Palestina (civil). Há já longos anos que não existe sequer a ficção de um ‘processo de negociação’ para concretizar as promessas da chamada ‘comunidade internacional’ ao povo palestino.
Mas a anunciada anexação é um momento de viragem. São abertamente rasgadas décadas de promessas de resoluções internacionais e mesmo de acordos assinados por Israel e EUA que, no papel, aceitavam a perspectiva de um Estado Palestino nos 22% do território histórico da Palestina ocupados por Israel na guerra de Junho de 1967. Contando com o permanente apoio dos EUA, hoje governados pela dupla Trump-Pompeo – autênticos serial killers de acordos internacionais – o governo israelense aproveita a conjuntura para formalmente declarar morta a chamada solução de dois Estados (Israel e Palestina) no território histórico da Palestina. Israel nunca esteve de boa fé nos processos de negociação. A construção dos ilegais colonatos israelitas e do Muro do Apartheid no interior dos territórios ocupados visou abrir caminho ao Grande Israel, objetivo de sempre do movimento sionista. Netanyahu já anunciou que a Zona C será agora uma ‘reserva’ para construção de novos colonatos, antecipando novas anexações.
Todos os Estados e forças que, ao longo de décadas de crimes, massacres e guerras de Israel (a lista é enorme, mas refiram-se Sabra e Chatila, Qana, a mártir Faixa de Gaza) sempre foram tolerantes para com o agressor, ao mesmo tempo que exigiam da vítima concessões sem fim, em nome da miragem de um Estado Palestiniano, têm que fazer hoje uma opção clara. Ou cortam de vez a sua conivência com Israel e apoiam claramente os direitos inalienáveis do povo palestino, ou tornam-se cúmplices de uma traição histórica e perdem qualquer credibilidade para criticar as formas de resistência que o povo palestino vier a decidir. Nem o regresso ao torpor do estado de coisas anterior é aceitável. O silêncio do Governo Português e do seu cada vez mais inqualificável MNE envergonha Portugal.
*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2431, 2.07.2020