Sabra e Chatila: símbolo da resistência palestina

imagemSetembro de 1982: o massacre nos campos de refugiados palestinos no Líbano

Mercedes Lima

O massacre nos campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila, no oeste de Beirute (no Líbano), completa 38 anos neste mês, uma imensa dor até hoje para os habitantes desses acampamentos, atualmente um bairro muito pobre. De 16 a 18 de setembro de 1982, em plena guerra civil libanesa (1975-1990), milicianos falangianos apoiados por Israel entraram nos acampamentos em um ataque que levou dois dias e três noites, matando centenas de civis, inclusive mulheres, crianças e idosos.

Até hoje há um certo silêncio da comunidade internacional diante dos crimes que Israel cometeu e continua cometendo, com a morte de cerca de três mil pessoas. Foi um dos golpes mais devastadores para o povo palestino, episódio conhecido mundialmente como o massacre de Sabra e Chatila. Israel iluminou os dois campos dos palestinos com “sinalizadores de fogo” disparados do céu, facilitando o ataque, garantindo a entrada das forças falangistas (milícias da extrema direita cristã libanesa) e cercando as portas para impedir a saída da população local.

Na ocasião, Israel havia invadido o Líbano alegando que o embaixador israelense em Londres tinha sido supostamente assassinado por um palestino de Chatila. Então, no contexto de guerra civil libanesa, inclusive desobedecendo a um acordo de cessar-fogo pouco antes firmado, os palestinos foram massacrados. Ninguém e muito menos Ariel Sharon foi punido. Assim tem sido desde a Nakba, a catástrofe palestina que se deu com a criação do Estado de Israel, mediante a limpeza étnica, de 1948.

A verdade é que há projetos de colonização das mentes árabes promovendo sempre a ideia da aceitação da colonização israelense de terras árabes (ainda que por etapas) para liquidar a questão palestina e encobrir os crimes de ocupação e de aparheid. O imperialismo continua com seus ataques: planos de anexação, demolições de mesquitas, restrição de circulação, o que, para os palestinos, ocorre há mais de setenta anos, agora aumentados pela pandemia do Covid, especialmente quanto aos refugiados e migrantes, pela escassez de saneamento, pela quase impossibilidade de isolamento social adequado, fornecimento de água, fronteiras seletivas, sem políticas preventivas.

Ataca ainda por outros meios. O presidente francês Macron, com o fim de confirmar seu domínio sobre o Líbano (o que os Estados Unidos não lograram conseguir), tenta uma aproximação (com o desvio, para seu país, dos contratos de energia, e não para a Turquia, a Rússia, Irã, China, Emirados Árabes Unidos), abertura pelo Mediterrâneo com o porto de Beirute, visando afastar o Líbano do expansionismo da Turquia. Os EUA e Israel tramam a saída de Mahmoud Abbas (com a ousada e absurda proposta de nome por eles escolhido para a substituição do mesmo).

O Brasil sempre teve interesse na chamada “tecnologia da morte”, bem como pelas armas de Israel, que, aliás, as vende para o mundo. O governo Dória (São Paulo), por exemplo, manifestou interesse pela compra de metralhadoras (Negev, 7.62). Quem compra armas israelenses está olvidando uma história construída sobre e com os corpos dos palestinos e na violação dos direitos humanos.

O povo palestino resiste e luta pelo direito à sua autodeterminação, pelo seu Estado, com Jerusalém como capital, respeito aos direitos dos refugiados, especialmente o de retorno para suas cidades e vilas, de onde foram expulsos em 1948.

Por fim, nos posicionamos de forma absolutamente contrária à investida do império americano, juntamente com os Emirados Árabes e, claro Israel, o chamado Plano de Paz de Trump que na verdade pretende é aniquilar com a causa palestina, com uma tática manipulatória de normalização dos laços com o ocupante israelense, com os sionistas, o que, aliás, ajudaria a promover o expansionismo de Israel.

Mercedes Lima é membra do Comitê Central do PCB

Dirigente nacional do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro – filiada á FDIM