O aumento dos combustíveis e a farsa de Bolsonaro
Segundo a Agência Nacional do Petróleo, o litro de gasolina chegou a R$4,917 nas bombas na última semana, e o diesel a R$3,881. A pressão dos trabalhadores rodoviários por uma política de controle dos preços cresce, com ameaças de greve nacional. Pressionado também pelo mercado financeiro e empresários do setor, Bolsonaro tenta desviar a responsabilidade do governo federal e mira nos estados.
Por Leonardo Godim
Quatro ajustes seguidos, somente em 2021, deflagraram a atual crise em torno dos preços dos combustíveis no Brasil. Os ajustes acumularam 34,7% de aumento no litro da gasolina que sai das refinarias da Petrobras, e 27,7% no diesel. O aumento é consequência da Política de Preços de Importação, adotada desde 2016, que vincula o preço de venda nas refinarias da estatal ao preço internacional, cotado em dólar. O gás de cozinha, segundo a ANP, chegou à média nacional de R$80 por botijão.
O aumento afeta gravemente o setor do transporte rodoviário, mas tem impacto sobre o conjunto da economia. Em dezembro do ano passado, a categoria dos caminhoneiros discutiu reivindicações e sinalizou uma greve. Entre os pontos do documento assinado pela CNTRC estão a fixação do piso do transporte de cargas e a mudança da atual política de preços da Petrobras. No dia 1 de fevereiro a greve foi deflagrada, mas a adesão foi baixa.
O medo de uma reedição da greve dos caminhoneiros de 2018 pressionou o governo federal. No dia 19 de fevereiro, Jair Bolsonaro anunciou a substituição do atual presidente da Petrobras, Castello Branco, pelo general Joaquim Silva e Luna. Bolsonaro fez críticas à política de preços que, segundo ele, beneficia apenas um “pequeno grupo”, mas não se comprometeu com nenhuma mudança.
Três dias depois, na segunda-feira, 22, as cotações da Petrobrás abriram o dia com queda de 20,13%. É a resposta do setor financeiro à mudança na diretoria da empresa. A reação é punitiva, e pressiona o governo a manter a Política de Preços de Importação e a privatização de setores da estatal.
Pressionado, de um lado, pelo movimento grevista dos caminhoneiros e, de outro, pelo projeto da iniciativa privada para o setor petroleiro – que depende da indexação dos preços nacionais aos internacionais para garantir as fatias de mercado das importadoras –, Bolsonaro jogou a responsabilidade da crise aos governos estaduais, responsáveis pela cobrança do ICMS. A redução de impostos, porém, não ataca o motivo da alta nos preços.
Castello Branco seguirá à frente da Petrobras até 20 de março. Em teleconferência anunciando sua futura saída do cargo, o diretor afirmou que “o que estamos fazendo não mudará… inclusive no que diz respeito à paridade nos preços de importação”. Com a alta do dólar e do preço do barril de petróleo no mercado internacional, há indicações de que o preço brasileiro deve subir ainda mais. Nesse ritmo, nenhuma isenção de impostos poderá conter a alta dos preços de mercado e seus efeitos sobre a economia, e apenas aumentará as margens de lucro da cadeia petroleira, à custa do orçamento público.
A farsa de Bolsonaro é discursar sobre o papel social da estatal brasileira, ao mesmo tempo em que sua agenda é acabar com o projeto nacionalista da Petrobrás. Entregando refinarias, gasodutos, distribuidoras e campos de produção para os capitais estrangeiros, Jair Bolsonaro concluirá um dos principais pontos de sua contrarreforma do Estado. Nesse impasse, o governo convoca os militares para controlarem o que ainda resta da venda de nossa maior empresa, botando à prova o entreguismo da caserna. Pelas recentes informações sobre a colaboração dos generais para o golpe que levou Bolsonaro ao poder, podemos esperar que eles farão o que for necessário para mantê-lo aí.