500 mil mortos: marco do genocídio brasileiro

imagempor Átila Tresohlavy*

Esse texto foi escrito no dia 21 de junho de 2021

“Os negócios prosperam sobre as ruínas. As cidades se transformam em montes de escombros, os vilarejos em cemitérios, regiões inteiras em desertos, populações inteiras em tropas de mendigos e igrejas em estrebarias. O direito dos povos, os tratados, as alianças, as palavras mais sagradas, a autoridade suprema, tudo está em pedaços. […] Pisada, desonrada, patinando no sangue, coberta de imundície: eis como apresenta-se a sociedade burguesa, eis o que ela é. Não é quando, bem alimentada e decente, ela se traveste de cultura e filosofia, de moral e ordem, de paz e de direito, mas quando ela se assemelha a uma besta selvagem, quando ela dança o sabá da anarquia, quando ela sopra a peste sobre a civilização e a humanidade que ela se mostra cruamente como é na realidade.” – Rosa Luxemburgo; Folheto Junius, 1916.

No dia 19 de junho ocorreram enormes protestos em todo o Brasil contra o presidente Jair Bolsonaro. O movimento de massas expresso nas ruas aponta que existem expressivas camadas e organizações da classe trabalhadora que não estão dispostas a aguardar o período eleitoral e mais um ano da política de morte para mudar os rumos do país.

No marco do genocídio de meio milhão de brasileiros, precisamos fazer um balanço sobre a situação da pandemia, o que pode ser um balde de água fria para os otimistas – ou de combustível para os revoltados. Fechamos 2020 com 194.949 óbitos por covid-19. Em 171 dias de 2021, somamos outros 306.876. Esse valor representa uma média de 1.794 mortos por dia neste ano e os números de óbitos diários voltam a crescer. Isso implica em um possível desdobramento de 800 mil mortos até o final deste ano, caso não haja alteração do quadro atual. As apostas na mudança da conjuntura estariam na vacinação contra o coronavírus, mas seu avanço – apesar dos esforços incansáveis das trabalhadoras e trabalhadores do SUS – segue insuficiente para ser significativo.

A vacinação no Brasil poderia ter iniciado em dezembro com as 70 milhões de doses negadas por Bolsonaro, mas começou apenas em 17 de janeiro, há 5 meses. Menos de um terço (29,84%) dos brasileiros recebeu a primeira dose da vacina; apesar da injeção de otimismo neste evento, a primeira dose das vacinas distribuídas hoje no Brasil não garante imunidade e ainda há um risco considerável de óbito após infecção sem a segunda dose. Pouco mais de um décimo (11,47%) recebeu a segunda dose da vacina, estando efetivamente imunizado. Para conter a pandemia, especialistas estimam que precisamos de pelo menos 70% da população imunizada. Mesmo com o recente aumento do ritmo de vacinação, arrancado pelos desdobramentos das manifestações do dia 29 de maio, seguimos com um desempenho muito baixo – ainda mais se levarmos em consideração que o Brasil já foi referência mundial em produção e aplicação de vacinas.

Estamos muito longe de conter a pandemia do coronavírus. A vacinação precisa avançar num ritmo muito maior, o que implica em investimento para a compra de vacinas no exterior e maior ainda na produção nacional, assim como em investimento para que as equipes das unidades de saúde na Atenção Primária do SUS possam aumentar e expandir as agendas de vacinação. Medidas de contenção da transmissão do coronavírus, como a quarentena (lockdown) e o auxílio emergencial, precisam ser feitas imediatamente para que se possa diminuir as taxas de internação nas UTIs, que se desdobram ainda em taxas muito altas de óbitos. Em abril, por exemplo, a mortalidade para o paciente internado na UTI chegou a 80%. Outro aspecto relevante do calendário é que o inverno acaba de começar e apresenta influência significativa nas internações por doenças respiratórias.

É evidente que as medidas efetivas para o controle da pandemia entram em enfrentamento direto com a agenda liberal, que é o principal pilar de sustentação do governo genocida, no momento em que tocam no lucro das classes dominantes. A revogação do Teto de Gastos, da Reforma da Previdência e das reformas trabalhistas seguem, infelizmente, sendo tarefas em atraso em um Brasil com taxas crescentes de lucros de banqueiros – e de desemprego, fome e endividamento dos trabalhadores. A burguesia e nossos governantes mostram mais uma vez que para eles o lucro está acima das vidas da classe trabalhadora. Mas os atos de massa mostram que já que estamos nas ruas trabalhando durante a pandemia, vamos às ruas protestar também! As manifestações, que aumentam em tamanho e organização por todo o país, devem se converter em organização e radicalidade em todos os locais de trabalho, estudo e moradia. Se para a burguesia o lucro está acima de nossas vidas, o nosso enfrentamento deve ir no sentido de uma Greve Geral em defesa da vida! Não podemos esperar nem mais um dia. A luta pela superação da sociedade capitalista é, mais uma vez, a luta contra a morte da classe trabalhadora!

POR EMPREGO, VACINA NO BRAÇO E COMIDA NO PRATO!

FORA BOLSONARO, MOURÃO E GUEDES! IMPEACHMENT JÁ!

VACINA PARA TODOS E TODAS!

POR UM SUS 100% PÚBLICO, GRATUITO E DE QUALIDADE!

PELO PODER POPULAR, RUMO AO SOCIALISMO!

*Militante do núcleo de Jovens Trabalhadores da UJC e do PCB e membro da Coordenação Nacional da UJC

Meio milhão de mortos: análise do marco do genocídio brasileiro

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