Militância real e performance “revolucionária”

imagempor Carol Estevão, João Oliveira e Guilherme Quina, militantes da UJC no núcleo Ruy Mauro Marini, em Londrina (PR)

A luta de classes só avança em favor da classe trabalhadora através de ações concretas para mudar a realidade. Ela é organizada por partidos, sindicatos, movimentos populares, coletivos, entre outros. O discurso inflamado e dito “revolucionário”, difundido por muitos grupos sectários, não atinge as estruturas da realidade.

No mundo virtual facilmente você se torna um “revolucionário”, mas quando olhamos para a classe trabalhadora fora das bolhas das redes sociais, vemos um vácuo de organização da nossa classe e os pretensos discursos e ações “revolucionárias” se dissipam no ar e não passam de meras palavras e ações jogadas ao vento, que nada contribuem para a organização da classe trabalhadora na sua luta pelo poder.

Esse tipo de fenômeno foi previsto e defendido por autores da pós-modernidade, como Felix Guatarri e Gilles Deleuze (anteriormente vinculados a círculos intelectuais de correntes maoistas), que, em uma ação anti-hegeliana, tentam colocar a nova dinâmica social da repetição e da diferença. Ou seja, a partir da repetida simulação linguística, se faz a diferença e assim se concretiza um tipo de “guerrilha virtual”. Para esses autores, este seria o objetivo final, já que os mesmos entendiam que as chances de superação do neoliberalismo já se mostravam esgotadas.

Um exemplo histórico é o movimento punk e as sub-culturas, muito influenciados pelo anarquismo do século XX, que desenvolve uma crítica radical da sociedade, de forma a defender a sua exclusividade combativa, sendo estes exemplos pós-modernos de uma estética, linguagem, que envolve elementos da política, mas não apresenta efetividade na ação contra as formas neoliberais do capitalismo. São formas individuais de protestos, que acabam se tornando derrotistas, já que privilegiam a mudança singular, do indivíduo radical, acima das outras identidades existentes na classe trabalhadora.

Aqueles que procuram de forma individualista vender uma performance, uma forma de “luta” sectária que não abarca toda a nossa classe, não leva em conta os conflitos geracionais, os erros e acertos, historicamente, do movimento operário e, com isso, buscam se autoproclamar enquanto seres (e organizações) iluminadas por sua linguagem anticapitalista, que muitas vezes carrega muito de anticomunismo, como a ojeriza aos partidos revolucionários, os quais são alcunhados, pelos “seres iluminados”, como eleitoreiros e, portanto, inimigos.

Como comunistas, durante toda a história, fomos críticos à social-democracia e o reformismo paralisante de diversas organizações, assim como também tecemos críticas a algumas das táticas adotadas por grupos anarquistas; todavia, a crítica vazia não é o foco dos comunistas.

Acreditamos que a superação desses elementos é a prática revolucionária impulsionada por uma teoria refletida na objetividade e subjetividade de nossa classe. O discurso sem prática, no fim, tem como objetivo ganhos individuais ou, na maioria das vezes, para grupos minoritários ganharem relevância nas bolhas virtuais criadas.

A performance “revolucionária” é difundida nas redes e nas ruas e nivelada descaradamente, parecendo que na prática é uma tática importante para a luta de massas, mas no fundo é apenas um teatro para autopropaganda, principalmente, nas redes sociais. Isso não é um problema por si só, ele só se torna um problema quando esses grupos resumem a luta política a uma estética e/ou uma identidade que se pode comprar e usufruir de forma oportunista de algo bem maior que o próprio indivíduo.

Os teóricos da pós-modernidade acabam por confirmar e dar fundamento a esses métodos que, para esses grupos autonomistas dedicados à teatralização da radicalidade, são exatamente a expressão do movimento real. Como afirma Gilles Deleuze:

“O teatro é o movimento real e extrai o movimento real de todas as artes que utiliza. Eis o que nos é dito: este movimento, a essência e a interioridade do movimento, é a repetição, não a oposição, não a mediação. Hegel é denunciado como aquele que propõe um movimento do conceito abstrato em vez do movimento da Physis e da Psiquê. Hegel substitui a verdadeira relação do singular e do universal na Ideia pela relação abstrata do particular com o conceito em geral.”

em “Diferença e Repetição”
A militância organizada, que dialeticamente aproxima a prática da teoria (e vice-versa), consegue enxergar as contradições e as táticas necessárias e adequadas para a superação do Estado burguês, pela perspectiva da construção do Poder Popular no rumo do Socialismo.

A militância meramente performática, teatral, não consegue analisar concretamente essas contradições, porque não se baseia em nenhuma teoria revolucionária que se alinha com a prática e a realidade totalmente fragmentada do mundo atual, sendo um prato cheio para o surgimento desses grupos que, mesmo pela linguagem, reivindicam o pensamento revolucionário, mas na realidade, em sua razão própria, agem através de teorias que não abrangem o objetivo da revolução social. De forma oportunista, utilizam das manifestações para ganhos individuais de sua bolha, se apresentando como a vanguarda da revolução.

Os comunistas não temem o uso revolucionário da violência, mas também não a fetichizamos. Para nós, devemos avaliar, de forma concreta, em quais situações estamos inseridos e quais táticas de luta são as mais apropriadas para o avanço da nossa classe. Agora não esperem de nós o embarque cego em ações meramente performáticas, que em nada contribuem com o movimento de massas.

Entendemos que setores e pessoas ainda não experimentados na luta ainda não são acostumados com a dinâmica complexa da luta de classes, portanto, estes, ansiosos por uma participação significativa, aderem à tática que performa, que apresenta maior radicalidade aparente.

Sendo assim, devemos questionar: essas táticas performáticas geram algum saldo organizativo? Essa tática contribui na articulação da classe, com capacidade para envolvê-la com maior grau de universalidade?

Fica evidente que não há nenhum impacto de elevação da consciência da classe trabalhadora com essas ações performáticas.

Precisamos analisar de forma crítica a luta da juventude no Brasil, posto que, muito mais que uma estética, necessitamos de uma luta diária e imersa nos problemas do nosso povo. Mas é importante reforçar que nós não estamos aqui para criminalizar esses setores. Estes serão politicamente derrotados antes e depois dessas ações, devido à inconsequente realização de tais táticas. Tirar utilidade ou proveito para criar bolhas e ganhos individualistas é fazer o jogo do capitalismo e enganar uma massa de jovens desacreditados da política para o ego de muitos e o lucro de poucos.

Nós, comunistas da UJC, defendemos que é o momento de apostar no fortalecimento e na organização dos trabalhadores, buscando tanto a preparação de um processo de greve geral contra esse governo genocida e sua política de terra arrasada, como um longo e dedicado trabalho de reorganização de nossa classe, mediante a construção, no momento mais favorável da luta de classes, de um Encontro Nacional da Classe Trabalhadora (ENCLAT), a partir do qual se possa produzir um programa comum e uma unidade orgânica dos trabalhadores e das trabalhadoras.

Continuaremos apoiando e trabalhando para o fortalecimento do Fórum por Direitos e Liberdades, que reúne atualmente o sindicalismo mais combativo do país. A hora é de avançar na ofensiva e ampliar a luta contra o Governo de Bolsonaro, Mourão e Guedes e contra o capitalismo, pela construção do Poder Popular, no rumo do Socialismo.

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