Deixar Bolsonaro sangrar é sangrar em dobro a classe trabalhadora

imagempor Vinícius Okada*

O mês de outubro cravou o fim do Bolsa Família e do Auxílio Emergencial. O governo Bolsonaro-Mourão acaba com ambos os programas sem colocar de imediato nenhum substituto à altura. O Auxílio Emergencial atendia cerca de 39 milhões de famílias. O novo programa prometido pelo governo, o Auxílio Brasil, atenderá 14,5 milhões de famílias. Na prática, isso significa o fim da estrada para 22 milhões de famílias no país. Além disso, um estudo realizado pela Universidade Livre de Berlim junto com a UFMG publicado esse ano afirma que “19 milhões de brasileiros passaram fome e que mais da metade dos domicílios do país enfrentaram algum grau de insegurança alimentar” no final de 2020.

Além da falta de qualquer apoio do Estado, no segundo trimestre deste ano de 2021, a informalidade bateu recorde chegando a 48,7% da população ocupada no país. Esse crescimento, que aliás tende a se manter a longo prazo, representa a mais pura e simples precarização do trabalho no Brasil. Muitos trabalhadores perderam o emprego durante a pandemia e agora com a “retomada” do mercado, gera-se muito mais empregos informais do que com carteira assinada. Isso tudo levando em conta que o desemprego e a população subutilizada no país seguem altíssimas, apesar das baixas (tímidas) nas taxas: desemprego de 14,6% em maio para 13,2% em agosto (13,7 milhões de pessoas); população subutilizada de 29,3% em maio para 27,4% da força de trabalho em agosto (31,1 milhões de pessoas). Na prática, isso significa uma contínua baixa da renda média brasileira e crescente precarização e insegurança no mercado de trabalho.

O cenário é claro como o dia: a política do governo Bolsonaro-Mourão para com a pandemia da COVID-19 aprofundou violentamente a desigualdade social no Brasil e aumentou radicalmente o problema da fome no país. Esse cenário se agrava ainda mais agora, ao final de 2021, com o fim dos programas de distribuição de renda e a implementação do Auxílio Brasil cobrindo um número muito menor de famílias e sem garantia de aumento de verba para o futuro. O governo Bolsonaro-Mourão brinca com a vida do povo ao negociar mais verba para o futuro do programa enquanto milhões de brasileiros passam fome sem perspectiva alguma de reversão do quadro.

A burguesia brasileira mostrou mais uma vez sua real face para os trabalhadores desde o início da longa crise econômica e política brasileira que perdura desde 2013. Se é verdade que o Brasil vive a hegemonia da política neoliberal desde os anos 1990, é também verdade que vivemos desde 2014 o aprofundamento da política de ajuste fiscal, isto é, desde então a burguesia pressiona o Estado para enxugar gastos sociais para desonerar o mercado privado, corta investimentos para o povo a favor do lucro das empresas privadas.

Os partidos reformistas do país, contudo, não oferecem melhor resposta do que esperar as eleições de 2022, isto é, dizem que “não temos outra coisa a fazer do que reconquistar a democracia”, como disse Lula ao Parlamento Europeu. Pois, nós comunistas respondemos: NADA MAIS ERRADO QUE ISSO. A tática do PT de não priorizar os atos de rua, as greves, a mobilização das massas, para deixar Bolsonaro perder popularidade até as eleições de 2022 é puro oportunismo! Deixar Bolsonaro sangrar é fazer a classe trabalhadora sangrar em dobro! Evidentemente que precisamos de respostas imediatas para a miséria do povo, mas, como disse Lênin, OS GRANDES PROBLEMAS DOS POVOS NUNCA SÃO RESOLVIDOS SENÃO PELA FORÇA! A única saída para obtermos respostas para a miséria do povo é ARRANCAR DA BURGUESIA PELA FORÇA AS EXIGÊNCIAS DOS TRABALHADORES. Para isso, precisamos PRIORIZAR A LUTA DE MASSAS. Fortalecer os atos de rua, a luta dos trabalhadores, as greves, PARA CONSTRUIR UMA GREVE GERAL MASSIFICADA, para OCUPAR AS RUAS e DERROTAR Bolsonaro-Mourão!

A luta pela democracia é um momento particular dentro da luta geral pela revolução brasileira. Não devemos nos iludir com uma promessa de “repactuação democrática”, uma nova promessa de “conciliação”. Precisamos derrotar o projeto da burguesia em todas as suas vias: a fascista, a ultraliberal e a conciliatória social-liberal.

A social-democracia brasileira, isto é, o reformismo, mostra seu verdadeiro caráter de classe nesse momento. Enquanto a classe trabalhadora passa fome sem perspectiva de futuro, tais partidos preocupam-se primordialmente com as eleições do ano que vem depois de meses trabalhando ativamente para desmobilizar e frear os atos de rua.

Em 2017, na jornada de lutas contra o presidente golpista Michel Temer, vimos as principais centrais sindicais esvaziar a greve geral e então abrir mão dessa pauta pela palavra de ordem de “eleições gerais já”. Em 2021, vimos o país ser tomado por atos de rua contra o governo federal durante meses e a social-democracia esvaziando gradualmente as ruas, espaçando as datas entre atos, e até boicotando abertamente em algumas cidades, para então abrir mão da primordialidade da luta de massas para girar a discussão para o terreno das eleições de 2022.

Seguindo o fio da história, o caráter de classe da social-democracia fica claro: abrir mão do protagonismo da classe trabalhadora na luta política nacional, caminhar junto com a luta das massas exploradas até um limite seguro e então frear as massas de saírem dos limites da legalidade burguesa, RENUNCIAR À HEGEMONIA PROLETÁRIA EM PROL DA HEGEMONIA BURGUESA.

Como disse Lênin, não há revolução verdadeira sem deslocamento de classes. A tarefa dos comunistas é tirar o proletariado revolucionário detrás da burguesia para construir, assim, o caminho de sua independência política como vanguarda revolucionária das demais classes exploradas e oprimidas. Para isso, é preciso demarcar claramente o caráter de classe dos partidos e organizações políticas no Brasil. Denunciar a burguesia genocida e fascistóide, alertar contra o reboquismo e oportunismo da social-democracia, afirmar e reafirmar o princípio inalienável da hegemonia proletária na construção do Poder Popular.

FONTES

https://valor.globo.com/politica/noticia/2021/11/15/lula-confirma-aproximacao-para-ter-alckmin-como-vice-de-sua-chapa.ghtml

https://valor.globo.com/politica/noticia/2021/11/17/disputa-retarda-solucao-para-19-milhoes-sem-auxilio.ghtml

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/11/10/trabalho-informal-bate-recorde-e-deve-continuar-a-crescer.ghtml

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/11/03/criacao-de-emprego-formal-em-2020-e-revisada-e-cai-quase-pela-metade.ghtml

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/10/27/mo-de-obra-desperdiada-no-pas-recua-para-311-milhes-de-pessoas-diz-ibge.ghtml

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/10/27/ibge-desemprego-cai-a-132percent-no-trimestre-ate-agosto-e-afeta-137-milhoes-de-brasileiros.ghtml

https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/28896-pof-2017-2018-proporcao-de-domicilios-com-seguranca-alimentar-fica-abaixo-do-resultado-de-2004

https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2021-04/pesquisa-revela-que-19-milhoes-passaram-fome-no-brasil-no-fim-de-2020

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* Vinícius Okada é militante do PCB e da UJC na cidade de São Paulo.

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