Cuba: as três batalhas de 2021
Foto: AP
Por: Agustín Lage Dávila
CUBA DEBATE
Os cubanos, cada um a partir de sua posição, com suas ideias e valores, mas essencialmente todos nós, estamos envolvidos em três grandes batalhas que decidem nosso futuro:
1) Controle da epidemia de COVID;
2) Enfrentamento à mídia e à agressão cultural contra nosso projeto de sociedade;
3) Desenvolvimento econômico da sociedade, mesmo no contexto do bloqueio.
Enfrentamos enormes ameaças: a primeira ameaçava nossa saúde, a segunda nosso pensamento, a terceira nosso sustento material. Os três fatores, juntos, ameaçavam nossa Nação.
As duas primeiras batalhas nós vencemos, indiscutivelmente. Devem ser consolidadas e projetadas para o futuro, porque podem continuar, mas são essencialmente vitórias. Quanto à terceira conseguimos resistir, o que não é pouca coisa, é o passo indispensável para vencer, mas a grande vitória ainda exige muito esforço e inteligência.
O controle da epidemia de COVID-19 foi alcançado este ano com a biotecnologia, a ciência, a força, a experiência e a universalidade de nosso sistema de saúde e a participação culta da população e de suas instituições. Validou a fecundidade da estratégia de desenvolvimento científico implementada pela Revolução ao longo de décadas e a importância das conexões entre ciência e produção que se construíram desde os momentos de fundação do Pólo Científico, sob a liderança de Fidel. Ele validou o conceito de que a saúde não pode ser uma mercadoria, e que as instituições estatais ou empresas das quais os serviços de saúde dependem devem ser propriedade socialista de todas as pessoas, não apenas por razões morais (que é o principal), mas também por razões de eficiência. Esta batalha deixará experiências para o aperfeiçoamento e desenvolvimento de ambos os atores, da indústria e do sistema de saúde, que devemos aplicar imediatamente, pois o contexto global da pandemia continuará em 2022.
A agressão midiática e cultural, por meio da qual, principalmente neste ano, houve o intento de dividir o povo e corroer sua capacidade coletiva de responder aos desafios do momento, foi derrotada. A sua implementação e financiamento (sabemos bem por quem), aliados ao reforço do bloqueio, precisamente no momento em que enfrentávamos a perigosa epidemia, ficarão na história como uma das maiores imoralidades políticas deste século. Ela será lembrada na galeria da vergonha, junto com a reconcentração de Weyler, o holocausto nazista, o bombardeio nuclear, a guerra do Vietnã, o apoio às ditaduras do cone sul-americano, o apartheid sul-africano e os assassinatos de professores por gangues contrarrevolucionárias em Cuba. A história não vai absolver seus articuladores.
A agressão midiática e cultural contra Cuba é uma guerra de pensamento. Nós a derrotamos, como Martí queria, “pelo pensamento”. O incentivo à violência, a promoção das ganâncias egoístas, a desconfiança no futuro do país e a disseminação de superficialidades intelectuais se chocaram contra a parede da cultura cubana, agora solidificada por seis décadas de acesso massivo e gratuito à educação. Apostaram em encontrar muitos tolos influentes em Cuba, e descobriram que são muito poucos. Esta batalha também nos deixa experiências para o aperfeiçoamento e o desenvolvimento do trabalho político e cultural, que deve ser bem analisado porque este episódio de 2021 faz parte do uma disputa histórica de mais de dois séculos.
A terceira batalha, a do desenvolvimento econômico, ainda não vencemos. E seria superficial tentar uma análise simplificadora no espaço das quatro páginas de um blog. Mas há algumas coisas a dizer:
– A primeira é que resistimos à mais longa investida econômica da história mundial (60 anos), articulada pela maior potência econômica e militar da história mundial, e continuamos a resistir 30 anos após o colapso dos aliados que tínhamos na Europa Oriental. E aqui estamos nós, o nosso povo sem fome, sem máfias, sem despejos de casa, com todos os seus filhos na escola, com o nosso governo popular que funciona segundo a Constituição socialista formulada e aprovada por nós mesmos. Essa capacidade de resistência nos orgulha, não só pela resistência em si, mas porque pressagia uma capacidade de desenvolvimento. Sem soberania e unidade nacional, nenhuma estratégia econômica, por mais “tecnicamente brilhante” que seja, poderia funcionar.
– A segunda é que não estamos congelados em velhas estratégias econômicas, que funcionaram na época, mas que já cumpriram seu papel histórico e esgotaram sua capacidade de adaptação às mudanças da economia mundial. Estamos num momento de criatividade legislativa e organizacional para adaptar o nosso modelo de desenvolvimento às novas realidades, sem deixar de sermos soberanos, equitativos, cultos e socialistas.
– A terceira é que o caminho do desenvolvimento econômico e social deve ser percorrido em um contexto mundial diferente do que existia nos anos 1960, quando a Revolução fez seus primeiros planos de decolagem econômica. Devemos agora trabalhar em uma economia globalizada, que depende muito mais do equilíbrio econômico externo e da capacidade de inserção internacional, especialmente dos pequenos países, numa economia de tecnologias em rápida mutação, que exige uma dinâmica superior de criação de empresas diversificadas e de ligações entre empresas e instituições científicas e educacionais, bem como uma dinâmica superior de diversificação de produtos e serviços de elevado valor acrescentado. Tudo isso requer criatividade gerencial, mas também tecnológica, devendo ser criado o contexto regulatório que permita, incentive e treine os jovens quadros que nela atuam.
– A quarta é que, com poucos recursos naturais, pouca demanda interna e com um bloqueio que continuará (porque nossos adversários históricos não sabem nem podem fazer outra coisa), nossa ousadia em construir a prosperidade material baseada na justiça social e no acesso ao conhecimento é um desafio essencialmente cultural. Será a cultura, a ética, o jurídico, o científico e o técnico que determinarão a nossa capacidade de dissociar o crescimento econômico da expansão das desigualdades, que alarga o espaço do possível e estabelece a velocidade do nosso avanço.
As batalhas deste ano de 2021 nos preparam para continuar construindo o país possível que nós, cubanos, queremos. Não o que os outros querem nos impor, mas o que nós, cubanos, queremos.
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)
Fonte: