Taiguara: arte, amor e revolução

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Um comunista que encantava com suas canções de amor e liberdade!

Roberto Arrais – membro do Comitê Central do PCB

Taiguara Chalar da Silva foi um dos mais extraordinários artistas da Música Popular Brasileira, que nasceu em Montevidéu em 9 de outubro de 1945. Filho do maestro e bandoneonista Ubirajara Silva e de Olga Chalar, também uruguaia, cantora de tango, ainda menino foi morar no Rio Grande do Sul e depois se instalou no Rio de Janeiro, onde residiu na maior parte da sua vida.

Taiguara foi um dos compositores/artistas mais perseguidos pela ditadura empresarial-militar instalada em 1964 e que perdurou até 1985, nesse que foi um dos momentos mais tenebrosos da nossa história. Ele foi o mais cerceado entre os compositores, tendo mais de sessenta canções censuradas durante esses anos de chumbo. Mesmo assim, resistiu, se exilou, foi para Europa e África, sempre levando suas composições poéticas, carregadas de amor, liberdade, paz e de resistência à violência praticada pelo capitalismo. Produziu 12 discos LPs (vinil), diversos compactos (vinil) e um último disco já no formato de compact disc (CD), intitulado “Brasil Afri” (1994).

Taiguara começou cantando em festivais nos anos 60, despontando como grande compositor, músico e intérprete de músicas mais voltadas para a paz e o amor, com músicas como “Hoje”, “Helena, Helena, Helena”, tendo lançado seu primeiro LP de vinil, o álbum “Taiguara”, em 1965. Expressando-se pelo amor ele já levantava preocupações sociais, como na música “Hoje” (1969), quando dizia: “Hoje trago em meu corpo as marcas do meu tempo / Meu desespero, a vida num momento / A fossa, a fome, a flor, o fim do mundo (…)”. Falando de amor, de fossa, mas também de fome e de flor. Era a dor e a esperança fazendo parte do seu momento mais ligado às fases das canções românticas.

Com as lutas estudantis e dos trabalhadores, Taiguara foi se engajando e tomando consciência revolucionária. Nos anos 70 ele já se destacava com a visão de resistência e de participação, enfrentando a censura e fazendo canções como “A Ilha” (1971), que foi proibida, pois se referia a Cuba, que naquele momento era um lugar proibido de se falar. Dizia ele: “(…) Livre só embaixo vou viver na ilha, na ilha / Onde meus iguais serão minha família, na ilha / Tentei, ser como vocês / Viver nesse mundo errado, errado, errado (…)”.

Após a anistia, na volta ao Brasil ele começa militando no MR-8 e, depois de procurar Gregório Bezerra e Luiz Carlos Prestes, por quem nutria muita admiração, ele se integra à concepção da “Carta aos Comunistas” e passa a colaborar na luta pela retomada revolucionária do PCB, que enfrentava naquele início dos anos 80 uma grave crise a partir do CC e que atingiu o conjunto do Partido em nível nacional. Isso também criaria problemas com a grande mídia, que o “censurava” e não abria espaço para divulgá-lo, pois ele se afirmava como comunista, participava das comemorações públicas dos aniversários do Prestes, nas entrevistas falava das desigualdades sociais provocadas pelo capitalismo, defendia as populações indígenas daqui e da América Latina, falava contra a exploração, a fome, o desemprego e fazia cada vez mais composições ligadas às lutas do povo trabalhador brasileiro, latino americano e da África.

Nesta época ele produz um belíssimo álbum em formato de LP (vinil) em 1983, o seu 12º, denominado “Canções de Amor e Liberdade”! Nele solta a “Voz do Leste”, canta “Índia”, brada sua voz firme no compromisso com o “Amor da Justiça”, sonha o sonho da classe trabalhadora através da internacionalista “Estrela Vermelha”, inspira-se com o “Che Tajira” e “Anita”, denuncia a “Mais Valia”, faz versos revolucionários na “Avanzada”, “Guarânia Guarani”, proclama a “América Del Indio” e se anima quando “Moina me sorriu”. Na “Voz do Leste” ele poetisa e denuncia: “Sou Voz Operária do Tatuapé/ Canto enquanto enfrento o batente co’a mão / Trabalho no ritmo desse Chamamé / Meu pouco Salário faz minha ilusão (…) / Pior que a matança medonha é o desemprego pra engolir… / Seja no peito ou na raça, esse teatro devasso / Alguém tem que proibir…(…)”.

No seu último trabalho, “Brasil Afri” (1994), produzido em CD, faz uma bela composição em homenagem a Luiz Carlos Prestes, denominada de “O Cavaleiro da Esperança”, enaltecendo o papel revolucionário e histórico que o líder comunista exercia junto ao povo brasileiro. Diz a canção num dos trechos: “(…) O Cavaleiro da Esperança faz a hora acontecer / Faz punho armado / Faz pujança / Mas combate pela paz pro povo não morrer / Pois Ogum Guerreiro não morre / Prestes a encontrar / Uma estrela d’alva para nos guiar (…)”.

Taiguara faleceu, ou melhor, se encantou aos 50 anos de idade, em 14 de fevereiro de 1996. Seu legado continua sendo inspiração para os que sonham e lutam por um mundo socialista de igualdade, paz, amor e liberdade.

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