ANTÍGONA E A GRÉCIA, HOJE

O resultado das eleições de 6 de maio, na Grécia, indicam, claramente, uma rejeição às medidas de austeridade exigidas pela “Troika” (Comissão Européia, Banco Central Europeu e FMI) como solução para a crise econômica e fiscal grega, com cortes de salários, perdas de direitos trabalhistas e de benefícios previdenciários.

De resto, o mesmo se pode dizer, de um modo geral, em relação às eleições presidenciais em França, às eleições municipais na Itália e na Inglaterra, onde os partidos conservadores, adeptos da adoção daquelas medidas, sofrem derrotas significativas.

Na Grécia, entretanto, existem particularidades que tornam o resultado eleitoral uma singularidade, para dizer o mínimo.

Com efeito, não ocorrendo uma concentração considerável de votos em qualquer partido e, em decorrência, inexistindo uma predominância de assentos junto ao Parlamento grego, os gregos não conseguem formar um novo governo. Fracassaram as tentativas de formação de um governo com base no partido que recebeu mais votos, oNova Democracia (que obteve 18,9% dos votos). Após, foi convocado o partido Syriza, segundo melhor colocado nas eleições (16,8%), e a tentativa também fracassou. Convocou-se, então, o Pasok (13,2% dos votos) e o resultado, mais uma vez, foi infrutífero. Finalmente, foram convocados, pela Presidência da república, esse três partidos para se encontrar uma solução. Noticiou-se a frustração desse encontro; isto é, não se chegou à formação de um novo governo. A data final para a formação de um novo governo é o dia 17 do corrente mês e ano. Até lá, certamente serão convocados os partidos que tiveram um menor número de votos para, mais uma vez, tentar a criação de um governo de coalizão ou de unidade nacional.  O histórico KKE (8,5%), se for convocado, já deu, antecipadamente, sua resposta: não participará de qualquer governo de coalizão ou de unidade nacional em virtude das profundas divergências com os demais partidos no que diz respeito às exigências da Troika.

Se, mais uma vez restar frustrada essa tentativa, restará, como último recurso legal, a convocação de novas eleições, previstas para junho desse ano na busca de uma maioria parlamentar que possibilite, finalmente, a formação do futuro governo.

Analistas esperam, das eventuais e futuras eleições, uma maior concentração de votos em Syryiza que, contraditoriamente, defende a manutenção da Grécia na Zona do Euro e rejeita as medidas de austeridade. Se isso ocorrer, ou, ao contrário, se houver nova dispersão de votos com a conseqüente impossibilidade de formação de um governo, a Grécia entrará em default (para usar a linguagem dos banqueiros); isto é, ocorrerá o inadimplemento de pagamentos da dívida grega. Isto – o não pagamento da dívida –  implicaria na saída da Grécia da Zona do Euro.

Embora o Tratado de Maastrich não trate, clara e detalhadamente, da saída de países daquela zona, a Grécia se veria forçada à saída. Se a Grécia sair da Zona do Euro, terá de voltar ao dracma, ou a um novo dracma, como moeda nacional, com uma desvalorização, em relação ao euro, de mais de 50% de seu valor. Como as dívidas da empresas gregas se dão em euros, tal medida de desvalorização da moeda implicaria na falência de muitas empresas. Nos marcos do capitalismo, isso tudo resultaria em hiperinflação, desvalorização da moeda, falências, colapso bancário e mais desemprego que hoje está em torno dos 22%.

Por outro lado, não interessa à Zona do Euro a saída da Grécia. Por quê? Porque a saída e o default gregos trariam conseqüências funestas a todo o sistema bancário europeu.

Coloque-se na posição de um “investidor capitalista” e se pergunte, claramente, se, nessa condição e diante do default grego, você investiria dinheiro em Portugal, Espanha ou Itália? Claro que não, pois tais países estão em situação muito parecida à grega. Restaria ao Banco Central Europeu fazer tais investimentos e se esse instrumento imperialista não puder fazê-lo (pela inexistência de fundos suficientes), a estabilidade da euro-zona estaria condenada a um desequilíbrio desconcertante.

Então, o problema da Grécia, revoltada em relação à Troika, não é somente dos gregos, mas de toda a Europa, se não for de todo o sistema capitalista.

O que restará à burguesia grega para cumprir as determinações da Troika, em detrimento da vontade do povo grego, já expressa nas eleições, a não ser o golpe de estado, a ditadura, ou, o pior, uma guerra civil?

Sófocles compôs o personagem Antígona que se rebela contra as determinações de Creonte, a partir de uma contraposição à Ismene, moça doce, tímida, submissa e acomodada, irmã da jovem Antígona. Creonte condenou Antígona à morte, por sua rebeldia,  mediante encerramento, em vida, no sepulcro de sua família. Mas, Antígona se antecipa e se enforca.

Na tragédia moderna, a Troika (lembrando Creonte) condena à Grécia (lembrando Antígona)  a ser sepultada viva pela  adoção das medidas de austeridade e Grécia–Antígona pode se enforcar pela adoção das conhecidas, e em parte já referidas, medidas capitalistas.

Antígona–Grécia se libertará da situação trágica em que se encontra, não pelo enforcamento capitalista, mas trilhando o caminho do socialismo.

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