Jones Manoel (PCB-PE): “É preciso estatizar o transporte”
Sabatina UOL/Folha com o pré-candidato PCB ao Governo de Pernambuco
Tiago Minervino e Matheus Mattos
Colaboração para o UOL, em Maceió e em São Paulo
O pré-candidato pelo PCB ao governo de Pernambuco, Jones Manoel, propôs uma “diretriz comunista” para os transportes do estado e chamou de máfia a gestão atual da área, assim como na saúde, durante sabatina UOL/Folha realizada em 09/06/2022.
O historiador e youtuber destacou que as pessoas tendem a ter “medo” do comunismo devido a propagandas que visam demonizar essa ideologia, mas ressaltou ser preciso enxergar essa vertente como “a brilhante ideia de que os trabalhadores têm que ter o controle sobre a riqueza e a cultura que ele mesmo produz”.
Citou como exemplo a diretriz comunista para os transportes no estado. “[É preciso] estatizar o transporte, fazer o transporte realmente público, de qualidade, com passe livre, com boas condições de trabalho dos rodoviários, que não seja lotado e o ônibus não demore uma, duas horas para passar, e que o trabalhador e a trabalhadora não passe todo o dia no ônibus lotado, cansado, em pé, apertado, passando calor tentando voltar para casa”, declarou, salientando que o transporte não deve ser “um meio de lucro para as grandes empresas, mas um direito da classe trabalhadora”.
Segundo Jones Manoel, a região metropolitana do Recife possui “um dos piores trânsitos da América Latina”, com valor caro das passagens, mas, ao mesmo tempo, é também “um dos mais inseguros do Brasil, com uma média de 900 acidentes por ano nos ônibus”. Além disso, o historiador citou as “condições de trabalho horríveis” dos funcionários do setor rodoviário, que “têm salários péssimos”.
“Recentemente tirou o cobrador e colocou o motorista com muito mais funções. Ou seja, ninguém, nem trabalhador nem o usuário está feliz com a situação dos transportes aqui [em Pernambuco]. São ônibus caros, ruins e que demoram a passar, só que tem meia dúzia de empresários que está ganhando muito dinheiro com isso”, completou. “Rever o subsídio, começar uma estatização do sistema, baixar a passagem e fazer do transporte um direito, isso é uma diretriz comunista”, afirmou.
Sobre as mortes após as chuvas recentes no estado, ele exaltou a gestão de João Paulo (PT) na Prefeitura do Recife, a partir de 2001. “Foram quase oito anos sem mortes. O governo do PSB nunca fez uma política de moradia popular. A tragédia podia ter sido evitada”, afirmou. “Não é uma tragédia natural quando você tem uma política proposital de não investir em saneamento básico, prevenção a tragédias e moradia popular. A chuva não mata, o que mata é uma política que despreza o interesse da classe trabalhadora.”
Para reduzir a violência policial, ele propôs a utilização de câmeras nas fardas e a criação de um comitê externo de defesa dos direitos humanos para fiscalizar a ação da polícia. “Além disso, a gente tem que fazer com que exista uma capacidade investigativa real. Polícia no Brasil é basicamente repressão. A capacidade de resolução de homicídios é muito baixa”, afirmou. Caso eleito, Jones também prometeu reduzir o número de pessoas presas, já que “prender aumenta a violência”. “As pessoas que são encarceradas porque foram pegas vendendo maconha e nunca tinham cometido um crime. Entra no presídio e é socializado num ambiente de violência.”
Ainda defendeu um orçamento participativo, a reforma agrária e re-estatizar a Compesa, empresa de saneamento do estado, para “universalizar o acesso à água”. “Nossa proposta é de ter restaurantes populares espalhados por todo o estado, com a compra de comida produzida pela agricultura familiar.”
Pré-candidato do PCB diz que Bolsonaro é genocida e Lula não é de esquerda
Jones Manoel (PCB), pré-candidato do PCB ao governo de Pernambuco, chamou o presidente Jair Bolsonaro (PL) de genocida e disse que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “não é de esquerda”. Ele ainda culpou Bolsonaro pelas mais de 600 mil mortes pela covid e pela deterioração das conquistas dos trabalhadores. “O Brasil tem mais de 33 milhões de pessoas passando fome, recorde de desemprego, recorde de informalidade e milhares de brasileiros morreram por uma política genocida, negacionista, e também por um processo de retirada do orçamento do SUS”, afirmou.
Bolsonaro “é o presidente da fome, é o presidente do desemprego, mas ele é uma espécie de ‘capanga’. Todo crime que tem um capanga, tem um mandante, e acho que esse mandante é o conjunto da burguesia brasileira, que domina a política do país.” Apesar de não ver Lula como um político de esquerda, ele diz que petista é a opção mais viável para derrotar Bolsonaro.
[Lula] “é o verdadeiro centro desse país”. “A gente entende que é fundamental não só derrotar Bolsonaro, como derrotar também o plano econômico que Bolsonaro representa e radicalizou”. Mas acrescentou que a pauta da classe trabalhadora precisa ser prioridade: “O Bolsonaro sendo derrotado, os problemas do povo trabalhador não acabam automaticamente”, e acrescentou: “É fundamental puxar o debate para a esquerda”.
Chamou para uma união de esquerda em Pernambuco, envolvendo PSOL e UP, inclusive tentando fazer uma espécie de prévias, com os movimentos sociais e ativistas votando por quem deveria ser o nome escolhido.
Disse que Lula e Ciro Gomes (PDT) têm falhado em apresentar propostas à esquerda, por estarem focados em “picuinhas”, e que os avanços conquistados durante os governos petistas “foram destruídos muito rápido”. “Lula vem falhando em apresentar um programa econômico concreto e objetivo de revogação das contrarreformas e derrubada de todas as privatizações. E o Ciro também vem falhando por fazer um debate muito moralista, preso em aspectos morais com o Lula”, disse.
Vê a implantação do comunismo como não só possível como “necessário” e propôs uma “diretriz comunista” aos transportes em Pernambuco. “A gente tá nessas eleições para também apresentar um projeto radical, projeto de revolução brasileira sim para a classe trabalhadora. Muita gente tem medo da palavra comunismo porque viu muita propaganda”, disse ao explicar que a ideologia prega o controle da riqueza ao trabalhador.
O que diz a pesquisa mais recente
Levantamento do instituto Paraná Pesquisas divulgado em maio aponta a deputada federal Marília Arraes (Solidariedade) à frente na corrida eleitoral para o governo de Pernambuco, com 28,8% das intenções de voto em um dos cenários na pesquisa estimulada — quando é apresentada a lista de nomes dos pré-candidatos. A ex-prefeita de Caruaru Raquel Lyra (PSDB) aparece na sequência, com 16%, seguida pelo ex-prefeito de Petrolina Miguel Coelho (União Brasil), com 13,6%, e pelo ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes Anderson Ferreira (PL), com 12,1%. Como a margem de erro da pesquisa é de 2,6 pontos percentuais para mais ou para menos, esses três pré-candidatos empatam tecnicamente. O deputado federal Danilo Cabral (PSB) tem 7,1%, empatando tecnicamente com Ferreira. O advogado João Arnaldo (PSOL) aparece com 1,3%, e o historiador Jones Manoel (PCB), com 0,7%, também tecnicamente empatados. Brancos, nulos e aqueles que disseram que não irão votar em nenhum dos candidatos somam 13,5%, e aqueles que não souberam ou não responderam, 7%.