O PCB e a história de uma placa
Por Ivan Pinheiro – dirigente histórico do Partido Comunista Brasileiro (PCB)
Recentemente, o militante do PC chileno Mauricio Leandro visitou a sede nacional do PCB no Rio de Janeiro, entusiasmando-se com a história da placa cuja foto ilustra este texto.
Voltando ao Chile, aquele camarada manteve comigo uma simpática conversa virtual e, em seguida, divulgou seu inspirado artigo “101 anos do PCB: a história de uma placa”, publicado no Brasil pelos portais Opera Mundi [¹] e O Poder Popular.
Este fato suscitou há alguns dias um afetivo encontro naquela sede entre os militantes que havíamos participado da ação de resgate das letras e símbolos que compõem a placa e que, naquele momento, estavam em local inadequado, ou seja, na antiga sede do então Comitê Central, cujo núcleo dirigente conspirava para liquidar o partido alguns dias depois.
Esta ousada ação de resgate se deu às vésperas de um inexorável racha partidário, marcado para acontecer em São Paulo, no dia 25 de janeiro de 1992, em uma farsa cinicamente chamada de “X Congresso do PCB”, fraudado com o direito de voto atribuído a não militantes do partido e sem qualquer anteprojeto de tese política para debate, restrito à proposta de assassinar o PCB e escolher o nome do partido “laico” que o sucederia! A pasta fornecida aos “delegados” continha apenas algumas folhas de papel em branco e uma caneta!
O objetivo da bem sucedida ação de resgate daqueles símbolos era preservá-los para que, pouco tempo depois, viessem a ser ostentados naquela que seria a nova e verdadeira sede do CC, como uma lembrança da vitoriosa luta de milhares de camaradas que, em sua maioria, não mantiveram o PCB apenas por nostalgia ou patriotismo partidário, mas para reconstruí-lo desde uma perspectiva revolucionária.
Em nossas recordações, relembramos todos os detalhes da operação, desde o planejamento, o nosso encontro às 5 horas da manhã, as ferramentas utilizadas, a delicadeza de seu uso para preservação das peças retiradas do local, o transporte delas para fora do edifício, sua guarda em local seguro e as cervejas com as quais brindamos o êxito da empreitada, no lugar do café da manhã!
Lembramos de algumas reações, como a da camarada Zuleide, que se indignou com a nossa iniciativa, não por a termos levado a efeito, mas por não ter sido convidada a dela participar!
Foi com muita emoção que reencontrei, agora maduros, esses então jovens comunistas que aceitaram de pronto o chamado para aquela tarefa. Pela ordem na foto, da esquerda para a direita (física e não politicamente!), tenho orgulho de estar entre os camaradas Paulo Jorge (PJ ou Paulão), Jorge Luiz Fernandes (Jorginho) – desde então militantes no sindicalismo bancário do RJ – e Carlos Gustavo Tamm (Gugu), conceituado matemático e atual Presidente da Associação Cultural José Marti, de solidariedade a Cuba. [²]
Não posso deixar de lembrar que retiramos os símbolos e letras com muito zelo da parede onde não mereciam estar, um por um, para depois serem colocados neste vistoso painel de madeira pelo meu amigo e camarada de lutas Luiz Rodolfo Viveiros de Castro, mais conhecido como Gaiola, que aprendeu o ofício de carpinteiro para sobreviver no seu segundo exílio, desta vez na França, após a saída dos exilados brasileiros que viviam no Chile, em função do golpe da burguesia local e do imperialismo contra Salvador Allende, que pagou com a própria vida.
Guapimirim (RJ), 8 de abril de 2023
[¹] – https://operamundi.uol.com.br/permalink/79797
[²] – Infelizmente, o camarada Elvis Marciano, ex-dirigente do Sindicato dos Bancários do RJ e ativo participante daquela ação, não pode estar presencialmente em nosso encontro como desejava, por conta do advento de compromisso imprevisto.
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