O plano de assalto ao PC da Venezuela

PLANO DE ASSALTO E INTERVENÇÃO CONTRA O PARTIDO COMUNISTA DA VENEZUELA (PCV)

Birô Político do Comitê Central do PCV

O Partido Comunista da Venezuela (PCV) se separou definitivamente do governo do presidente Nicolás Maduro em 2020. A causa foi o descumprimento sistemático por parte do Governo do “Acordo Marco Unitário PSUV-PCV” assinado em abril de 2018 e a implementação de um agressivo programa de ajuste antipopular e ultraliberal a partir do mesmo ano.

A decisão política adotada pelo PCV de romper com um governo que não só descumpriu os acordos programáticos, mas também adotou uma via diametralmente oposta aos interesses da classe trabalhadora e das camadas exploradas, foi e continua sendo utilizada pela direção do PSUV para desencadear uma campanha violenta contra os comunistas venezuelanos.

A direção do PSUV, com traços profundamente antidemocráticos e autoritários, não aceita o legítimo direito do PCV de decidir autonomamente sua própria política. Por isso, atacou os direitos democráticos e eleitorais do PCV nos processos eleitorais de 2020 e 2021, e impede constantemente o deputado do PCV de exercer o direito de palavra nas sessões parlamentares.

Esse caráter antidemocrático é justificado por um falso discurso anti-imperialista e de “esquerda”. Assim utiliza as medidas coercitivas unilaterais ilegais e criminosas do imperialismo estadunidense e toda sua retórica “anti-imperialista” para atacar, reprimir e criminalizar qualquer manifestação de crítica e resistência do campo operário e popular à política econômica de teor neoliberal.

Como denunciamos desde 2020, o governo e a direção máxima do PSUV realizam uma campanha sistemática de difamação e insultos contra o PCV visando preparar o terreno para a execução de um plano de intervenção e assalto ao nosso Partido. Várias figuras do governo-PSUV, desde o Presidente da República e particularmente o vice-presidente do PSUV, levantaram irresponsavelmente falsas acusações contra o PCV de receber financiamento do governo dos Estados Unidos, de promover alianças com a direita e de servir aos planos imperialistas. É claramente uma manobra para criminalizar as lutas do PCV e preparar a opinião pública com vistas a cumprir o que se propõem: minar os direitos políticos e eleitorais do PCV e tentar impedir que surja uma alternativa revolucionária ao pacto das elites.

O PLANO DE ASSALTO E INTERVENÇÃO: SEQUÊNCIA DE FATOS

2021: Diosdado Cabello, vice-presidente do PSUV, dedica trechos de seu programa semanal de televisão, transmitido pela emissora estatal, para atacar o PCV e repetir o discurso da suposta subordinação do PCV aos planos do imperialismo.

Final de 2021: Diosdado Cabello, em seu programa, começa a implementar uma primeira fase do plano do PSUV para atacar o PCV. Este personagem, além de repetir sua retórica anti-PCV, começa a falar sobre a existência de supostas “organizações regionais do PCV” que lhe “enviam” cartas para mostrar seu apoio e criticar a política da direção do PCV. Assim, revela a manobra do PSUV: propagar na opinião pública nacional a mentira sobre a existência de uma divisão no PCV, para depois tentar repetir o esquema que aplicaram contra o PPT, TUPAMAROS, UPV, MEP, AD, etc. (partidos políticos do Grande Pólo Patriótico e da oposição de direita), onde – violando a autonomia e os direitos políticos desses partidos – passaram a intervir judicialmente para finalmente dar representação legal aos militantes dessa organização relacionados com a política do PSUV.

Setembro de 2022: Uma das cartas que o cidadão Cabello falou em seus programas de TV vazou. Trata-se de uma comunicação de setembro de 2022 e, como se pode ler em seu conteúdo, seus autores se fazem passar por militantes do PCV e pedem ao cidadão Diosdado Cabello que tome providências para intervir no PCV. Ou seja, esses supostos militantes pedem ao PSUV que passe por cima da Lei dos Partidos Políticos, atropele os direitos democráticos do PCV, seus estatutos e a democracia interna, para “resgatá-lo”. Como demonstramos detalhadamente, os indivíduos que assinam esta carta não são militantes do PCV, e o principal dirigente é um alto funcionário do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) em um município do estado de Monagas e a maioria são reconhecidos militantes ativos do PSUV .

Novembro de 2022: o XVI Congresso Nacional do PCV foi um golpe devastador nas aspirações da direção do PSUV de dividir o PCV para seus fins intervencionistas. O XVI Congresso foi contundente na adoção unânime de sua política de luta contra o ajuste antipopular do governo, foi reafirmada a linha de combate às ações imperialistas e procedeu-se a eleição de um novo Comitê Central, em que o camarada Oscar Figuera (principal centro dos ataques e infâmias da direção do PSUV contra o PCV) foi o mais votado pelos delegados do Congresso.

O golpe que o XVI Congresso Nacional desferiu nas ilusões da direção do PSUV de quebrar a unidade político-ideológica do PCV, para repetir a mesma manobra de intervenção que foi aplicada contra os partidos PPT, TUPAMAROS, UPV, MEP, AD, etc. os leva a acelerar a implementação de uma segunda fase de seu plano de assalto. Esta decisão é produto do desespero da direção do PSUV em sua busca por impedir que o PCV se consolide como uma alternativa de esquerda ao ajuste antipopular e ao pacto de elites, mirando as eleições presidenciais de 2024.

4 de fevereiro de 2023: Diosdado Cabello ordena que este grupo de mercenários que vinham organizando e financiando fossem visíveis à opinião pública, como supostas “bases do PCV” que apóiam a política antipopular do governo. Isso ocorre no marco de uma mobilização nacional do PSUV. Tudo indica que o governo do estado de Monagas, nas mãos do PSUV, deu todo o apoio logístico e financeiro a esse grupo de mercenários para que se mobilizassem na cidade de Caracas com camisetas, faixas e bandeiras confeccionadas com os logotipos do PCV, cometendo o crime de usurpação dos símbolos do PCV.

Durante o ato, o vice-presidente do PSUV, em seu discurso, reconheceu publicamente esse grupo de mercenários como “as bases do PCV”. Logo em seguida, a direção do PSUV e o Governo usaram de seu poder institucional para convocar a mídia pública e privada a dar ampla cobertura midiática a esse grupo de mercenários, cumprindo assim o objetivo de apresentá-lo como as “bases do PCV” e divulgar a falsa ideia de que o PCV estava dividido. Este fato mostra a estreita aliança que o PSUV mantém com importantes setores do empresariado de comunicação. Três grandes meios de comunicação privados (Globovisión, Televen e Venevisión) responderam ao chamado do PSUV para cobrir a farsa dos mercenários. Esses mesmos meios de comunicação ignoraram a exigência do PCV de exercer seu direito de resposta, o que também demonstra a subordinação dessas empresas privadas de comunicação à direção do PSUV-Governo.

11 de fevereiro de 2023: a liderança do PSUV aloca recursos financeiros substanciais para financiar e organizar uma reunião das supostas “bases do PCV” em um luxuoso hotel localizado no estado de Monagas. Chamaram-lhe “Encontro para o Resgate do PCV”. Neste evento foi descoberto o seguinte:

1. Os supostos militantes do PCV que enviaram cartas a Diosdado Cabello nunca existiram;

2. Os chefes dos mercenários e das supostas bases não são membros do PCV;

3. O PSUV recrutou militantes de suas fileiras, de organizações do Grande Pólo Patriótico e de altos funcionários públicos estatais para levar a cabo a farsa da “cisão do PCV”;

4. O governo do estado de Monagas é provavelmente a fonte de apoio logístico e financeiro para a execução do plano de assalto contra o PCV.

A suposta assembleia de Monagas demonstrou o nível de desespero da direção do PSUV e sua perigosa perda de escrúpulos. Não conseguindo dividir o PCV, montaram um teatro pago com recursos públicos e com personagens recrutados em suas fileiras para vender a ideia de uma divisão do PCV. Eles mostraram que estão dispostos a usar todo o seu poder institucional e comunicacional para anular a Constituição e as leis a fim de cumprir sua finalidade: apropriar-se pela força da figura jurídica do PCV.

15 de março de 2023: o áudio de um telefonema de um líder nacional e deputado do PSUV – Jesús Farías, personagem nefasto odiado pela classe trabalhadora venezuelana por ser o principal justificador da política de pulverização de salários e direitos trabalhistas do governo de Nicolás Maduro. Este cidadão confirma no áudio que é a direção do PSUV quem está puxando os cordões do plano de intervenção do PCV, e detalha os próximos passos a seguir: realizar assembleias nas regiões e contatar ex-militantes do PCV para adicioná-los ao plano.

18 de março de 2023: realiza-se uma dessas primeiras assembleias de que fala o dirigente do PSUV no áudio. Foi uma assembleia realizada em uma região localizada no interior do país (Barinas). Com relação aos participantes desta assembleia, confirma-se mais uma vez que não há uma única organização de base do PCV auxiliando estas farsas, e que o PSUV, além de dar apoio logístico e financeiro, também está prestando assistência à mobilização de militantes de sua organização e funcionários públicos para lotar os eventos organizados pelos mercenários. Nesta atividade, os mercenários expuseram o plano da direção do PSUV: “promover todas as ações legais necessárias para conseguir o resgate do PCV, seu controle e direção…” por este grupo de mercenários bancados pelo PSUV e que se autodenominam “bases do PCV”, divulgando ainda a convocatória para um suposto evento nacional no mês de maio.

Para algumas organizações que têm o PSUV e o governo de Nicolás Maduro como referência progressista ou de esquerda, deve ser difícil digerir e aceitar essa realidade maquiavélica. Mas é assim: a direção do PSUV e o governo de Maduro estão trabalhando para pegar a legenda e a personalidade jurídica do PCV e entregá-las a um grupo de mercenários recrutados em suas fileiras. Esta é uma manobra no nível dos piores ataques da social-democracia e da ultradireita internacional contra os direitos democráticos dos partidos comunistas e operários do mundo que ocorreram na história.

29 de março de 2023: Diosdado Cabello, vice-presidente do PSUV, recebe e apresenta pela primeira vez os líderes dos mercenários em seu programa de televisão. Este é um fato importante e revelador. Aqui se demonstra mais uma vez publicamente que nunca existiram as cartas de militantes do PCV e de organizações de dirigentes de que tanto falava em sucessivos programas. Ele recebeu apenas uma carta, e é a que citamos antes, e não era de militantes do PCV, mas da conspiração armada pelo PSUV. À medida que avança o plano de intervenção e assalto contra o PCV, fica exposta a total falta de modéstia e vergonha da direção do PSUV. O fim justificou o uso dos meios mais desavergonhados.

Uma prova contundente do nível de decomposição política do PSUV é o perfil da pessoa que designaram para se assumir como porta-voz do grupo de mercenários que se apresentam como “bases do PCV”. Trata-se da cidadã Griseldys Herrera – uma pessoa que nunca teve vínculo com o PCV e que é uma conhecida alta funcionária do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e do governo do estado de Monagas. Ela ocupa o cargo de assessora jurídica do governo desse estado, ou seja, é um quadro político de confiança do governador do PSUV naquela região, Ernesto Luna. Esta cidadã, antes de receber a ordem de seus chefes no PSUV para liderar este plano de ataque ao PCV, exercia funções de alto escalão.

O perfil desta principal porta-voz dos mercenários indicada pelo PSUV mostra que se trata de um plano bem elaborado do PSUV que pretende deixar a representação legal do PCV nas mãos de quadros de sua total confiança, caso o assalto judicial seja executado.

15 de abril de 2023: os mercenários deram uma coletiva de imprensa no estado de Táchira junto com um ex-líder regional do PCV naquela região chamado Henry Parra. Esse personagem foi expulso do PCV em 2021, quando no contexto das eleições regionais daquele ano tentou dividir o PCV para apoiar os candidatos do PSUV. Este foi um fato público reproduzido na imprensa regional. Em virtude disso, o senhor Parra e sua camarilha de oportunistas foram atrás do PSUV e dos cargos institucionais que lhe foram oferecidos. Os que compareceram àquela conferência de imprensa não são militantes do PCV, sendo alguns ex-militantes expulsos no quadro do processo eleitoral de 2021. Todos ocupam cargos dirigentes em diversas instituições do Estado. É importante notar que esta coletiva de imprensa foi realizada no Palácio de los Leones, sede do parlamento regional controlado pelo PSUV. Apenas o PSUV e o governo regional têm acesso a esses espaços.

O PSUV E SEUS MERCENÁRIOS COMETEM IMPUNEMENTE AS SEGUINTES VIOLAÇÕES:

● Difamação e infâmia contra o PCV sem apresentação de provas. Falam irresponsavelmente que o PCV recebe dinheiro dos EUA e ex-ministros do PSUV, sem apresentar nenhuma prova. Para essas calúnias são previstas severas punições no sistema jurídico venezuelano.

● Usurpação de logotipos e símbolos do PCV.

● Negam ao nosso parlamentar o direito de falar na Assembleia Nacional.

● Tudo indica que eles usam recursos públicos do governo e de entidades públicas para financiar sua campanha contra o PCV.

● Atacam o PCV na mídia pública e negam o direito constitucional de contestação ou defesa.

CONCLUSÕES

No PCV temos provas suficientes para garantir que existe uma decisão firme nas altas esferas do Governo Nacional para materializar a intervenção judicial contra o PCV. A estratégia desonesta e mafiosa do PSUV foi revelada e exposta. Por mais que tenham tentado com todo o seu poder e dinheiro atrair militantes do PCV para seu plano desastroso, não obtiveram resultados. É uma ação vergonhosa e desesperada, porque não puderam e não vão quebrar a unidade e a dignidade da militância do PCV, assim como nossa firme determinação de lutar contra o ajuste antipopular do governo de Nicolás Maduro e dos empresários.

Esta escalada das agressões da direção do PSUV contra o PCV começa, se acelera e se aprofunda ao mesmo tempo em que se intensificam os protestos dos trabalhadores por salários decentes. São quatro meses de contínuas e massivas mobilizações de trabalhadores em todo o país reivindicando reajustes salariais iguais aos da cesta básica e o restabelecimento de seus direitos trabalhistas.

Essa indignação popular aumenta após os recentes escândalos de corrupção, onde toda uma rede mafiosa de dirigentes, testas de ferro e empresários do PSUV aparece envolvida em um golpe contra a nação de mais de 20 bilhões de dólares. O governo teme a possibilidade real de que esse crescente descontentamento das massas trabalhadoras se cristalize em uma alternativa política de classe ao pacto das elites entre os dois pólos da burguesia nacional – o PSUV no poder e a burguesia tradicional.

O PCV não faz nenhuma aliança com partidos ou forças de direita na Venezuela: nossa política é clara – construir a alternativa independente da classe trabalhadora e das camadas populares contra o ajuste neoliberal do pacto das elites. É o governo e a direção burguesa do PSUV que promove alianças e acordos com a direita tradicional, inclusive com o imperialismo estadunidense e europeu. Não temos dúvidas de que os ataques contra o PCV e sua intenção de agredir e intervir em nossa organização também correspondem a esse esforço do governo em demonstrar ao capital nacional e mundial sua boa vontade e obediência. Nada é mais atraente para o capital mundial do que operar em um país onde o Partido Comunista está fora da lei e o movimento trabalhista tem seus direitos sindicais restritos.

A situação atual é muito perigosa: se o PSUV conseguir levar adiante seu plano de atacar e intervir no PCV, a ação política de nosso Partido será proibida. Um bando de mercenários aparecerá como representantes de nossa organização, usurpando nossa legenda, e isso abrirá as portas para que medidas repressivas e persecutórias sejam realizadas contra nossa militância e patrimônio.

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Acesse mais informações sobre o plano de assalto do PSUV contra o PCV: https://prensapcv.wordpress.com/