Viva os 96 anos da União da Juventude Comunista!

A criação da Juventude Comunista do PCB foi aprovada em janeiro de 1924, em reunião do Comitê Central. As dificuldades iniciais para concretizar a resolução começaram a ser superadas com a designação de Leôncio Basbaum para cumprir a tarefa nacional, pois já desenvolvia trabalhos com jovens comunistas em Recife e Salvador. Em 1926, de maneira bastante embrionária, a Juventude Comunista começou a recrutar jovens operários e organizar os primeiros Diretórios Acadêmicos do país.

Nascido no Recife em 06 de novembro de 1907, filho de imigrantes judeus proprietários de uma pequena joalheria na capital pernambucana, Leôncio Basbaum, logo após completar o ginásio em março de 1924, embarcou para o Rio de Janeiro, então Distrito Federal, ingressando na Faculdade de Medicina, pela qual se formaria em 1929. Já nos seus primeiros tempos de Rio de Janeiro, em 1925, Basbaum entrou em contato com Astrojildo Pereira, João da Costa Pimenta e outros militantes do Partido
Comunista Brasileiro, tornando-se membro do Partido e formando a primeira célula da Faculdade de Medicina. Foi também eleito para a primeira diretoria da União dos Trabalhadores Gráficos, da qual fez parte por trabalhar como revisor na Gazeta de Notícias, a fim de sustentar os estudos. Em 1927, durante as férias, organizou em Recife um comitê regional de jovens comunistas. Voltando ao Rio, foi encarregado de criar a Juventude Comunista e tornou-se membro da comissão central
executiva (CCE) do PCB como representante da organização a ser criada.

Da fundação às lutas contra o fascismo e o Estado Novo

Leôncio Basbaum passou a escrever no Jornal A Nação uma série de artigos sobre a juventude operária e a necessidade de se constituir uma organização específica da juventude. O dia 1º de agosto de 1927 foi escolhido para o Ato de Fundação da Juventude Comunista, pois congregava na mesma data o Dia Internacional da Juventude e o Dia Internacional de Luta Contra a Guerra, bandeira defendida pelas juventudes comunistas em todo o mundo. O local escolhido para o evento foi a combativa União dos Trabalhadores Gráficos (UGT), no Rio de Janeiro. Leôncio Basbaum foi eleito Secretário Geral, cargo que ocupou até o ano de 1929, quando completou 21 anos e, seguindo as decisões estatutárias de então, deveria ingressar no PCB. Foi criado o jornal O Jovem Proletário. Quanto às relações internacionais, a JC teve inscrição aceita na Internacional da Juventude Comunista, de onde recebeu o convite para participar do seu V Congresso.

O PCB e a sua Juventude Comunista participaram ativamente do amplo movimento de resistência ao fascismo, ao integralismo e à crescente postura autocrática do governo Vargas. Os jovens comunistas organizaram a Conferência Nacional de Estudantes Antifascista, participaram de confrontos com os integralistas (o mais famoso foi a chamada Batalha da Sé, em São Paulo, com diversos feridos e quatro mortos) e fundaram em 1935 o jornal Juventude, que, sucedendo o Jovem Proletário, buscava incentivar a criação dos “mais amplos e variados organismos de massas, culturais, recreativos e esportivos e etc nas cidades e no campo”.

Seguiu-se um período de violenta perseguição aos comunistas e às organizações operárias e populares, na esteira da forte repressão ao Levante Comunista de Novembro de 1935. Mesmo sob intensa clandestinidade, a Juventude Comunista e o PCB cumpriram papel fundamental na luta pela entrada do país na II Guerra ao lado dos aliados contra o Eixo e as potências fascistas, bem como na luta pelas liberdades democráticas.

Os Jovens Comunistas criam a UNE

Mesmo em condições profundamente adversas, os jovens comunistas buscaram intensificar sua atuação no movimento estudantil, jogando papel fundamental na criação da UNE, a União Nacional dos Estudantes, em dezembro de 1938. Um dos principais ativistas foi o jovem militante comunista Irun Sant’Anna, que muito contribuiu para as mobilizações, agitações e a organização das lutas estudantis no Rio de Janeiro, capital da República.

Com a retomada da organização nacional do PCB após a realização da Conferência da Mantiqueira (1943), o fim do Estado Novo e a derrota do nazifascismo em 1945, tendo a União Soviética como grande protagonista da vitória dos países aliados, os comunistas retornam à legalidade e conquistam expressiva votação nas eleições para a Assembleia Constituinte, instalada em 1946. O PCB coloca novamente na ordem do dia a necessidade de reorganizar a Juventude Comunista, agora como UJC, União da Juventude Comunista. A nova onda repressiva desencadeada pelo governo Dutra no período da Guerra Fria impõe mais uma vez a ilegalidade do PCB, e a UJC deixa de atuar por mais algum tempo.

Somente em novembro de 1950, o jornal Voz Operária publicaria as resoluções do Comitê Central do PCB sobre a reorganização da União da Juventude Comunista: “O Partido tem o dever de indicar aos milhões de jovens brasileiros o caminho de sua organização e de sua unidade na luta pela paz, pela libertação nacional, pela democracia popular e pelo socialismo”. O documento afirmava: “A União da Juventude Comunista precisa ser uma ampla organização que abarque todos os jovens, moços e moças (…) que queiram lutar decididamente e aceitem a orientação do PCB”. Neste período destacou-se a figura de seu presidente, o João sem Medo, como era conhecido o jovem João Saldanha, que também teve decisiva participação nas lutas pela terra no Paraná, na conhecida Revolta de Porecatu, para onde foi enviado pelo CC do PCB para auxiliar na direção dos combates organizados pelos lavradores contra o latifúndio e as forças policiais.
A UJC atuou nas campanhas contra a participação brasileira na guerra da Coréia e pelo “Petróleo é Nosso”. Em 1956, integrou a chapa que tirou a UNE das mãos das forças de direita. Os jovens comunistas fizeram também sua intervenção na UBES e tiveram atuação fundamental na construção dos Centros Populares de Cultura. No plano internacional, a UJC associou-se à União Internacional dos Estudantes e à Federação Mundial da Juventude Democrática, da qual foi também fundadora.

O Brasil do final dos anos 1950 e início dos anos 1960 vivenciou um momento de grande efervescência política e cultural. O aprofundamento das relações capitalistas, ampliando as situações de conflitos e contradições sociais, foi acompanhado da formação de novos aparelhos privados de hegemonia e do acirramento da luta de classes no país. De um lado, era possível perceber a desenvolta participação dos sindicatos operários e de trabalhadores rurais, das Ligas Camponesas, do ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros), da UNE e dos Centros Populares de Cultura, organizações comprometidas com propostas alternativas ao sistema dominante. De outro lado, os setores conservadores da Igreja Católica, latifundiários, banqueiros, grandes empresários da indústria e do comércio, articulados em torno de instituições como o IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais), o IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática) e a ESG (Escola Superior de Guerra), queriam aprofundar a dominação burguesa e avançar as relações capitalistas, em associação com o capital internacional.

Comitê Cultural do PCB, golpe de 1964 e resistência à ditadura

O Comitê Cultural do PCB, formado basicamente por jovens comunistas, atuou no interior do CPC da UNE, cuja luta por uma cultura nacional-popular casava-se sem problemas com a proposta comunista de revolução democrático-burguesa. Do CPC fizeram parte nomes que despontariam como figuras de grande expressão na cultura brasileira: Oduvaldo Vianna Filho, Ferreira Gullar, Gianfrancesco Guarnieri, Paulo Pontes, Carlos Diegues, Carlos Nélson Coutinho, Leon Hirszman, José Carlos Capinam, dentre os quais o primeiro deles, Vianinha, destacava-se como “a grande cabeça” ou “a alma” dos movimentos liderados pelo CPC.

O golpe de abril de 1964, construído pelas frações hegemônicas burguesas, não encontrou nem as organizações populares, nem o Partido Comunista Brasileiro (cuja linha política definida na Declaração de Março de 1958 contribuiu para desarmar o Partido no enfrentamento ao golpe burguês) em condições de estruturar a resistência imediata, impondo ao conjunto das forças democráticas e de esquerda mais um duro período de repressão e clandestinidade. Ainda em 1964 multiplicaram-se as intervenções em sindicatos e universidades, tendo sido fechadas a UNE e as Uniões Estaduais dos Estudantes. Instituíram-se os inquéritos policial-militares (IPMs) – o de número 709 fazia ampla investigação sobre a vida do PCB – e foi criado o Serviço Nacional de Informações (SNI). Em 1965 aprofundava-se a subordinação ao capital estadunidense: FMI e BID concediam créditos ao Brasil, eram assinados acordos com a Aliança para o Progresso, firmava-se o acordo MEC-USAID, que passava a orientar a reforma universitária brasileira.

O movimento estudantil assumiu papel de vital importância no combate à ditadura civil-militar, buscando a princípio combater a ditadura por meio de amplos movimentos de massas como aqueles promovidos ao longo do ano de 1968, após a morte do secundarista Edson Luís, em ação da polícia no Restaurante Calabouço, no Centro do Rio, frequentado majoritariamente por estudantes. O AI-5 foi decretado pelos militares para tentar impedir qualquer tipo de manifestação contrária ao regime. Diversos grupos políticos de esquerda e setores da juventude optaram pela luta armada como forma de combate, linha não adotada nem pelo PCB nem pela UJC. Mesmo assim, a ditadura, após desmantelar os grupos armados, promove o massacre dos comunistas por meio da Operação Radar, quando 1/3 do Comitê Central do PCB foi assassinado, bem como diversos militantes do Partido e muitos jovens da UJC, inclusive seu secretário geral, José Montenegro de Lima “desaparecido” em 1975.

Lutas democráticas e Reconstrução Revolucionária

A UJC ressurgiu em 1985, junto com a legalidade do PCB, porém, em virtude da postura de conciliação de classes adotada pela cúpula dirigente do Partido, o discurso diluído e com fraca capacidade de mobilização afastou, paulatinamente, a juventude mais aguerrida das fileiras da UJC. Agravou-se a luta interna nos anos 80 e início dos 90. A crise do Socialismo e a queda da União Soviética serviram para justificar a defesa do fim do PCB por parte do grupo liquidacionista, que viria a fundar o PPS em 1992. O movimento nacional em defesa do PCB, que contava em suas fileiras com diversos militantes da juventude, realizou, no ano seguinte, o verdadeiro X Congresso do PCB, que aprovou a reativação da UJC. As teses para o X congresso do PCB afirmavam “Ter especial atenção com a formação dos jovens comunistas, com a ativa renovação revolucionária da UJC, como instrumento de atuação dos comunistas na juventude, (…) Este é o grande investimento do Partido em longo prazo, pois os jovens são os verdadeiros continuadores da história, tradições e lutas do Partido Comunista Brasileiro”. As teses procuravam formular uma série de bandeiras gerais para unificar a atuação da juventude.

Em 1994, no mês de agosto, ocorreu no Rio de Janeiro, no Sindicato dos Médicos, o Congresso de reorganização da UJC, que elegeu como sua presidente a estudante e militante da UJC em São Paulo, Sofia Pádua Manzano. Nos anos seguintes a UJC voltou a participar da UNE e procura desenvolver outras frentes de atuação. Nos anos seguintes, os jovens comunistas atuaram no movimento estudantil atuavam através Movimento “A Hora é Essa, Ousar Lutar – Ousar Vencer”, que priorizou, em âmbito nacional, a atuação dentro da UBES e UNE. A UJC desenvolveu trabalho cultural em diversos estados, buscando organizar as lutas da juventude e dos jovens trabalhadores. No âmbito internacional, foram reativadas as relações internacionais, com participação nos Festivais Mundiais da Juventude e nos fóruns da FMJD (Federação Mundial da Juventude Democrática).

Após a realização do XIII Congresso do PCB em 2005 foi aprovada a reativação da União da Juventude Comunista e o processo de reorganização da UJC se efetivou com o IV Congresso Nacional, ocorrido na cidade de Belo Horizonte – Minas Gerais em 2006. O camarada Túlio Lopes foi então eleito Secretário Geral da UJC, que tinha também em sua coordenação nacional os/as camaradas Heitor César, Renata Regina, Paulo Vinícius Maskote, Rodrigo Lima, dentre outros. Na sequência, foram realizados o V Congresso (2010), o VI Congresso (2012), o VII Congresso (2015) e o VIII Congresso (2018), quando esteve à frente da coordenação nacional o camarada Luís Fernandes, substituído por Gabriel Lazzari em março de 2019. O IX Congresso Nacional, realizado em São Paulo em 2022, elegeu Maria Carol secretária política da UJC, sendo a segunda mulher a comandar a juventude comunista do PCB.

Nos últimos anos, é cada vez mais crescente a participação da delegação da UJC e do Movimento pela Universidade Popular (MUP) nos Congressos da UNE, a exemplo da destacada atuação no congresso deste ano, que contou com a presença de mais de 700 militantes e simpatizantes do Movimento por uma Universidade Popular (MUP), de todas as regiões do Brasil, a maior delegação da história recente da UJC. Os jovens comunistas seguem firmes no propósito de impulsionar a luta dos estudantes em todas as universidades e escolas do Brasil, bem como nas batalhas da classe trabalhadora e dos movimentos populares para enfrentar os ataques do capital, que seguem céleres mesmo após a derrota de Bolsonaro e com o governo de Lula/Alckmin.
A UJC, através de sua rica trajetória ao longo de 96 anos, demonstra, lado a lado com o Partido Comunista Brasileiro, a Unidade Classista, o Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro, o Coletivo Negro Minervino de Oliveira e o Coletivo LGBT Comunista, a possibilidade concreta de se organizar de maneira revolucionária a juventude brasileira. A UJC esteve presente nos momentos cruciais da nossa história, em vários momentos extrapolando as lutas juvenis e assumindo de coração as mais relevantes lutas do povo brasileiro, em defesa dos plenos direitos da juventude e da classe trabalhadora, pelo fim do capitalismo e a construção do poder popular, no rumo do Socialismo/Comunismo.

A UJC é a Juventude Comunista do PCB.

Viva a União da Juventude Comunista (UJC) e seus 96 anos!

Pelo Poder Popular! Pelo Socialismo!

Fontes: https://pcb.org.br/portal2/23707

https://pcb.org.br/portal2/26856

Agenda 2022 da Fundação Dinarco Reis: Partido Comunista Brasileiro – 100 anos