Preparar a UJC para um novo ciclo

O mais recente racha do PCB, autodenominado RR, teve seu principal eixo dentro da UJC, sendo o coletivo partidário mais atingido e o que teve suas estruturas internas mais abaladas, contando com o sequestro de materiais, finanças e informações, assim como a quebra de trabalhos e quadros. Porém, além das consequências político-organizativas, o racha foi responsável por alimentar nas nossas fileiras um sentimento de desânimo, desconfiança e desmoralização das direções da Juventude e do Partido que precisa ser recuperado.

Já se torna evidente a esta altura que a prática política da polêmica pública, defendida e exercida pelo RR (mesmo antes da ruptura definitiva), não traz nenhum fruto, abrindo espaço para a disputa desonesta e sem princípios, desmoralizando as direções do Partido e fazendo pouco para coibir as práticas mandonistas e golpistas no interior das organizações. Pelo contrário, vemos o surgimento de um Partido errático e esquerdista, que aponta para a existência de correntes internas, a dissolução dos Coletivos e da Juventude enquanto frentes de massa, e tornando nebulosa a diferenciação entre militantes e amigos do Partido.

Reconhecer que o racha deu origem a uma organização distinta de pessoas não mais presentes nos coletivos e órgãos partidários certamente não significa dizer que as questões que nos afastam do que buscamos realizar deixaram de existir. Em outras palavras, isso não nos exime da responsabilidade coletiva de superar dialeticamente problemas e desafios que enfrentamos e que foram instrumentalizados pelo movimento fracionista, avançando nossas formulações políticas e valorizando nossos espaços internos de debate e nossa democracia interna no geral.

A prática sempre se revela o critério da verdade, e no lugar de se envolver em provocações públicas no terreno muitas vezes favorável aos fracionistas, como as redes sociais, devemos disputar os símbolos e a história da nossa organização (que ainda são reivindicados por eles) através do nosso trabalho concreto, da nossa unidade de ação e disciplina revolucionária. Como já ocorreu em vários outros momentos, a nossa postura consequente, distinta de ações esquerdistas, por exemplo, será capaz de nos tornar uma organização de referência para a juventude. Dito isso, fica evidente a necessidade de uma reorganização a nível nacional da UJC, visando a superação dos vícios então vigentes e uma maior adequação da atuação política em conjunto com o PCB.

Como já fora indicado anteriormente, apesar da atuação organizada do fracionismo dentro da UJC, visando disputar o IX Congresso Nacional da UJC, avaliamos que a linha vitoriosa dentro do último Congresso foi a linha consequente e revolucionária, condizente com os objetivos partidários e que fortalece a ligação entre o PCB e a UJC. Isso se mantém verdade ainda que possam ser notados diversos “atropelos” feitos pela sistematização do Congresso, passando batidos diversos pontos que não foram discutidos em plenária final.

Sendo estes fatos consumados, o papel da CN UJC (Coordenação Nacional da UJC) agora é recuperar o ano de trabalho perdido desde o IX Congresso, tempo este que não foi utilizado para formar um corpo dirigente nacional ou para colocar em andamento a política congressual em sua integralidade, somente aqueles pontos que eram interesses do corpo dirigente fracionista. O burocratismo e o descompromisso partidário foram então os principais problemas da UJC, sendo inadmissível que estes se mantenham vigentes no novo período.

Não bastassem os desvios incutidos no fracionismo, o processo do racha ainda logrou em desarticular a UJC a nível nacional, quebrando boa parte do trabalho nas regiões Norte e Sul, e prejudicando a inserção nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, ficando o Sudeste, ainda que muito afetado, como um dos pontos mais estáveis da UJC nos dias de hoje. E restam aqui diferenças profundas sobre o desenvolvimento do racha, nos permitindo estabelecer algumas diferentes caracterizações do processo.

Onde o fracionismo lograra se tornar hegemônico, como em São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, houve um movimento articulado por cima, pelas CRs, mas que não conseguiram levar a integridade das bases, restando muitos núcleos fiéis ao Partido. Em estados onde ele tinha conseguido grandes avanços, mas ainda não era hegemônico, como Bahia, Minas Gerais e Distrito Federal, ficou evidente uma articulação escusa, por fora das instâncias, buscando construir uma maioria e tomar a organização de assalto. Já na grande maioria do país, no restante dos estados do Norte, Nordeste e Centro-oeste, foi priorizada a atuação de “emissários” do racha, na figura de assistentes ou por meio das Secretarias de Organização, que buscaram militantes insatisfeitos com o funcionamento do Partido no estado para criar uma rusga artificial e forçar o rompimento, principalmente através do filtro de informações e do sufocamento das vozes dissonantes.

E da mesma forma que nos cabe a superar os desvios apontados, também é tarefa desta direção preparar as condições para a reorganização da UJC de norte a sul, no país inteiro.

Sabemos que essas são grandes tarefas, e que será necessária uma direção renovada para concretizá-las. É então nesse espírito que convocamos militantes de todo o país para recompor a CN UJC, prezando pela recomposição qualitativa das nossas fileiras e pela preparação de quadros para fortalecer o PCB na difícil tarefa de construir a Frente Anticapitalista e Anti-imperialista no Brasil.

O papel da UJC na conjuntura
Em consonância com a avaliação do PCB da nossa atual quadra histórica, exposta na nota Derrotar o projeto burguês e a conciliação de classes!, a UJC entende que estamos diante da abertura de um novo ciclo de lutas, onde a conciliação da social democracia abre um vácuo político, que pode tanto ser utilizado para o fortalecimento do fascismo quanto para a construção de um campo contra-hegemônico e revolucionário, de caráter anticapitalista e anti-imperialista, onde os comunistas exercem um papel fundamental.

Colocada essa abertura histórica, as condições objetivas da classe, e especialmente da juventude, pesam sobre os ombros dos revolucionários. Apesar do ciclo mais recente de fortalecimento da esquerda revolucionária no movimento estudantil, por exemplo, este ainda está longe da grandeza necessária para sua tarefa histórica de conduzir o conjunto dos estudantes brasileiros (que compõem 7,8 milhões no Ensino Médio e 8,4 milhões no Ensino Superior) na construção de uma educação popular, que implica a emancipação humana e construção do socialismo.

Mais amplamente, é necessário avançar na organização da juventude da classe trabalhadora, seja nos locais de estudos, mas também de moradia e trabalho, difundindo entre as massas a importância da defesa do projeto socialista e comunista, através da luta econômica por melhoria das nossas condições de vida, da luta pela ampliação das liberdades democráticas e garantia dos direitos sociais, e da luta política pela tomada do poder mediante a construção do Poder Popular. Logo, dado o tom geral dos acontecimentos e da condição atual de fraqueza dos órgãos de poder independente e a cooptação das lutas para o calendário institucional da socialdemocracia, é tarefa dos comunistas apresentar à juventude um programa revolucionário, expresso em um calendário de lutas que reverta os avanços do neoliberalismo e construa a ofensiva da classe trabalhadora em torno tanto da melhora imediata das condições de vida como do fortalecimento da estratégia socialista.

Além disso, ainda faltam léguas para a conformação de um campo político revolucionário com unidade de ação. E cabe a UJC, em conjunto com o PCB, nos aproximar das organizações que defendem em seu programa a Revolução Socialista e demonstram coerência em sua prática política. Para romper com o esquerdismo, que nos isola de diversas construções políticas pelo país, devemos retomar os contatos com as organizações da classe e as forças políticas, apontando pela crítica fraterna e pelo exemplo os caminhos de construção de um movimento revolucionário na juventude.

Isso se torna ainda mais candente quando estamos nos aproximando de um ano eleitoral, nas eleições municipais e na ocasião do CONUBES, sendo a primeira um espaço em aberto para a disputa das noções de Direito à Cidade, centrais para o movimento de Bairros, e a segunda uma grande oportunidade para a abertura de trabalho no ME Secundarista. E em ambas, a recuperação diálogo íntimo com o PCB é seminal, visando fortalecer nossas pautas e avançar na organização dos Jovens Trabalhadores e Estudantes Secundaristas, eixos prioritários do IX Congresso.

Dentro desse papel histórico, e visando superar o descompasso histórico entre as pastas de Movimento Estudantil – sobretudo universitário de universidades públicas –, Movimento de Bairros e de Jovens Trabalhadores, temos algumas tarefas para a UJC nessa conjuntura.

A primeira é redirecionar a nossa política no movimento estudantil, apostando na consolidação das frentes de massas do MUP (Movimento por uma Universidade Popular) e do MEP (Movimento por uma Escola Popular) junto ao Partido, no fortalecimento da organização do movimento estudantil por área e na unificação das mobilizações do setor da educação, em conjunto com sindicatos e associações. Mais especificamente, conforme delimitado no IX Congresso, é fundamental ampliar a nossa atuação no movimento secundarista em geral e, vinculado a ele o movimento de estudantes do Ensino Profissional Técnico (EPT), que por sua vez se associa à inserção no movimento de jovens trabalhadores e a inserção nas universidades privadas de massas.

A segunda se coloca no âmbito do trabalho de bairros, uma frente de atuação esvaziada por grande parte das forças políticas de esquerda, mas com alto potencial de inserção política para a UJC, principalmente em conjunto com o PCB. A organização da juventude trabalhadora pelos seus locais de moradia e a construção de trabalho contínuo e efetivo nos territórios, sobretudo nas periferias das cidades grandes e médias, é um fronte central para os jovens comunistas, sendo um dos pontos da sociabilidade burguesa onde as contradições são mais gritantes e escancaradas. Os principais eixos de inserção nessa área são os debates sobre a segurança pública e as lutas pelo direito à cidade (nos temas de infraestrutura, saneamento, moradia, educação, saúde, cultura e lazer).

A terceira é a organização dos jovens trabalhadores, dialogando e definindo com o PCB as categorias específicas de atuação da UJC, delimitando as prioridades de organização dos jovens comunistas, indicando tanto os setores estratégicos para a inserção a longo prazo quanto aqueles que possibilitam um avanço qualitativo da luta em tempos mais imediatos. Essa definição deve levar em conta o grau de sindicalização, a idade média dos trabalhadores do setor e a consonância destes com os setores estratégicos indicados pelo PCB no seu XVI Congresso.

Coordenação Nacional da UJC

11 de dezembro de 2023