Mais prisioneiros palestinos em risco de morte

De novo, a intransigência das autoridades de Israel leva os presos políticos em greve de fome a um sofrimento desnecessário. A rede palestina de solidariedade pede apoio internacional para pôr fim à situação

Baby Siqueira Abrão

Correspondente no Oriente Médio

Akram Al-Rikhawi tem 39 anos e 13 filhos – cinco de um irmão já falecido, dos quais cuida desde 17 anos e que depois foram adotados por ele e pela esposa. Mora na cidade de Rafah, na Faixa de Gaza. Em 7 de junho de 2004, ao voltar para casa depois de mais um dia de trabalho, Akram, como de costume, diminuiu a marcha do carro no posto de controle militar de Abu Ghouli, entre Rafah e a Cidade de Gaza. Também como de costume, entregou sua carteira de identidade (ID) ao soldado que se aproximou do veículo. Mas, ao contrário do que acontecia antes, naquele 7 de junho ele foi detido. Akram não sabia, mas o exército decretara sua prisão em setembro de 2000, início da Segunda Intifada. Por que os oficiais levaram quatro anos para prendê-lo, mesmo vendo-o várias vezes no checkpoint, é mais um desses mistérios que só Israel pode esclarecer.

Ao ser levado para o centro de detenção, Akram teve as roupas arrancadas pelos soldados. Logo em seguida eles saíram, e voltaram acompanhados por cães treinados, para intimidá-lo e amedrontá-lo. Pouco mais tarde um tribunal militar israelense o sentenciou a 9 anos de prisão.

Ele cumpre pena no centro médico de Ramle desde que foi detido, em consequência de doenças crônicas, como asma, colesterol alto, insuficiência renal e imunodeficiência. Antes da prisão, o tratamento para a asma era à base de injeções de Kenacort, medicamento que o serviço prisional israelense (IPS) o impede de tomar. Pior: passaram a aplicar nele injeções de cortisona, que provocaram efeitos colaterais graves e foram a causa de novas doenças crônicas, como diabetes, glaucoma e osteoporose.

Em 12 de abril deste ano Akram entrou em greve de fome para reivindicar liberdade, dadas suas sérias condições de saúde. O acordo entre o IPS e os representantes dos presos políticos, que em 14 de maio pôs fim à greve de fome de quase todos os prisioneiros, não o atendeu. Três apelações de soltura, uma em 2010, a segunda no começo de 2012 e a terceira em 5 de junho, foram rejeitadas, apesar de todo prisioneiro ter direito à antecipação da liberdade depois de cumprir dois terços da pena, como é o caso de Akram, e a despeito de seu grave estado de saúde. Também foram recusadas as apelações da organização Médicos por Direitos Humanos, seção de Israel (MDH-I), para que ele fosse encaminhado a um hospital civil a fim de receber tratamento adequado. E apenas em 6 de junho um dos voluntários da MDH-I obteve autorização para examiná-lo.

Em meados de maio Akram passou a recusar tratamento médico. Por causa disso, o número de injeções de cortisona aumentou. Com quase 85 dias em greve de fome, ele – arrimo financeiro e emocional da família, que passa necessidades em consequência de sua prisão – emagreceu 18 quilos, teve uma severa perda muscular e sofre com inflamações. Está em risco iminente de morte.

Mona Neddaf, advogada da Associação Addameer de Direitos Humanos e Apoio aos Prisioneiros conseguiu visitá-lo em 19 de junho e constatou que Akram está muito cansado e fraco. Três dias antes ele passou a recusar vitaminas e líquidos por via intravenosa. Toma apenas água, e muito pouco, pois não tem forças nem para engolir, constatou Mona. O consumo mal chega a um litro por dia, muito abaixo do recomendado para pessoas em greve de fome.

A família, proibida de vê-lo desde 2006 – depois da captura do soldado israelense Gilad Shalit pelo Hamás, partido político que governa Gaza, as autoridades sionistas decidiram impedir visitas aos presos gazenses; Shalit foi libertado em 2011 e o acordo de 14 de maio deste ano garantia o direito a visitas,  mas a proibição continua valendo –, apoia sua decisão.

“Sentimos muito a falta dele”, diz Yasmine, sobrinha e filha adotiva. “Meu tio dava apoio financeiro e psicológico, além de nos ajudar nos estudos. Tem uma cultura vasta, porque lê o tempo todo, e todos os tipos de livros. Mas, afinal, só se vive uma vez e é preciso ter uma vida digna ou morrer lutando por isso.”

Outros casos graves

Além de Akram, também estão em greve de fome Samer al-Barq (44 dias) e Hassan Safadi (13 dias). Ambos protestam contra o não cumprimento, por Israel, de sua parte do acordo de 14 de maio. Ao contrário do que foi prometido, a detenção administrativa de Samer não expirou no dia em que o acordo foi firmado; ao contrário, a pena foi estendida para mais três meses. Hassam, por sua vez, encerrou sua greve em 14 de maio, depois de 71 dias, mas voltou a ela em 21 de junho, quando, também contrariando o acordo, as autoridades renovaram sua detenção administrativa.

A Addameer informa que há outras violações do acordo: Dirar Abu Sisi, um dos 19 prisioneiros em confinamento há anos, continua na solitária, apesar da promessa de tirá-lo de lá, e na semana passada, também contrariando o acordo, um preso foi confinado. As visitas aos gazenses ainda não foram permitidas, quase um mês depois de firmado o compromisso de liberá-las. “Não houve mudanças na política prisional de Israel, em relação à detenção administrativa, e receamos que essas práticas continuem se não houver pressão da comunidade internacional”, afirma um documento oficial da organização.

Além disso, as detenções administrativas, as perseguições em massa e o julgamento por tribunais militares não cessaram. Walid Abu Rass, gerente financeiro e administrativo dos Health Work Committees (Comitês de saúde no trabalho), por exemplo, foi sequestrado e mantido arbitrariamente em prisão israelense.

Como ajudar

Você pode ajudar a salvar as vidas dos prisioneiros políticos palestinos e a libertar vários deles. Veja, a seguir, as várias maneiras de auxílio e apoio.

1. Envie cartas solicitando:

– liberdade para Akram Rikhawi, Samer al-Barq e Hassan Safadi e sua imediata internação em hospital civil, para tratamento médico;

– liberdade para Walid Abu Rass e para os demais palestinos sob detenção administrativa;

– fim do tratamento desumano aos prisioneiros palestinos.

Envie sua carta para:

  • Brigadier General Danny Efroni

    Military Judge Advocate General

    6 David Elazar Street

    Harkiya, Tel Aviv

    Israel

    Fax: +00 972 3 608 0366; +00 972 3 569 4526

    Email: arbel@mail.idf.ilavimn@idf.gov.il

  • Maj. Gen. Nitzan Alon

    OC Central Command Nehemia Base, Central Command

    Neveh Yaacov, Jerusalam

    Fax: + 00 972 2 530 5741

  • Deputy Prime Minister and Minister of Defense Ehud Barak

    Ministry of Defense

    37 Kaplan Street, Hakirya

    Tel Aviv 61909, Israel

    Fax: +00 972 3 691 6940 / 696 2757

  • Col. Eli Bar On

    Legal Advisor of Judea and Samaria

PO Box 5

Beth El – 90631

Fax: +00 972 2 9977326

2. Assine a carta postada no endereço samidoun.ca/2012/07/urgent-83-days-of-hunger-strike-take-action-for-palestinian-prisoner-akram-al-rikhawi/#letter.

3. Assine a carta para os membros do Parlamento Europeu, solicitando ação imediata para salvar a vida de Akram: http://ufree-p.net/News-221.

4. Assine a petição solicitando a liberdade de Walid Abu Rass e de todos os palestinos em detenção administrativa: http://www.avaaz.org/en/petition/Release_of_Palestinian_healthcare_activist_and_all_others_held_in_Administrative_Detention_without_trial/?cSTVkdb.

5. Organize uma manifestação em seu bairro, sua escola ou universidade, sua cidade, sua rua. Se tiver dúvidas sobre como organizar ou o que dizer, se precisar de material, escreva para samidoun@samidoun.ca e preencha o formulário postado emhttp://samidoun.ca/2012/04/submit-your-palestinian-prisoner-solidarity-activities-here/, para sua atividade ser noticiada ao redor do mundo, em blogs e redes sociais.

6. Escreva para deputados e senadores nos quais você votou (ou para todos, se preferir) e exija que eles atuem no sentido de pôr fim à cumplicidade e ao silêncio internacional em relação aos prisioneiros políticos palestinos. Você pode obter os e-mails deles em www.camara.gov.br/ e www.senado.gov.br/senadores/. Nesses endereços você também encontra os telefones dos gabinetes. Se puder, telefone ao menos a um deles, depois de enviar o e-mail, diga por que ligou e avise que enviou e-mail sobre o assunto. Os assessores, em geral, encaminham para deputados e senadores.

7. Entre no site do Ministério da Relações Exteriores (http://www.itamaraty.gov.br/), clique em “Fale com o ministro” (embaixo, à esquerda) e copie, no formulário, a mensagem que você enviou a deputados e senadores.

8. Entre no site “Fale com a presidenta (https://sistema.planalto.gov.br/falepr2/index.php) e siga as instruções. Copie no formulário sua mensagem a deputados e senadores.

Para contatos com Israel e outros países, escreva em inglês. Se não conseguir, escreva em português e use o Google Tradutor para traduzir sua carta para o inglês. Não fica uma maravilha, mas os destinatários entenderão. De preferência, coloque os nomes dos prisioneiros em letras maiúsculas e negrito, para que o assunto da mensagem seja identificado de imediato.