Entrevista de Juan Castillo (PC Uruguai)
Ganhar no primeiro turno é possível
Victoria Alfaro (Victoria)
EL POPULAR
O POPULAR entrevistou o secretário-geral do Partido Comunista do Uruguai (PCU), Juan Castillo, para fazer uma avaliação inicial acerca dos resultados das últimas eleições internas no Uruguai, a excelente votação da Frente Ampla, o crescimento do 1001 e muito mais.
– Você pode fazer um primeiro balanço destas eleições internas em 30 de Junho, especialmente de como se saiu a Frente Ampla?
A primeira coisa é enviar um grande abraço a todos os nossos companheiros, a todos aqueles que entregaram sua alma, militando nesse processo de eleições internas. Vimos o esforço militante sendo realizado pelo nosso partido e nossos aliados, bem como toda a Frente Ampla em todo o país. É impossível não reconhecer esse trabalho. Este é o capital mais importante da Frente Ampla e, sem dúvida, do Partido Comunista, eles são nossos homens e mulheres que, em condições desiguais, atuam em todo o nosso país. Em todo o território, casa a casa, desafiando o clima, as horas, muitas vezes deixando de lado os problemas de saúde pessoal e familiar, vimos camaradas que ainda não resolveram o problema do desemprego, que não sabem se, no final do mês, terão uma renda e não se arrependem ou se lamentam, mas, pelo contrário, dão-nos um grande abraço e enorme confiança. Isso também é uma grande responsabilidade, então não posso ignorá-lo.
Em segundo lugar, é preciso reconhecer que houve uma grande votação, nada menos do que isso ocorreu no domingo, 30 de junho, desafiando o clima, as férias, a Copa América, etc. Um terceiro aspecto a destacar: viemos de eleições contínuas onde a votação convocada pela Frente Ampla nas eleições internas foi numa direção decrescente com cada vez menor participação do eleitorado, na medida em que em 2019 estávamos no ambiente de 260.000 votos. Portanto, com todo esse cenário em que saímos em 30 de junho para desafiá-lo, é preciso redobrar a aposta, para gerar as condições para poder voltar a esse percentual da votação, a fim de crescer e não queremos mudá-lo. O primeiro resultado desse esforço foi dado, deste trabalho que valorizamos e que há mais de 410 mil eleitores no momento e o Tribunal Eleitoral continua a abrir os votos observados para que possa exceder alguns milhares de votos. Alguns preveem que podemos chegar a 420 mil votos.
Se há motivos para nos alegrar e sermos felizes, então devemos começar uma análise muito mais rigorosa do que nós também precisamos fazer. Foi bom trazer de onde viemos, que expectativas tínhamos e qual foi o resultado, a partir do qual hoje podemos sonhar e colocar agora o conteúdo para que seja efetivamente realizado nas urnas no dia 27 de outubro e de que a vitória no primeiro turno é possível. Temos condições de cumprir este objetivo se o nosso trabalho militante continuar a partir daqui até outubro.
Dentro deste cenário, como foi a votação na lista 1001?
Temos também um agregado extra que é o nosso voto e como ele estava influenciando. Primeiro, vamos também saudar toda a Frente Ampla aqui como ela cresceu e trabalhou, nossos camaradas que acompanharam a candidatura de Yamandú Orsi, o qual se tornou o mais votado, acompanhado dos votos do MPP e do 609, embora não só. Lá também a Força de Renovação e outras listas que acompanharam a candidatura de Orsi devem receber um grande abraço, um grande reconhecimento da contribuição que eles tiveram para cumprir este objetivo que nós mesmos estabelecemos. Em segundo lugar, a nossa própria campanha, porque acompanhamos a pré-candidatura de Carolina Cosse, juntamente com uma vasta gama de setores e grupos, partidos e movimentos, o que nos faz acreditar na verdadeira possibilidade de ter, pela primeira vez na história, a primeira candidatura de uma mulher à Presidência da República.
Tem sido uma excelente campanha, foi tudo excelente sair para trabalhar para visitar o país, às vezes em condições desiguais, pois tínhamos poucos recursos econômicos, mas tínhamos um espírito muito mais militante. Certamente aquela energia com a qual saímos a militar fazia parte de nosso modo de ser e sabíamos quais eram as regras do jogo. Então apostamos na conquista de uma grande votação e isso foi dentro do quadro do que tínhamos previsto no número de votos genuínos, em votos constantes, o que foi amplamente superado pela enorme votação da Frente Ampla que descrevemos em primeiro lugar. Prevíamos que poderíamos conquistar 160.000 votos e chegamos assim entre aqueles que vão acabar apoiando Carolina, mas não contamos, não previmos mais de 400.000 votos da Frente Ampla que, felizmente, foram obtidos em apoio a esta força política.
Foi uma avaliação muito boa também a atuação que outros setores tiveram no apoio à candidatura da Carolina, do próprio setor da Cosse, da Lista La Amplia, do Partido Socialista, da Casa Grande, entre outros que votaram muito bem acompanhando Carolina Cosse, e deste modo faço isso por último, para que ninguém nos passe recibo ao avaliar o papel da lista 1001.
A partir de nossa expressão político-eleitoral, temos que nos defender da forma com que a mídia nos ataca continuamente sobre a lista do Partido Comunista em que estão os comunistas e as comunistas, rebatendo essa campanha subliminar que sempre fazem os anticomunistas em sociedades como a nossa, sabendo que isso também fazem parte do jogo político e midiático existente. Mas, desde 1962, nós os comunistas somos membros de uma lista em que se encontram outros setores, uma apresentação eleitoral que é a lista 1001 que é muito maior do que a lista de comunistas. A votação, que acabou por estar na ordem de 40% dos votos que acompanharam Carolina, foram votos obtidos pela nossa lista 1001, nosso Espaço Democrático Avançado (EDA) como um todo.
Portanto, isso também tem que ser medido, novamente em outra eleição o 1001 continua a crescer e isso é muito bom, o que nos capacita muito para outubro. É preciso não só sonhar, mas pisar no chão, reconhecendo que temos a possibilidade concreta, o objetivo de trabalhar para gerar as condições de a 1001 e a FA visando obter também em outubro, novamente, apoio eleitoral para fazer com que esse objetivo nos leve à construção de um governo da Frente Ampla para e com o povo.
Há pouco mais de 100 dias para as eleições de 27 de outubro: qual é a tarefa fundamental da militância agora?
Devemos destacar que, no momento em que estamos falando, faltam pouco mais de 100 dias para as eleições. Fala-se sempre disso com distanciamento e o fato é que há muito suportamos o que prometiam ser os cinco melhores anos das nossas vidas, acabando por ser os quatro piores anos que passamos e sofremos nos últimos anos. Sempre se disse: “bem, chegará o momento das eleições nacionais”. Continua a ser o ano da síntese política na cabeça do nosso povo, de tudo por que lutamos, de tudo o que organizamos, de tudo o que mobilizamos, de tudo o que sofremos, para podermos de fato reverter esse quadro. Isto não se faz sozinho, temos de sensibilizar, temos de trabalhar com a vontade política do nosso povo para convencê-lo de que podemos efetivamente ser os donos do nosso destino e começar por mudar a direção do governo, instalando um governo de Frente Ampla.
Faltam pouco mais de 100 dias para essa síntese política, portanto, não há aqui outro tempo senão para dedicarmos a estrutura política a reorganizar a casa e a fazer um balanço político, não de caráter triunfalista, mas também de autocrítica, porque se fosse assim mesmo quando cometemos erros, como nós líderes cometemos, se conseguirmos corrigir e melhorar algumas situações que erramos hoje em dia poderemos melhorar nosso desempenho. Precisamos fazer isso e trabalhar com essa sintonia e essa cabeça. É para onde vamos, faltam-nos 100 dias para podermos trabalhar e convencer, agora mais do que nunca porque está demonstrado que a Frente Ampla continua a ser, com cada vez mais vigor e força, a principal força política do nosso país.
A expectativa de mudança do nosso povo baseia-se agora no que a Frente Ampla pode fazer. Para construir essa melhor alternativa eleitoral, para promover a lista 1001 em cada um dos cantos do país esta construção unitária que tem várias expressões até de números de lista diferentes, mas que nos permitiu procurar aquele que ainda não conseguimos convencer, aquele que ainda pode estar em dúvida. Porque não sobrará nenhuma votação, serão necessários todos os votos para fazer essa maioria parlamentar, para que todos tenhamos um lugar de representação política na Câmara dos Deputados e no Senado. Promover efetivamente um trabalho coletivo de mudança que deve ser feito o mais rápido possível, a fim de conquistar o governo.
Acreditamos que existem condições e essa é a tarefa principal: cerrar fileiras na construção da estrutura orgânica, entendendo que estas eleições nacionais contribuíram para que avancemos com essa estrutura orgânica, fazendo funcionar os comitês de base, com os coordenadores atuando plenamente, o departamental contribuindo e funcionando e toda a estrutura orgânica do local onde temos os militantes trabalhando para tornar realidade esse sonho tão esperado do nosso povo de recuperar um governo da FA para construir as mudanças urgentes que nosso país precisa e caminhar rumo a períodos de progresso e aprofundar a democracia no nosso país.
No dia 27 de outubro será feita uma escolha entre dois projetos de país, um que é a FA e do outro lado uma coligação multicolor que também elegeu os seus candidatos neste dia 30 de junho. Como você vê a posição dessa coalizão nesse cenário?
Eles têm dificuldades, a primeira é que lhes era difícil sair e enfrentar a imprensa, os antigos galos das noites eleitorais se escondiam para não mostrarem a cara à opinião pública. Aqueles que estão sempre prontos nas redes sociais para twittar qualquer coisa, agora não mostraram o rosto. Parecia que a sede eleitoral estava vazia, ou estavam trancados em algum lugar ou desenhando qual seria a resposta. Nem todos conseguiram dar a fórmula imediatamente, e alguns que o fizeram ainda têm que dar explicações; isto será problema deles. Há outros que ainda não encontraram alguém que queira acompanhá-los na fórmula, será mais um problema para eles. A nossa é dizer que realmente aceitamos o desafio, quando se usa a crítica e a autocrítica como método, quando se realmente coloca em prática se percebe que havia coisas que não poderíamos errar mais e já começamos a demonstrar na prática, no gesto de Yamandú e Carolina de cerrarem fileiras rapidamente e parabenizarem a militância meia hora após o término das eleições. Uma hora após o término das eleições já estávamos na sede da FA e, uma hora e meia após o fechamento das urnas, subimos ao palco para mostrar publicamente nosso rosto, sendo a fórmula mais poderosa para a vitória. São coisas que nos deixam orgulhosos os nossos camaradas. Não pode haver fórmula mais poderosa do que esta, capaz de liderar um longo processo daqui para a frente com o triunfo da Frente Ampla, avançando rumo às mudanças que estamos exigindo.
Acho que a direita está realmente pagando porque, por mais que tentem inventar alguma coisa, não funciona. Se um dos candidatos que teve a pior votação da sua história, com muitas décadas de atraso, mais de um século, acabar tendo como único objetivo vencer a FA, ora, coitados, um eleitorado que tem de votar com um cérebro impede o outro, em vez de se projetar. Ninguém sabe que proposta eles têm. Mas ninguém mais pode deter essa onda, esse impulso do nosso povo vai ser muito difícil de deter. Acreditamos que estamos num caminho possível onde todos temos uma tarefa e um lugar, onde não há possibilidade de recuo, não há possibilidade de fazer uma leitura diferente. Hoje temos diante de nós todas as possibilidades que nosso povo nos exige para construir o caminho com vistas à recuperação de um governo da Frente Ampla. Insisto nisso porque para nós é uma primeira etapa em que aprofundamos a democracia para termos uma democracia avançada no nosso país.
Por fim, a Justiça Eleitoral anunciou recentemente que já existem assinaturas para convocar um plebiscito sobre seguridade social. Alguma opinião sobre isso?
A cereja do bolo para o movimento popular e também para nós, não negamos, não podemos esconder, em que houve militância e muito trabalho foi feito para arrecadar assinaturas. Houve de tudo antes, durante e depois, mas finalmente, por mais que continuem descartando assinaturas, fica demonstrado que não houve nenhuma armadilha ou qualquer tentativa de fraude, mas sim, houve a vontade expressa da maioria dos trabalhadores, aposentados e do povo do nosso país, para continuar a lutar por uma seguridade social justa, solidária e universal que inclua e responda a toda a população do nosso país. Esse é o grande objetivo para que hoje haja um formato de votação que possa garantir um plebiscito para reformar a Constituição da República em três aspectos básicos. O caminho já está dado, agora o que se trata é que isto tenha uma expressão no voto, com uma determinada cor, que os diferentes grupos e setores possam se manifestar e outros possam voluntariamente tomar outra decisão para tentar defender a seguridade social. Esse é o caminho que temos pela frente, é outra das definições que também será levada em consideração no dia 27 de outubro.
Imagem: Juan Castillo no evento comemorativo dos 103 anos do Partido Comunista do Uruguai (PCU) na Plaza Mártires de Chicago.
Foto: Santiago Mazzarovich / adhocFOTOS.
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)
Fonte: https://elpopular.uy/juan-castillo-ganar-en-primera-vuelta-es-posible/