“Faz falta uma união de todos os verdadeiros partidos e movimentos comunistas da Europa em uma frente contra a União Europeia do grande capital”

Secretário Nacional do Polo de Renascimento Comunista da França (PRCF)

Introdução: UyL continua com a série de entrevistas com os dirigentes máximos dos partidos e organizações irmãs com quem o PCPE compartilha a proposta de desvinculação da UE, do Euro e da OTAN.

1) Como seu Partido define a União Europeia?

Para o Polo de Renascimento Comunista da França, a UE é um cartel imperialista totalmente reacionário que se construiu, de A a Z, contra o socialismo do Leste Europeu, contra as perspectivas de transformação social (principalmente na Europa do Sul), contra a soberania das nações e contra as conquistas sociais. Atualmente, este cartel se esforça pelo que Barroso chama de um “grande salto adiante federalista”, por converter-se em um Estado – na realidade, um Império – dominado pelo eixo Washington-Berlim. O imperialismo francês, que perdeu sua iniciativa fundamentalmente por seu afundamento industrial, está se esforçando para jogar um papel de segunda espada da Alemanha neste cenário. É necessário assinalar que, concomitantemente, o império euro-atlântico, fortemente vinculado a Washington e à OTAN no marco da União transatlântica, destrói os Estados-nação por cima e por baixo, como se vê na Bélgica. Em um manifesto recente, o MEDEF (o grande patrão “francês”), claramente, faz um chamamento para que se coloque um ponto final na história do Estado-nação francês forjado pela Revolução Francesa, visando dissolvê-lo por cima (“Estados Unidos da Europa”) e por baixo (“reconfiguração dos territórios” mediante a posta em marcha de “Länder”, incluindo alguns transfronteiriços).

2) Vocês consideram que existe a possibilidade de reformar a UE em benefício dos povos?

Absolutamente não. Os slogans “Europa social” ou “reorientação do euro”, defendidos pela Frente de Esquerdas e o PCF “euro-construtivo”, não são mais que um chamariz social-imperialista que conduz os movimentos, digamos, “radicais” a, primeiro, transformarem-se em forças de apoio do partido “socialista” de Hollande e, segundo, abandonar o terreno da defesa patriótica da França, destruída como nação pelo imperialismo francês e deixando-o nas mãos dos racistas e da xenófoba frente “nacional”.

3) Para vocês, quais são as principais vias de luta contra a UE?

Em primeiro lugar, é indispensável que se forje uma resistência da classe trabalhadora contra o conjunto de medidas de austeridade, que emanam da direita ou do partido “socialista” francês. Por isso, faz falta a luta contra o euro-sindicalismo de colaboração de classes, que aprisiona a direção da CGT. Da mesma forma, é conveniente unir todos os comunistas que tomaram consciência da necessidade de uma oposição radical, revolucionária, à UE e ao euro, em uma grande campanha “vermelha” sob o lema “para sair, faz falta sair”, cujo objetivo seja romper a cadeia imperialista europeia. Não podemos esquecer que o povo francês votou NÃO à constituição europeia com 55% dos votos e que destes, quase 75% dos operários votaram NÃO. É preciso construir uma ampla Frente Republicana Antifascista, Patriótica, Popular e Progressista de nosso povo, com a classe trabalhadora liderando, para tirar nosso país da Europa “pela porta da esquerda”, com o objetivo de fazer reviver os valores do Conselho Nacional da Resistência: independência nacional, cooperação entre Estados livres, análoga à da ALBA latino-americana, progresso social, nacionalização dos bancos e das empresas estratégicas. Tudo isso sob a perspectiva de abrir um grande enfrentamento, mas com base nos fatos, rumo o socialismo para nosso povo. Está claro que tudo isso se articula sobre a necessidade de reconstruir um grande e verdadeiro partido comunista de vanguarda em nosso país e de fazer viver as lutas na Europa não para “reformar” a UE, mas para destroçá-la e iniciar uma crise revolucionária saudável na Europa, junto com nossos irmãos de luta gregos, espanhóis, portugueses, italianos, etc.

4) Você pode resumir a política do resto dos partidos franceses sobre a UE?

Os dois partidos dominantes, o PS e a UMP, são, com algumas diferenças internas, verdadeiros aiatolás da “construção europeia”. Assim, refletem as posições dominantes da grande burguesia capitalista. Os “Verdes” também defendem a Europa federal, porém não assumem sua posição claramente, dado que não querem apoiar a austeridade. O PCF e a Frente de Esquerda, com a maioria dos partidos trotskistas, defendem a “reorientação progressista da Europa”. Mélenchon, por exemplo, apareceu com declarações estúpidas durante a campanha presidencial, tais como que a “Europa é nossa”, “o euro é nossa moeda”. Quanto a Frente Nacional, sua posição é hipócrita: finge que é anti europeia, porém votou a Ata Única Europeia, em 1986. Além disso, não reclama a saída da UE e propõe, cada vez menos, uma “saída concertada do euro”. Falando de forma clara, a França não rompe com o euro antes que Angela Merkel dê luz verde. No entanto, existem numerosos comunistas fieis a Jacques Duclos, numerosos socialistas fieis a Jaurès, numerosos gaullistas “de base”, fieis às ideias de independência nacional pisoteados pela UMP, que querem RESISTIR. Dizemos aos comunistas que se unam na ação, como propõe o PRCF, para levar, ao mesmo tempo, a bandeira da República e a da classe trabalhadora, com o fim de encaminhar a classe trabalhadora às posições de RETIRADA UNILATERAL DA EU O caso é: se saímos da UE e do euro nosso país não morrerá, mas se permanecermos, todas as nossas conquistas desparecerão.

5) Qual é a posição do PRCF sobre o Partido da Esquerda Europeia?

Opomo-nos radicalmente a este reagrupamento claramente reformista, cujo objetivo é ancorar os antigos partidos comunistas à deriva na órbita do cartel imperialista europeu e fazê-los de correia de transmissão “da esquerda” da construção europeia e da burocracia europeia. Faz falta um renascimento do Movimento Comunista Internacional sobre as bases marxista-leninistas e uma união de todos os verdadeiros partidos e movimentos comunistas da Europa em uma frente contra a União Europeia do grande capital, pela soberania dos povos, pelo progresso social, pela democracia e pelo socialismo.

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)