A greve geral de 14 de novembro

PCB FOZ

Portugal, Espanha, Grécia, França, Grécia, Chipre, Malta e Itália fizeram greve geral no último dia 14 de novembro contra a reforma dos respectivos governos frente a crise capitalista, pelo fato de que esta tem se baseado na retirada dos direitos dos trabalhadores e na distribuição de dinheiro aos bancos. Foi uma greve como tarefa comum da classe trabalhadora, já que, como diz o panfleto “Nos deixam sem futuro. Há culpados. Há soluções.” Obviamente mais incisivo, o panfleto de um dos movimentos revolucionários dizia “contra o governo dos banqueiros e dos ricos”.

Em Madri, na noite anterior à greve geral, houve concentração dos trabalhadores na Praça do Sol, importante ponto turístico e de realização de atos políticos da capital espanhola. Havia a visibilidade de duas centrais sindicais: a União Geral dos Trabalhadores (UGT), ligada à tradição socialista ultra-reformista européia e a Confederação Sindical de Comissões Obreiras (CCOO), mais forte e mais combativa, mas também sem perspectiva revolucionária. Havia também manifestantes de organizações e partidos menores, que distribuíam panfletos e chamavam para a mobilização.

Dali os trabalhadores seguiram para as portas das indústrias e grandes empresas para impedir a abertura no plantão que se iniciaria à meia noite. Nesse processo houve muito enfrentamento com a polícia e dezenas de prisões.

Durante o dia a marcha seguiu pelas ruas principais de Madri e o aparato policial era forte o tempo todo e tentava empurrar o movimento para a calçada, “para liberar a rua para os carros”, que nem haviam. O fato é que a cidade parou mesmo; havia apenas serviços mínimos de transporte para cumprimento legal, mas para se ter uma idéia do quanto era mínimo mesmo, os poucos funcionários que trabalhavam nesse dia no hotel onde estava hospedada, me disseram que dormiram no próprio hotel para garantir que chegariam ao trabalho. E por onde a marcha ia passando, se houvesse algum estabelecimento comercial ainda aberto, seu proprietário ou gerente logo corria para fechar, diante do risco de ser fechado pelo movimento, que ia adesivando todas as portas, sobretudo as dos que representam o imperialismo norte-americano como Mac Donalds e demais redes de fast foods.

O mais interessante é que na calçada do lado contrário da rua ao que a polícia empurrou os manifestantes organizados em marcha, havia centenas, senão milhares de trabalhadores que acompanhavam a marcha de fora, apoiando-a, e gritando frases de ordem. Conversei com alguns destes trabalhadores e eles diziam que não participavam de nenhum sindicato ou central sindical, mas que apoiavam a greve e que é preciso de fato que haja mobilização para enfrentar os efeitos da crise econômica para a classe trabalhadora. Pareceu-me que eram pessoas do tipo que se dizem “apartidárias”, mas note-se portanto que a crise está jogando até essas pessoas para a mobilização de massa nas ruas.

Na Espanha como no Brasil, há dois partidos comunistas e o PCB se alinha ao Partido Comunista dos Povos da Espanha (PCPE), com quem me somei nas fileiras da marcha que se concentrou às 18 e 30 horas, na Estação de Metrô Atocha, com destino à Praça Colon. Havia mais de um milhão de pessoas na marcha e nenhum policiamento, pois contra aquele mar de gente não haveria policiamento que fosse suficiente.

O governo espanhol é conservador e tem “enfrentado” a crise econômica com medidas neoliberais que retiram direitos trabalhistas, mas que sobretudo se manifesta em um índice de 25% de desemprego, dado que é “maquiado” pelo governo, segundo informações dos camaradas do Partido. O resultado disso é que há muitos moradores de rua na Espanha, pedintes, dentre os quais, vários trazem um cartaz com dizeres do tipo: “sou motorista de trator, fiquei desempregado, tenho 2 filhos e peço a sua ajuda”…

A sensação do desemprego é sem dúvida latente e as medidas de contenção da crise pela via do despejo de dinheiro público nos bancos não vão ajudar em nada a reduzir isso. Provavelmente nem a greve geral, que por sinal já é a segunda no ano de 2012 na Espanha, vai fazer o governo mudar a direção de suas políticas neoliberais de “ajuste” da economia, mas tem a potencialidade de aumentar o grau de desenvolvimento de consciência da classe trabalhadora. Afinal, como disse Lênin “quando as massas se põem em movimento, aprendem em 20 dias o que deixaram de aprender em 20 anos.”

Silvana Souza é militante do PCB em Foz do Iguaçu.