“ESTE ATAQUE DE ISRAEL É UMA PROVOCAÇÃO PARA VER EM QUE GRAU A SÍRIA PODE RESPONDER”
Análise de James Petras de 6 de maio de 2013, segunda-feira.
Um dos aviões de Israel que atacaram a Síria na madrugada do último domingo, 5 de maio
“Israel busca conquistar sua hegemonia a partir dos ataques, quer destruir o governo secular na Síria e busca fragmentá-la em 4 ou 5 pedaços, entre os curdos, que são aliados de Israel, os extremistas da Al-Qaeda e os turcos no norte, com Israel controlando as Colinas da Golán. Em outras palavras, este ataque de Israel é uma provocação para ver em que grau a Síria pode responder”, assegurou nesta segunda-feira, 6 de maio, o sociólogo norte-ameicano James Petras, em sua coluna semanal de análise da conjuntura internacional transmitida pela CX36, Radio Centenario (*).
O ataque de Israel à Síria teve como resultado 300 vítimas entre mortos e feridos; foi um ataque sinistro, violento e um ato de guerra, não há nenhuma dúvida sobre isso. Israel atua com impunidade porque tem o respaldo dos EUA, Arábia Saudita, Turquia e os terroristas da Al-Qaeda são os principais beneficiários desta agressão.
Israel busca conquistar sua hegemonia a partir dos ataques. Quer destruir o governo secular da Síria e busca fragmentá-la em 4 ou 5 pedaços, entre os curdos, que são aliados de Israel, os extremistas da Al-Qaeda e os turcos no norte, com Israel controlando as Colinas da Golán. Em outras palavras, este ataque de Israel é uma provocação para ver em que grau a Síria pode responder.
Por que a agressão israelita neste momento? O pretexto que utilizam os EUA é de que a Síria estaria utilizando gás sarin, o que agora está totalmente descartado por uma investigadora de alto prestígio, chamada Carla del Ponte, que a partir de uma investigação disse textualmente que os que estão usando sarin não são os governantes, mas os terroristas. E concluíram-se investigações com muitos refugiados confirmando que são os terroristas que vêm da Turquia que tem aplicado estas armas tóxicas.
Este é um momento muito delicado para Washington, pois o secretário de Estado, o chanceler Kerry, está a caminho da Rússia para convencê-los de que o gás da Síria seria uma razão para que a Rússia abandonasse o país. Contudo, agora, com esta investigação e estes informes, Kerry vai viajar desarmado.
Sendo assim, como não possuem uma justificação, um pretexto para invadir e atacar a Síria, chamam Israel para fazer o trabalho sujo. E os israelitas, como bons provocadores, estão dispostos por suas próprias razões a lançar estas agressões. Israel quer que a Síria responda com alguns mísseis dirigidos a Israel como represália para lançar uma guerra generalizada. Não sei como a Síria vai responder, pois é perigoso lutar em 2 ou 3 frentes. A primeira é a interna, contra os terroristas, a segunda contra Israel e a terceira contra a Turquia.
É uma situação muito complicada para a Síria, estão muito ameaçados.
E apesar de tudo isso, há outra razão pela qual Israel está intervindo: é porque nas últimas semanas o governo sírio está derrotando os terroristas. Destruíram algumas bases deles, capturando muitas armas, todas importadas de fora. Está ganhando a guerra. Está na ofensiva. Israel intervem para contrastar este avanço e fortalecer as forças do retrocesso.
E é curioso que a Arábia Saudita, que pretende ser um país muçulmano, esteja aliada com os sionistas que são supostamente o principal inimigo dos povos muçulmanos. Porém uma coisa é a religião e outra coisa são as negociações entre Israel, Arábia Saudita, EUA e Turquia.
O Hezbollah não é como diz a imprensa, um grupo político extremista. Forma parte de uma coalizão, é um partido de governo. Possuem ministros, atua responsavelmente, mantém a lei e a ordem e também é o principal defensor do Líbano contra as agressões de Israel.
Israel quer debilitar o Hezbollah a partir da destruição da Síria. Hezbollah não pode tolerar que Israel domine a Síria porque isso poderia ser a ponta de lança contra o Líbano. E essa é uma situação que tem aumentado muito as tensões entre Israel, os terroristas internos e o Hezbollah. Não dá pra imaginar que isso pode terminar em uma guerra generalizada de múltiplas frentes?
Israel é um ator muito importante, tem muita representação no governo norte-americano, tem muito poder no Congresso, tem muita representatividade na Casa Branca. Obviamente Israel por si só não tem poder, são os representantes de Israel, as organizações sionistas, que estão atuando por Israel e que dão importância a Israel. Se Israel não tivesse esta quinta coluna operando em todos os níveis do governo norte-americano, não poderia conseguir anualmente os U$S 3 bilhões durante os últimos 40 anos, não poderia conseguir armas, não poderia ter um poder de veto nas Nações Unidas.
Sendo assim, é preciso dizer que o sionismo atua com Israel a partir dos EUA, que lhe dá força em toda a política para o Oriente Médio e Norte da África.
Entretanto, neste contexto, devemos reconhecer que Israel agora está em uma visita a China porque entende que a China é um mercado importante. Vamos ver como os chineses tratam Israel frente à sua agressão ao Oriente Médio. Se Israel e China chegarem a um acordo, será algo muito negativo.
E também os palestinos, por sua vez, estão ao mesmo tempo na China. Ou seja, há muitas dimensões. Os israelitas não somente buscam ser os mais poderosos no Médio Oriente, mas têm ambições para além desta região. Não têm obtido muito êxito na América Latina, obviamente, mas buscam, sim, estabelecer mais laços com os novos centros dinâmicos na Ásia. Já possuem acordos de armas com a Índia e buscam de alguma forma conseguir alguns vínculos com os setores de alta tecnologia na China.