Em defesa da verdade

Um debate sincero sobre a realidade de Cuba e nossa visão sobre a saúde em Cuba e no Brasil.

América Latina, continente explorado e subdesenvolvido, saqueada e dependente desde o nascimento.

Latinos, seus filhos, nasceram aprendendo que, dentro da ordem mundial, estão destinados a viver perdendo.

Mais de 500 anos após a invasão, mudam os donos de nome, mas os pobres não  – continuam sendo apenas pobres.

A América Latina é um continente doente. Paciente desde a sua invasão, nem sempre tem estado encamada. Durante cinco séculos tem se levantado contra a pior doença que assola a humanidade – a miséria.

A história revela as bases da atual situação latino-americana – dependência econômica e cultural, que incide sobre a saúde do continente.

Uma região condenada a entregar todas as suas riquezas, tanto naturais como humanas, condenando a vida à importação de modelos, principalmente o norte americano; ao qual a saúde ganha especial atenção sob forte influência do modelo flexneriano.

Assim se vai (re)colonizando, com a mesma desculpa de sempre – o mundo desenvolvido ajudando e civilizando os bárbaros no caminho do progresso.

Mas no primeiro dia do ano de 1959, um pequeno país se fez grande. Cuba, a última colônia espanhola a se libertar, se levantou da cama na qual estava internada durante séculos e começou a desatar os laços de um passado dependente.

Cuba, com a sua Revolução, nos mostrou que a doença não é crônica e que a medicina que nos salvará tem seus principais componentes no próprio Povo.

Saúde não é apenas a ausência de doença, e sim o bem estar humano no seu sentido mais amplo. É a realização, é a satisfação humana com os seus e com o lugar onde vive. É o protagonismo histórico do povo. É converter uma colônia em Pátria.

Com pouco mais de 50 anos, a jovem Cuba já revela avanços na Medicina, e incríveis sucessos na área científica. Além disso, se destaca como o único país no mundo com um desenvolvimento sustentável, reconhecido pelo Fundo Mundial da Natureza (WWF).

Assim, nós brasileiros estudantes de Medicina, trazemos à tona este documento em defesa de Cuba. Em defesa da verdade.

Breve recorrido histórico sobre a saúde no Brasil e em Cuba

“Isso [a prestação de serviços de saúde] deve ser uma convicção, um dever elementar dos revolucionários. Mas não somente do ponto de vista moral, também na prática política. Devemos dedicar mais atenção, mais recursos materiais e humanos aos serviços de saúde.” (Comandante Fidel Castro)

A formação dos médicos brasileiros sofre, até hoje, com o modelo flexineriano. Tal política educacional norte americana começou a tentar ser imposta aos brasileiros a partir dos anos de 1930, mas foi consolidada e acentuada durante os anos da ditadura militar (1964-1985), por meio do acordo MEC-USAID. Esta consiste na formação médico-acadêmica centralizada nos hospitais e laboratórios, mas distantes das comunidades. Isso favorece às grandes corporações, como, por exemplo, a indústria farmacêutica, uma vez que a saúde entendida como ausência de doença gera necessidades de medicamentos e a construção de monstruosas estruturas hospitalares.

Em outras palavras, a saúde deixa de ser considerada um direito do indivíduo e passa a ser uma mercadoria de alto valor.  Dessa forma, a saúde se subjuga à vontade dos poderosos, repercutindo de forma direta na situação desastrosa da saúde pública no Brasil, onde vemos um alto índice de mortes por doenças que facilmente podem ser evitadas por medidas preventivas de baixo custo aos cofres públicos.

Os 21 anos de ditadura militar levaram o país ao caos e ao deterioro da situação de saúde. Isso teve como conseqüência a criação de um intenso movimento pela saúde pública no Brasil, com a chamada Reforma Sanitária, na qual se logrou na Constituinte de 1988 a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), fortemente influenciado pelo já avançado sistema de saúde cubano.

O SUS visa melhorar o sistema de saúde público brasileiro, quando propõe como seus princípios fundamentais a Universalidade, a Integralidade e a Equidade.  Porém, o SUS sofre inúmeras dificuldades na sua implementação, uma vez que não podemos falar de saúde enquanto no Brasil existir fome, desigualdade social, desemprego, opressão e a falta dos mais mínimos direitos democráticos.

Cuba, com a clara convicção de que o modelo flexineriano não satisfaria as necessidades do seu povo, se lança a criar outro sistema de saúde, o qual considera em primeiro lugar o ser humano como ser biopsicossocial; o indivíduo é entendido de forma integral. Assim, como Cuba ensina ao mundo, podemos considerar que a melhor medicina é prevenir.

A saúde em Cuba antes e depois da revolução.

No final dos anos 50, Cuba apresentava dados que refletiam uma situação social e sanitária lastimável; segundo René Dumont, havia mais prostitutas registradas do que operários mineiros e um milhão e meio de cubanos estavam desempregados, como apontam as investigações de Seuret e Pino. A economia se movia a ritmo das safras açucareiras, as quais geravam terras inférteis como resultado de longos anos deste monocultivo; a maior parte dos trabalhadores tinha emprego somente durante 5 meses do ano.  Na década de 30 – período da crise econômica mundial – muitas fábricas recém-instaladas foram desmontadas e vendidas a outros países.

No campo da saúde, Cuba apresentava o seguinte panorama: 40% da população analfabeta; 3 universidades e 1 escola de medicina para todo o país, em conseqüência havia somente 6.286 médicos, estando a maioria em grandes cidades, dedicados ao exercício privado, dos quais 50% saíram do país nos primeiros anos do Triunfo da Revolução, em 1959; a mortalidade infantil era maior de 60 a cada 1000 nascidos vivos; a expectativa de vida era inferior aos 60 anos; e, além disso, havia um quadro sanitário com a imunização infantil muito limitada, poucos centros de pesquisa, dos quais nenhum contava com financiamento do Estado e predomínio de doenças transmissíveis.

Demarcamos como período de intensas mudanças para os cubanos – e politicamente para o mundo – o ano de 1959. Tempo de transformações que mudaram a essência de um sistema econômico de profundas desigualdades socioeconômicas no acesso a políticas básicas ao harmônico desenvolvimento do ser humano. Desde então, a saúde e a educação gratuitas de acesso universal conformam o centro dos interesses da sociedade. Hoje, 55 anos após o Triunfo Popular, os dados evidenciam a seriedade e a clareza da nova maneira de organizar a sociedade cubana, para além de discursos:

• 96,2% da população está alfabetizada;

• 97,5% dos jovens até 14 anos e 92% até 16 anos têm acesso à escola;

• 2,3 milhões de habitantes estão estudando;

• o Ensino Médio constitui a media de escolaridade dos cubanos;

• baixo índice de Mortalidade infantil – 4,6 por 1000 nascidos vivos;

• Mortalidade infantil dos menores de cinco anos é de 4,0 a cada 1000 habitantes;

• Mortalidade materna de 42 por 100.000 nascidos vivos;

• Baixo peso ao nascer de 5,2%;

• e um aumento significativo na Expectativa de vida, que hoje é de 77 anos.

Por fim, atualmente Cuba –  com uma economia pobre – apresenta um quadro de saúde característico de países desenvolvidos, no qual predominam as doenças crônicas não transmissíveis devido, entre inúmeros outros fatores, ao envelhecimento da população e a excelência na cobertura dos serviços de saúde.

Tabela 1.1

Obs: tabela 1.1: Correção para H. Influenzae onde diz H. Influenza

Hoje em dia mantém um efetivo Programa de Imunização que cobre 13 doenças. Como constatamos acima, Cuba tem a menor taxa de mortalidade infantil de todo o continente americano, 4,6 por cada mil nascidos vivos, no Brasil o índice é de 16,7 por cada mil nascidos vivos e em alguns estados como alagoas chega a 46,4. Cuba tem a menor taxa incluindo Canadá e Estados Unidos. Segundo dados do Ministério de Saúde Pública de Cuba (MINSAP), o estado de Las Tunas – no leste do país – registrou-se 3,5 mortes a cada mil nascidos vivos e Sanct Spíritus de 2,8 mortes a cada mil nascidos vivos. .

Os avanços científicos da saúde cubana

Ao começar o século XXI, Cuba se destaca entre os países pobres por seu notável progresso em tecnologias de saúde, ao qual foram dedicados importantes recursos materiais e humanos, enfrentando enormes dificuldades econômicas.

Entre as múltiples descobertas dos cientistas da Ilha, podemos dar ênfase à vacina contra a Meningite B (denominada VA-Mengoc-BC). Não só por seu impacto social, devido à alta letalidade desta doença, mas também por seu grande significado político, uma vez que é única no mundo. Ressaltando a contradição das grandes economias capitalistas mundiais, disse Pedro López Saura, diretor de Regulamentos e Ensaios Clínicos do Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia (CIGB): “Eles [os EUA] não têm essa vacina e dela precisam para seu sistema de saúde”.

Entre os produtos do Finlay, instituto especializado na pesquisa e produção de vacinas humanas, estão a antitetânica Vax-TET e a Dupla Antidifetérica-Tetânica. O diretor de Assistência Científico-Técnica Aplicada do Instituto, Franklin Sotolongo, mencionou que entre os projetos em curso estão as vacinas contra a leptospirose e contra o cólera, um produto para prevenir a meningite BC/Hepatite B e a atualização vacina tríplice Tétano-Difteria-Pertussis.

Boa parte do êxito de Cuba no campo da pesquisa em saúde se deve a uma ampla infraestrutura científica e tecnológica. Há em Cuba 1,8 cientistas e engenheiros para cada mil habitantes e 1,2% do Produto Interno Bruto é destinado a gastos no setor. O restante do orçamento é aportado pela estreita coordenação entre os centros de pesquisas que integram o pólo científico de Havana, sendo o mais antigo deles o CIGB. “Uma das características da ciência cubana, e da biotecnologia em particular, é a cooperação entre os centros de pesquisa e produção”, disse Saura. Estes profissionais estão voltados às demandas da população, não estando sob interesses de grandes laboratórios privados. Este “pequeno” detalhe dá a segurança aos cubanos que terão acesso gratuito a todas as pesquisas científicas com tecnologia de ponta.

O CIGB, que em seu início se dedicou à produção em pequena escala de interferon – incorporado ao arsenal terapêutico de doenças virais, hepatite e alguns tipos de câncer -, atualmente elabora e comercializa uma ampla gama de produtos. De seus laboratórios surgiu a estreptoquinasa recombinante (registrada como Heberkinasa) de comprovada eficácia em doenças trombóticas, especialmente no Infarto Agudo do Miocárdio. Além disso, seus cientistas criaram a vacina recombinante contra a hepatite B (Heberbiovac HB), tão importante como a VA-Mengoc-BC também pelo seu grande impacto social, pois ambas fazem parte do programa de imunização do MINSAP.

Por sua vez, o Centro de Imunologia Molecular, construído no início dos anos 90, especializa-se no desenvolvimento da imunologia com base na produção de anticorpos monoclonais e outras moléculas do sistema imunológico, fundamentalmente para o tratamento do câncer e de doenças autoimunes. Entre os medicamentos já registrados figuram o Anticorpo Monoclonal Ior t3, indicado na profilaxia da rejeição do transplante renal, e o Ior Epocim (à base de eritropoietina humana recombinante alfa), para o tratamento de anemia associada com Insuficiência Renal Crônica. O Ior t3 foi seguido de outros medicamentos efetivos em casos de psoríase e artrite reumatóide, até que estudos posteriores derivaram para versões que podem ser usadas no combate contra tumores de mama e pescoço.

Também produzido pelo CIGB, o Heberprot-P (solução injetável do fator de crescimento epidérmico) é o único produto no mundo que favorece a cicatrização de complicadas úlceras, como as do Pé Diabético (UPD), e reduz o risco de amputação de membros inferiores, repercutindo enormemente na qualidade de vida do paciente. A grande importância deste produto ressalta aos olhos ao ver que hoje no mundo existem 285 milhões de diabéticos, número que aumentará para 438 milhões em 2030, de acordo com estimativas de organismos internacionais. Contudo, Cuba registra a menor taxa de mortalidade por diabetes (12,3 a cada cem mil habitantes) de todo o continente americano, conforme um documento difundido pela Organização Pan-Americana da Saúde.

Desenvolvido em conjunto com o CIGB e o Instituto Nacional de Angiologia e Cirurgia Vascular, o Heberprot-P foi registrado em junho de 2006 e incluído, em abril de 2007, na relação básica de medicamentos do país. Atualmente, este biofármaco já está patenteado nos EUA, União Européia, Austrália, Hong Kong, Cingapura, Coréia do Sul, África do Sul, Federação Russa, China, Índia e Ucrânia. O seu uso foi autorizado na Venezuela e Argélia.

Nos EUA, existem quase 20 milhões de diabéticos, registram-se anualmente mais de 70 mil amputações por causa da UPD e as feridas diabéticas custam ao sistema de saúde aproximadamente 11,3 trilhões de dólares a cada ano. Não obstante, os cidadãos norte-americanos não podem se beneficiar dele por causa do bloqueio imposto pelo governo dessa nação a Cuba.

Em 2010, depois de dezesseis anos de investigação, registrou-se a primeira vacina terapêutica – CimaVax EGF – contra o Câncer de Pulmão, tumor de alta freqüência mundial e que mais mata em todo o planeta. Esta vacina já foi administrada em mais de mil pacientes. Os resultados permitem concluir que tal vacina é capaz de prolongar e melhorar a vida dos pacientes em etapas avançadas da doença, contribuindo para transformar o câncer avançado em uma “doença crônica controlável”, afirma Gisela González, do Centro de Imunologia Molecular, em Havana.

A vacinação é iniciada quando se considera que o paciente já não apresenta outras  alternativas terapêuticas, ou seja, quando o tratamento com radioterapia e/ou quimioterapia não resulta eficaz. Deste modo, a vacina pode ser administrada como um tratamento crônico, de manutenção, porque ajuda a controlar o crescimento do tumor sem toxicidades associadas, o que torna maior a expectativa de vida, com grande melhoria da qualidade de vida do paciente. Com a vacina o doente pode experimentar menos falta de ar, que pode desaparecer em algumas situações. O mesmo acontece com a dor, com o ganho de peso, melhoras no apetite e na deambulação – a pessoa passa a caminhar sem se sentir esgotada.

Mas o horizonte da ciência cubana não para por aí, vai mais além. Como nos assegura Carlos Duarte, cientista cubano, em alguns anos se espera produzir uma vacina contra a AIDS. Duarte disse que o CIGB trabalha em dois tipos de tratamento contra esta síndrome: um terapêutico e outro preventivo. Segundo a Agência de Notícias Cubana, Prensa Latina, o especialista falou sobre a pesquisa no II Fórum da América Latina e do Caribe sobre HIV, no qual organizações não governamentais e entidades oficiais da região procuraram estratégias para deter a pandemia. Cerca de 1.300 representantes de mais de 30 países do continente participaram do Fórum, que foi patrocinado pela Organização das Nações Unidas (ONU).

As pesquisas sobre a AIDS em Cuba começaram em 1992. “A chamada vacina terapêutica atua nas células do organismo já infectado pelo vírus e permite que o sistema imunológico controle a reprodução das células”, explicou Duarte.  A equipe do centro cubano trabalha, fundamentalmente, com uma vacina especificamente para o subtipo C do vírus, que é a cepa mais freqüente na África, a região mais afetada do planeta pela doença.

Saúde no seu sentido mais amplo

Então o que é saúde? O que é ser uma pessoa saudável? Diariamente nos sentimos assediados por essas perguntas. E no cotidiano é fácil confundir saúde com a ausência de doença.

Mas, como estudantes em Cuba há alguns anos, podemos compartilhar muitas experiências com este povo e percebemos que em nenhum momento a Revolução confundiu o conceito de saúde, pelo contrário, ampliou o mesmo a todas as esferas que contemplam o ser humano.

Como demonstrado anteriormente, os índices de saúde e os avanços científicos alcançados pela Revolução Cubana nos deixam claro o grande desenvolvimento nesta área. Além da construção de um Sistema de Saúde público sem precedentes na história, com notável interesse na atenção primária.

Mas entendendo que a saúde plena contempla as três esferas humanas: biológica, psicológica e social; a Saúde Pública em Cuba não atende apenas o campo biológico, senão que se desenvolve em todas as áreas e repercute harmonicamente na atmosfera social.

Partimos desde um ponto chave na América Latina: em Cuba não existe exclusão social. Independente de etnia ou gênero, religião ou orientação sexual, todo cubano(a) tem a oportunidade de ascender à carreira que se propõe ou ao espaço que lhe interesse. Apesar das dificuldades econômicas, o país tenta construir um mundo onde todos caibam, com protagonismo popular e participação social.

Cuba é território livre de analfabetismo. Na maior Ilha das Antilhas não existe criança fora da escola. Não existe criança abandonada ou passando fome. A família cubana existe e é sólida, está construída nas diversas redes sociais de intercambio, com os vizinhos, com as organizações, com a escola e com os parentes. E aqui radica uma das maiores conquistas da Revolução: a solidariedade social.

Nesta Pátria os pais participam ativamente na formação dos filhos, ao contrário da maioria dos países: em pesquisa feita em diferentes partes do mundo, o tempo de conversa olho a olho que um pai dedica ao filho não passa de 15 minutos.  Além disso, os espaços sociais em Cuba, como praças, parques e ginásios esportivos, são áreas de entretenimento, e não de conflitos urbanos ou pontos de venda de drogas como em muitos lugares do território brasileiro.

Segundo o economista Martin Carnoy, da Universidade de Stanford (EUA), que conduziu um estudo comparativo entre os sistemas educacionais do Brasil, Chile e Cuba, as crianças cubanas apresentam a melhor educação da América Latina, “A educação de Cuba oferece à maioria dos alunos uma educação básica que somente crianças de classe média alta recebem em outros países da America Latina” afirma o estudioso.

Entendendo o anterior mencionado podemos dizer que: sim, o povo cubano é saudável, e não apenas pelos índices invejáveis na medicina, mas pela criação, dentro do projeto socialista cubano, de um modelo de bem estar. Revolução feita desde dentro, do povo para o povo, com todas as conquistas compartilhadas entre todos.

Atenção primária como objetivo principal

São notórios os avanços da biotecnologia cubana, porém o que permite manter a menor taxa de mortalidade infantil do continente – entre outros impressionantes indicadores de saúde – é a grande importância voltada à prevenção e à promoção de saúde, com uma Atenção Primária de excelência. Estando esta integrada às esferas secundaria e terciária, além de ter massiva participação da população. Assim, vemos que Cuba consegue colocar na prática o conceito de Integralidade, ou seja, a inter-relação entre as várias esferas de atenção à saúde.

A prevenção, pilar fundamental da Atenção Primária, além de mais econômica aos cofres do Estado, permite também uma medicina mais humana na qual o foco não é  a cura de doenças já instaladas, mas a promoção de saúde e a prevenção de doenças.  Os profissionais da saúde trabalham juntamente com a comunidade a fim de motivar estilos de vida mais saudáveis. Um sujeito obeso e cujos pais são hipertensos recebe, obrigatoriamente, duas visitas anuais do médico de família na sua casa; além de ser convocado e remitido, quando necessário, às consultas interdisciplinares com nutricionista, profissional de educação física, endocrinologista, cardiologista, entre outros. Nestes casos, seriam indicados exames para controle de diabetes, colesterol, problemas dos rins, fígado e coração, etc.

A atenção integralizada e totalmente gratuita entende o ser humano como um ser biopsicossocial, no qual a saúde depende do seu constante equilíbrio. A saúde e a doença são compreendidas como uma questão para além da medicina.

Conclusões

Quando partimos das origens históricas da América Latina, as quais determinaram sistemas político-econômicos baseados num enorme abismo entre os sujeitos de uma mesma nação, vemos que, tal abismo, divide aqueles que têm dinheiro e aqueles que não têm dinheiro para pagar seus direitos básicos como seres humanos.

Daí podemos concluir que vivemos sob um conceito de “desumanização”, à medida que muitos não podem pagar pela saúde, pela educação, pela moradia, pela alimentação, entre tantos outros aspectos da vida humana. Somado a isto, somos bombardeados por informações que muitas vezes nos deixam inertes ou insensíveis diante tamanha “desumanização”. São alarmantes indicadores de saúde, por exemplo, que causam apatia ou, muitas vezes, são deixadas no canto do esquecimento.

Como estudantes brasileiros em Cuba, temos a oportunidade singular de poder comprovar de perto que um “mundo melhor é possível”, como diz a consigna do Fórum Social Mundial. Um histórico invejável de missões de solidariedade em dezenas de países nos faz pensar sobre uma urgente transformações de valores. Hoje terríveis calamidades socioeconômicas geram números desastrosos na mortalidade geral, infantil e materna, além de um incrível índice de mortes por doenças infecciosas.

Os cubanos não se paralisam frente a tal realidade, pelo contrário, compartilham os poucos recursos de seu país pobre com os pobres do mundo. Como apenas um exemplo, de tantos outros, podemos citar a Operação Milagro. Iniciado em 2004, quando chegaram à Ilha os primeiros pacientes venezuelanos, o programa tem como objetivo resolver as afecções de ordem visual, dando especial atenção àquelas que causam cegueira. E já em 2005 a Operação Milagro era levada a 15 países do Caribe e outros 12 da América Latina. Em 2007, ocorreu um fato sem precedentes na história da humanidade, um milhão de pacientes procedentes da África, América Latina e Caribe chegaram a Cuba, realização em conjunto com o Governo da Venezuela, para um “milagre”: todos foram atendidos, e recuperaram ou melhoraram a visão.

Muitos insistem em utilizar “a falta de desenvolvimento tecnológico” – discurso facilmente confrontado com os dados expostos anteriormente –  como um fator limitante da medicina cubana; entretanto, de que vale a alta tecnologia quando ainda existem milhões de crianças morrendo de diarreia? Quando sabemos que, na maioria dos casos, para resolver este problema não necessitamos muitos investimentos econômicos, mas sim água fervida e sais de reidratação oral – e, claro, um pouco de vontade política.

Ao utilizar o Sistema cubano como exemplo de desenvolvimento na área da saúde, dirão alguns –  os defensores da saúde privada – que tudo deve ser gerenciado pelos lucros do mercado; outros – os adeptos à comodidade das suas poltronas e, por isso, incrédulos a tudo – dirão que os índices cubanos de saúde, o alto desenvolvimento da biotecnologia e a alta eficiência da atenção primária somente são possíveis, pois Cuba é socialista.

Já deixamos claro nossa opinião contrária aos primeiros, pois a saúde como direito inalienável do ser humano não deve ser objeto de lucro. Estamos de acordo à opinião dos últimos, mas contrários ao seu conformismo. Perguntamos até quando vamos ver pessoas morrendo por causas curáveis?. Não obstante, temos a clareza da necessidade de mudanças nas raízes de um sistema desigual. Podemos aprender muito com os cubanos.

Como parte da história das lutas sociais do povo brasileiro, o SUS representa um grande avanço na formulação de políticas de saúde voltadas às pessoas mais pobres.  Como futuros médicos e cidadãos brasileiros, temos a necessidade e o dever de defender-lo. Tal defesa deve estar associada a uma luta mais abrangente, como estava explicitado nos Anais da 8ª conferência, em 1986:

“saúde é resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde. É, assim, antes de tudo o resultado das formas de organização social da produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida […] A saúde não é um conceito abstrato. Define-se no contexto histórico de determinada sociedade e num dado momento de seu desenvolvimento, devendo ser conquistada pela população em suas lutas cotidianas”.

Situamos o surgimento do SUS conjuntamente às origens do Médico de Família em Cuba, ou seja, depois da Conferência de Alma Ata na década de 70. Todavia, no Brasil muitos interesses estiveram em jogo, ficando a saúde pública em segundo plano. A formação médica dos brasileiros está marcada fortemente pelo modelo estadunidense, o qual distancia os estudantes de medicina das comunidades e os direciona aos laboratórios – como pensava Flexner, na Era das Bactérias, como único determinante das doenças. Aliados aos microorganismos vieram os antibióticos e a estes últimos as indústrias farmacêuticas.

Assim, como acertadamente disse o poeta Antonio Carlos de Brito, resulta que “No Brasil a medicina vai bem. Mas o doente ainda vai mal”. Precisamos de médicos que pensem mais em saúde, que sejam menos assediados por indústrias de remédios e que trabalhem integrados à comunidade para potencializar as ações, particularmente as de promoção de saúde. Para tal, a reestruturação dos cursos de medicina deve ser um objetivo imponente, com vista a um projeto de formação solidária e de saúde coletiva.

A Escola Latino Americana de Medicina, a ELAM, constitui outro claro exemplo da solidariedade do povo cubano. Custeada integralmente pelo Governo de Cuba, em quase 15 anos de projeto já se formaram milhares de médicos de vários países da América Latina e do mundo. A partir do qual receberá em troca a gratificação de ver muitas pessoas de lugares antes esquecidos amparadas pela medicina cubana – solidária, humanista e preventiva – ensinada aos milhares de médicos estrangeiros.

Junto com os nossos companheiros de profissão formados no Brasil, teremos que traçar como objetivo comum: a melhoria da saúde do nosso povo brasileiro. Ratificamos que o SUS necessita ser reestruturado a fim de oferecer condições dignas de trabalho aos seus profissionais e para brindar à população serviços de qualidade, com suficiente eficiência e resolutividade. Cumprindo na prática os princípios preconizados desde a 8a Conferência de Saúde: Universalidade, Integralidade, Equidade e Participação Popular.

– Então: com que intenções se fazem as companhas difamatórias contra Cuba?

Em informe recente, titulado “Progresso para a infância: um balanço sobre a nutrição”, o Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF – confirmou que Cuba é o único país da América Latina e Caribe sem desnutrição infantil. Porém, no mundo existem 146 milhões de crianças menores de cinco anos com problemas graves de desnutrição.

Além disso, a própria Organização das Nações Unidas – ONU – situa Cuba na liderança do cumprimento de matéria de desenvolvimento humano.

A maior das Antilhas, apesar da pobre economia, situa-se em destacada posição no Índice de Desenvolvimento Humano e, como afirmamos anteriormente, é reconhecida como único país no mundo com um desenvolvimento sustentável.

Some-se a tais êxitos, todo o avanço científico-médico e social, já mencionados, alcançados neste pequeno e solidário território socialista com pouco mais de 11 milhões de pessoas.

E, ainda assim, por acreditar que “um mundo melhor é possível”, sofre há mais de 50 anos um bloqueio econômico monstruoso e injustificável pela maior das potências: os Estados Unidos da América (EUA).

Essa mesma potência imperial recebe apoio no seio da oligarquia latino-americana e mundial, representada em grandes empresas e corporações, difundem suas blasfêmias contra Cuba e seu povo por meio dos principais veículos de comunicação. Com que frequência vemos reportagens e anúncios que aludem a Cuba como ditadura faminta?

E, não obstante, é  Cuba quem está ensinando ao mundo outro modo de pensar e guiando os latino-americanos, e “terceiro mundistas” de forma geral, por caminhos nos quais o ser humano conviva em harmonia com a natureza.

É Cuba quem alimenta o mundo de solidariedade. Este ano 4 mil 873 médicos de 70 países, incluído do próprio EUA, foram formados nas Universidades da Ilha. Mas, ainda assim, amanhã isso não estará publicado nos principais jornais do Brasil, como não será notícia nas grandes cadeias de televisão.

As campanhas difamatórias visam evitar um apoio popular massivo da América Latina e do Mundo a Cuba, para sustentar as dominações hegemônicas do capital, ou seja, para que alguns poucos sigam dominando e para que o povo não possa se libertar por meio da verdade.

Mas é necessário não se esquivar e não ser conivente. Por meio deste e outros documentos, temos a consciente obrigação de propagar os triunfos desta Revolução, e debater com a firme convicção do compromisso em todos os espaços, ainda que os ricos e abençoados pelo dinheiro e pelo poder gritem em contra. Como declarou Raúl Castro, Presidente da República de Cuba:

“Imagino as notícias nos próximos dias da grande imprensa internacional, especializada em denegrir Cuba e submete-la a um frenético escrutínio; já estamos acostumados a viver sob assédio e não devemos nos restringir a debater com toda crueza a realidade[…]”

Bibliografia

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Terramérica é a plataforma regional de comunicação para o Desenvolvimento Humano Sustentável e Ambiente mais importante da região. Trata-se de um projeto conjunto do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Banco Mundial (BM), com Inter Press Service (IPS) como agência de execução.

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