Saramago

O comunista que se tornou o maior escritor da língua portuguesa, permaneceu íntegro e decidido na defesa dos valores fundamentais do ser humano ao longo da vida. Sua existência se tornará doravante cada vez mais presente no seio daqueles que sustentam o ideário mais generoso produzido pela humanidade.

O comunismo de Saramago combinava a revolta diante das injustiças sociais com o exercício da reflexão, não se recusando a dialogar com os que professassem concepções confrontantes com as suas. Tinha a paciência de explicar suas opções, de denunciar com inteligência as mazelas sociais promovidas pela sociedade capitalista, em meio ao deslumbramento dos que nela só enxergam os resultados tecnológicos e a sociedade do espetáculo. Esta, incansavelmente oferecida como sonho pela propaganda dos que desejam perpetuá-la, embrutecendo o cidadão mais desavisado.

Mal sabem os religiosos em geral, que só os ateus, os materialistas, sofrem com o mundo em que vivemos, porque temos a convicção de que não há vida após a morte. Por isso torna-se imperioso a mudança das estruturas que agridem e exploram o ser humano, neste mundo. E é por esta razão que os comunistas lutam pela transformação da realidade em que vivemos, de maneira a elevar a condição de vida de todos, num projeto de comunhão geral, no qual não haja a exploração do homem pelo homem.

Saramago enquanto viveu foi o mais destacado comunista de sua geração, no campo das idéias. Suas críticas ao neoliberalismo, ao pós modernismo e ao suposto pensamento único, transformou-o no mais destacado intérprete comunista diante das banalidades filosóficas que têm grassado mundo afora. Soube enfrentar os ataques à tradição iluminista, às tradições revolucionárias dos povos, com a serenidade dos grandes pensadores. Em suas últimas palavras lamentava a falta da filosofia, a ausência de diálogos e debates de idéias num mundo indiferente à sorte dos seus semelhantes. Permaneceu, portanto, até seus últimos dias, preocupado com o destino do mundo dos homens.

É o caso de nos perguntarmos. O que temos feito para modificar este mundo ?

Lincoln de Abreu Penna