Secretário-geral da Frente Popular pela Libertação da Palestina sequestrado por israelenses e condenado a 30 anos de prisão é mantido em isolamento
Dafne Melo da enviada a Ramallah (Palestina)
Um dos presos mantidos a sete chaves pelos israelenses é Ahmad Sa’adat, secretário-geral da Frente Popular pela Libertação da Palestina (FPLP). Sa’adat foi preso pela última vez em 2002, pela Autoridade Nacional Palestina (ANP), sob comando da Fatah, após a FPLP assumir uma ação, em outubro de 2001 (durante a Segunda Intifada), em que o ministro do Turismo de Israel, Rehavam Ze’evi, foi assassinado. Ze’evi era alinhado à extrema-direita e manifestava publicamente seu desejo de limpeza étnica. Em entrevista a uma rádio, em julho de 2001, afirmou: “Nós devemos nos livrar daqueles que não são cidadãos israelenses como quem se livra de um câncer”.
A ação, porém, ocorreu apenas 15 dias após Sa’adat assumir o cargo dentro da FPLP. Pouco antes, em agosto, o então secretário-geral Abu Ali Mustafá (que substituíra Goerge Habash, um dos fundadores da FPLP) foi assassinado por Israel.
Pressionada por Israel e pelos Estados Unidos, a ANP captura Sa’adat em janeiro de 2002. Em fevereiro, prende, em Gaza, os integrantes da célula das Brigadas Abu Ali Mustafá – braço armado da FPLP – acusada do assassinato de Ze’evi. Todos são levados a Muqataa, “quartel-general” de Yasser Arafat em Ramallah, onde também estava Sa’adat. No fim de março, o exército israelense cerca e bombardeia a área. Numa negociação que até hoje tem versões distintas, Arafat aceita prender os quatro membros da Brigada, mas adverte que o caso de Sa’adat – um líder político e não militar – deveria ser julgado de outra maneira.
Sequestro
Em maio de 2002, todos os membros da FPLP são mandados para uma prisão da ANP em Jericó, vigiados por soldados estadunidenses e britânicos. Na época, diversas organizações de direitos humanos, como a Anistia Internacional, pediram a libertação do número um da FPLP, devido ao fato de não existirem provas que o liguem ao assassinato de Ze’evi. O próprio Estado de Israel reconhece a culpa dos outros quatro membros e a falta de provas contra Sa’adat. O secretário-geral da FPLP, entretanto, permanece em Jericó até março de 2006, quando é sequestrado em uma operação militar e condizido para uma prisão israelense.
Todas as vezes que foi levado à corte militar, Sa’adat se negou a aceitar a jurisdição israelense. “Ele se recusou a participar, se negou a escutar e a responder qualquer coisa no julgamento, ou a fazer sua defesa, porque não reconhece a autoridade israelense para prendê-lo”, afirma Sahar Francis, da Adameer. Para a advogada, o caso de Sa’adat é um dos mais graves devido às condições em que ele é mantido e porque mostra como o critério é político. “O juiz do caso disse claramente que foi a primeira vez que um líder político palestino que ocupa um cargo alto foi preso, descreveu ele como o ‘topo da pirâmide’. E é por isso que o tratam de maneira tão desumana e por isso o condenaram por 30 anos de prisão por atividades que, se ele não fosse da FPLP, certamente seria, na pior das hipóteses, de 20 anos”. Sa’adat foi formalmente sentenciado em dezembro de 2008, sob as acusações de integrar uma organização política ilegal – a FPLP –, e por incitação à violência, devido a um discurso feito após o assassinato de Abu Ali Mustafá, em 2001.
Solidariedade internacional
De acordo com um dos coordenadores da campanha internacional pela libertação de Ahmad Sa’adat, o advogado Ayman Krajeh, o líder da FPLP é transferido de prisão a cada três meses para que não se acostume e não se fixe em um lugar. A família só fica sabendo de seu paradeiro devido aos advogados. Sa’adat fica sozinho em uma cela, e quase nunca é permitida a visita dos familiares que podem ir a Israel (há palestinos que nasceram em Jerusalém e são considerados palestinos-israelenses após a ocupação da cidade em 1967). Os familiares que possuem identidade da ANP não obtém permissão. Suas filhas não o veem há quatro anos. “Mesmo quando visitam há sempre um soldado junto e se veem por um vidro, falam pelo telefone. Os advogados podem ir a cada duas semanas e a Cruz Vermelha faz visitas todo mês. Todos que o visitam afirmam que ele segue forte, com boa saúde”, diz Krajeh. Sua esposa, Abla Sa’adat também foi presa em 2003 por seis meses, em prisão administrativa, quando tentava ir da Palestina a Porto Alegre, para o Fórum Social Mundial de 2003, onde iria falar sobre a situação dos presos políticos, incluindo a de Ahmad.
Segundo Krajeh, a campanha começou seus trabalhos depois do sequestro de Sa’adat em Jericó, em março de 2006, e tem como objetivo levantar nacional e internacionalmente a causa pela libertação do secretário-geral da FPLP. “Isso significa também abordar a situação em que estão milhares de palestinos em prisões israelenses, e também libertar Sa’adatm, que representa um tipo de liderança revolucionária única na Palestina. Para nós é importante falar do sofrimento de Sa’adat e também sua posição política sobre a situação da Palestina. Sabemos que ele está sob pressão diária devido a sua posição política. Ele foi condenado a 30 anos por motivos políticos, ainda que Israel diga que tenha sido por motivos de segurança”, afirma. O site oficial da campanha é www.freeahmadsaadat.org.