Os perigos do fascismo na Europa

Estimados amigos e camaradas,

Há 69 anos, neste mesmo dia, a Bandeira Vermelha foi hasteada no Reichstag apontando a vitória de uma batalha gigantesca dos povos, com a União Soviética e os comunistas da Europa na vanguarda, contra a mais terrível e desumana ideologia, a ideologia e prática fascista, nascida do próprio capitalismo que levou à maximização da exploração do homem pelo homem, à destruição absoluta da existência humana.

Milhões de pessoas se sacrificaram nesta batalha, nos campos de batalha e nos desumanos campos de concentração. Hoje, rendemos homenagem aos que perderam a vida nas trincheiras, nos campos de batalha, aos que desafiaram os pelotões de fuzilamento. Leningrado e Stalingrado na Rússia, Kokkiniá e Kesarianí na Grécia estão impressos na memória dos povos, da mesma forma que milhares de lugares, onde se determinou o resultado desta dura batalha. Lugares que, por um lado, foram marcados pela barbárie do capitalismo e, por outro, pela grandeza da luta popular contra esta criatura capitalista, o fascismo.

Quase 70 anos depois, alguns estão fazendo todo o possível para extinguir a chama da verdade histórica que foi escrita com o sangue dos povos. Estão fazendo todo o possível para distorcer a história, para justificar, de maneira direta ou indireta, a brutalidade fascista. Nesta propaganda negra das mentiras, os centros imperialistas e, em primeiro lugar, a UE, jogam um papel protagonista. A UE, inclusive, transformou o 9 de maio, que é o Dia da Vitória Antifascista dos Povos, em “Dia da Europa”, tentando apagar da memória dos povos da Europa o caráter antifascista deste aniversário. Nesta missão ideológica e política caluniosa e suja, não hesita em equiparar o fascismo com o comunismo. Ao mesmo tempo, a UE, assim como os EUA, não titubeiam em confiar e apoiar as forças reacionárias mais obscuras que ascenderam ao governo da Ucrânia através de um golpe, como ocorreu anteriormente nos países bálticos, a fim de promover seus interesses geopolíticos na região da Eurásia. Nos últimos 25 anos, após da derrocada do socialismo e da dissolução da URSS, se leva a cabo uma sistemática “lavagem cerebral” ideológica anticomunista através da qual as “legiões SS” e os demais grupos armados pró-fascistas se apresentam como “libertadores” do país do bolchevismo.

No entanto, por mais rancor que exista, por mais tinta que seja gasta, a realidade objetiva não pode ser alterada. 69 anos após o fim da II Guerra Mundial, milhões de pessoas em todo o mundo reconhecem a contribuição do movimento comunista, com sacrifícios sem precedentes, para a derrota do fascismo. A força básica desta luta titânica, a alma e o líder foram os partidos comunistas, encabeçados pelo partido dos bolcheviques. Milhões de comunistas sacrificaram, inclusive suas vidas, por um mundo melhor.

O sistema capitalista, os antagonismos que, inevitavelmente, se manifestam entre os imperialistas e os monopólios, devem ser impressos e estigmatizados na consciência dos povos como os responsáveis pelas duas guerras mundiais, para os milhões de mortos, incapacitados, para as pessoas expulsas de seus lares. Não hesitaram em cometer qualquer crime com a finalidade de servir aos lucros, ao predomínio e ao poder capitalista. Esta realidade é ainda mais vigente hoje, dado que os antagonismos e os conflitos entre si estão se intensificando.

A verdade histórica não pode ser distorcida na consciência do povo, tendo sido escrita pela própria luta dos povos, com o sangue dos povos, dos movimentos pela Libertação Nacional e dos movimentos antifascistas nos países capitalistas, como os heroicos EAM (Frente pela Libertação Nacional), ELAS (Exército Nacional pela Libertação Nacional), EPON (Organização Nacional Unificada da Juventude) existentes em nosso país, que uniram e agitaram o povo a levantar-se.

Foi o resultado das grandes e titânicas batalhas do Exército Vermelho em Stalingrado, Kursk, em Leningrado, em Sebastopol, em todos os campos de batalha na União Soviética e em vários países da Europa capitalista. A grande vitória dos povos contra o eixo fascista-imperialista da Alemanha, Itália e Japão e de seus aliados foi obtida graças ao papel decisivo da União Soviética com sacrifícios incalculáveis e mais de 20 milhões de mortos.

Amigas e amigos, camaradas!

Atualmente, na Ucrânia, nos países bálticos, assim como em outros países da Europa, o fascismo tenta levantar a cabeça, da mesma maneira que em nosso país, onde surgiu uma organização nazista criminosa, o Amanhecer Dourado.

O terrível crime de sexta-feira passada em Odessa, onde os neonazistas do “Setor Direita” queimaram vivos alguns manifestantes de idioma russo e a operação sangrenta do governo de golpista de Kiev nas regiões orientais, têm grande impacto tanto sobre nosso povo como em toda pessoa consciente no planeta. O povo ucraniano está derramando seu sangue devido à intervenção aberta dos imperialistas dos EUA, da UE e da OTAN, que apoiam o governo dos nacionalistas e fascistas de Kiev e entram em conflito com a Rússia sobre o controle dos recursos energéticos, dos tubos e das cotas de mercado. Mais uma vez, é claramente demonstrado que as alianças imperialistas não apenas não garantem a paz e a segurança para nenhum povo, como o contrário, o conduz à guerra e à indigência.

Como no passado, o monstro fascista hoje é um produto do sistema capitalista; nasce das entranhas do sistema, não é algo que está fora do sistema como querem apresentá-lo. O fascismo é a expressão do capital que se utiliza como “ponta de lança” do poder capitalista contra o movimento trabalhador.

Utiliza as condições de democracia parlamentar burguesa para reforçar-se, contando com o apoio do capital ou de seções do capital, assim como do aparato estatal. Pretende exercer o poder dos monopólios de uma maneira mais dura, tal como fizeram no passado os partidos nacional-socialistas de Hitler e Mussolini, para subjugar o movimento trabalhador e popular. Esta foi e continua sendo sua característica básica; esta é a fonte da ira anticomunista aberta que caracteriza todas as forças fascistas desde sempre.

Certamente, os partidos nacional-socialistas, ainda que expressem os interesses do capital da mesma forma que os demais partidos burgueses, também aprisionam em suas fileiras as camadas populares, tratando de formar uma ampla base popular. Isto é conseguido a partir da utilização da “ferramenta” de intimidação aberta, da política racista, do chauvinismo e do irredentismo, da distorção da história, etc., lançando mão do empobrecimento abrupto das camadas populares, que é o resultado da crise econômica e da debilidade dos demais partidos burgueses em gerenciar o sistema, em arrastar para o âmbito de sua influência os setores populares politicamente atrasados.

O fortalecimento dos partidos fascistas na Ucrânia, do partido “Svoboda” e do “Setor Direita”, assim como o Amanhecer Dourado na Grécia, têm alguns elementos similares, como por exemplo, o fato de se terem manifestado após o fracasso rotundo das promessas dos partidos social-democratas que estavam no poder. Por exemplo, todos recordam as promessas do PASOK na Grécia, pouco antes do estouro da crise. Porém, a social-democracia e os partidos liberais burgueses, todos eles típicos governos burgueses, prometem medidas favoráveis ao povo enquanto, na prática, seguem uma política antipopular dura, servindo aos monopólios. Então, dada a desilusão das camadas populares arruinadas, dos autônomos, dos camponeses, dos desempregados, de setores da classe trabalhadora sem experiência, sobretudo jovens, é possível que se dirijam para uma direção mais reacionária. Uma situação similar se deu na Ucrânia, com as promessas feitas pelo governo de Yanukovich.

Esta situação requer que prestemos atenção quando se fala muito no nosso país de um “governo patriótico de esquerda”, o que promete o SYRIZA, e que, no marco da UE e da OTAN, na via de desenvolvimento capitalista, supostamente, serão aliviados os trabalhadores, serão solucionados os problemas populares. Não existe maior engano e, infelizmente, se demonstrou historicamente que um tal “governo de esquerda”, segundo o modelo conhecido como social-democracia, pode constituir uma ponte para uma política ainda mais direitista, dura e antipopular.

Isto foi confirmado, também, pela experiência recente e passada, dado que as consignas e as promessas de mudanças favoráveis ao povo foram desmentidas na prática por uma ou outra forma de gestão dos interesses do capital, pela barbárie capitalista, pela estratégia da UE, levando a um retrocesso de coincidências.

Hoje em dia, quando as forças fascistas surgem, por exemplo, no governo da Ucrânia, foi demonstrado com provas convincentes que o fascismo, como há 80 anos, pode ser a opção das classes burguesas, não apenas como força de ataque e de intimidação contra o movimento popular, mas, além disso, como força de gestão do poder burguês.

Sabemos por nossa própria história que as forças políticas burguesas, tanto de direita como as social-democratas, em alguns momentos, apoiaram os fascistas, que foram bastante úteis ao sistema capitalista naquelas circunstâncias cruciais. Devido ao perigo de ascensão do movimento popular, ao perigo de que o capitalismo perdesse o poder, com critérios classistas, decidiram abandonar temporariamente a forma da democracia parlamentar burguesa e não tiveram dúvidas em apoiar a forma fascista de exercer o poder do capital.

Na prática, vemos, por exemplo, o presidente dos EUA, cuja eleição foi aclamada há alguns anos pelo jornal do SYRIZA e sua administração foi elogiada por este partido e seu líder, que apoia claramente os fascistas de Kiev com o objetivo de servir aos interesses dos monopólios estadunidenses e europeus na Ucrânia, no cenário da dura competição com a Rússia, sobre o controle das quotas de mercado, das rotas de transporte, dos recursos naturais da região.

A UE e o governo grego, que preside a UE, desempenham um papel ativo nestes planos. A UE, por um lado, caracteriza como “totalitarismo” qualquer mudança governamental que não se baseie nas opções burguesas, condena a violência, enquanto, por outro lado, não hesita em utilizar a violência na hora de derrotar governos que já não servem a seus interesses, tal como ocorreu na Ucrânia. Não tiveram dúvida em utilizar a atividade extrema dos nacionalistas-fascistas, anticomunistas, nostálgicos de Hitler e, é claro, a destruição de monumentos de Lenin, de monumentos soviéticos e antifascistas.

Em nosso país também existem muitas pessoas que nos últimos anos “trabalharam” para fortalecer o Amanhecer Dourado fascista. Não apenas via seu financiamento generoso, como através da preparação do “terreno” ideológico para seu desenvolvimento. Trata-se de todos aqueles que fomentaram o ódio contra o KKE e o PAME, contra a organização política e sindical coletiva e a resistência à política antipopular, enaltecendo a indignação “às cegas”, a espontaneidade, absolvendo o sistema capitalista quanto às graves consequências da crise capitalista. Referimo-nos àqueles que, como se provou, criaram “canais de comunicação” políticos com esta formação fascista, prometendo inclusive postos no governo, enquanto fomentavam a inaceitável “teoria dos dois extremos”.

Depois de tantos crimes, assassinatos de imigrantes, ataques assassinos contra sindicalistas do PAME, o assassinato de P. Fissas, podemos ver que o sistema segue uma política de “podar” o Amanhecer Dourado, mas não o confronta substancialmente. Isto não tem a ver apenas com o governo, mas, contudo, com outros partidos, como mostra a decisão do Conselho Municipal de Atenas sobre os processos eleitorais. Isto representa algo: que o sistema político burguês não possui o interesse de “erradicar”, mas de embelezar esta organização e não descarta a possibilidade de utilizá-la no futuro contra o movimento operário e popular.

O KKE considera que sua tarefa imediata e imperativa é isolar o Amanhecer Dourado, inimigo jurado do povo e de suas lutas e pretende golpear o KKE e o movimento operário e popular. Não se pode confrontar o Amanhecer Dourado a partir do ponto de vista de defender supostamente a democracia burguesa, o sistema capitalista que a gera, mas pela Aliança Popular numa direção antimonopolista e anticapitalista, por um movimento popular que questionará e se oporá à estratégia dos monopólios.

Amigos e camaradas:

Tiramos lições e nos preparamos com um KKE que seja capaz de lutar sob todas as condições, sob todas as circunstâncias.

Os acontecimentos na região ampla (Oriente Médio, norte da África, Balcãs, Eurásia) são rápidos e é possível que nos próximos anos conduzam a novas guerras locais, regionais ou generalizadas. Em condições de preparação de guerras e, em geral, de intervenções imperialistas, a burguesia e seus governos tomam medidas contra o movimento trabalhador e, além disso, utilizam os partidos nacionalistas-fascistas. É possível que tentem impor medidas repressivas contra o movimento comunista e operário.

Por isso, o movimento operário, seus aliados e o Partido devem estar preparados a tempo, ser fortes, concentrados em elaborar e aplicar sua própria estratégia, que corresponderá à satisfação das necessidades trabalhistas e populares, através da ruptura do país com a UE e da OTAN, com todas as uniões imperialistas, com sua retirada dos planos imperialistas e da via de desenvolvimento capitalista.

Desta forma, a parada seguinte são as eleições locais e europeias.

Nestas eleições, deve-se condenar direta e claramente a UE, que apoiou os acontecimentos reacionários na Ucrânia. O apoio não foi acidental e nem por um descuido, mas com estimativas ruins ou devido a uma “correlação de forças negativa” ou por ser “submissa” aos EUA. O apoio foi dado porque é uma aliança a serviço dos monopólios europeus. Por sua natureza, é profundamente reacionária, já que tem como “pedra angular” a proteção dos lucros capitalistas. Pensa constantemente novos modos para explorar os trabalhadores, os trabalhadores autônomos, os aposentados, os jovens. Através do ataque contra os direitos trabalhistas e populares, os cortes de salários e pensões, a comercialização da Saúde e da Educação, através de formas de trabalho flexíveis, o desemprego, as privatizações, a PAC, etc. Esta natureza interna reacionária se reflete na política externa reacionária agressiva da UE. Por isto, por um lado, cria mecanismos de supervisão dos países, ou seja, memorandos permanentes e, por outro lado, forma o euro-exército e coopera estreitamente com a OTAN.

A conhecida “estabilidade” que invoca o governo de ND-PASOK não é nada mais que a continuidade desta política antipopular bárbara dentro e fora de suas fronteiras, num curso de estabilização e recuperação dos lucros da plutocracia. O povo não deve se deixar enganar. Qualquer que seja a recuperação dos lucros de uns poucos, isto não tem nenhuma relação com a maioria esmagadora de nosso povo.

Por outro lado, o dilema das eleições promovido pelo principal partido da oposição, “SYRIZA ou Merkel?”, insinuando que sem afetar a UE e o capital, ou seja, sem afetar o caminho de desenvolvimento que nos trouxe até aqui, um governo do SYRIZA supostamente trará a “salvação”, tem uma clara intenção de prender os trabalhadores dentro da UE, no marco reacionário de uma sociedade que se apoia no Minotauro dos lucros.

Estas falsas ilusões de que pode existir um capitalismo melhor, uma UE melhor, vêm sendo experimentadas pelos trabalhadores há anos e foram desmentidas plenamente. A UE não pode mudar para melhor. Está intrinsecamente ligada à decadência capitalista que não pode ser escondida pela “maquiagem” que o SYRIZA planeja fazer. Não se trata de um assunto de mudança de correlação em seu interior. A UE não se pode converter na Europa de paz, de solidariedade e de cooperação dos povos.

O SYRIZA semeou tais ilusões outra vez há dois anos, quando saudava a eleição de Hollande e a formação da chamada “frente do Sul”, do “vento do Sul”. Hoje em dia, o que dizia há dois anos sobre Hollande parece uma piada. Respectivamente, hoje a candidatura para o posto de chefe da Comissão Europeia, ou seja, do núcleo mais duro desta construção reacionária, supostamente mudará toda a construção. Estes “contos de fadas” dos representantes do SYRIZA defendem que se conseguirem o voto popular nas eleições iminentes, uma nova UE será construída, um capitalismo melhor será construído, não têm nenhuma base, são extremamente arbitrárias e perigosas para os interesses populares.

A UE é e se converterá num “inferno” ainda maior e mais cruel para os povos, quer o SYRIZA ocupe o primeiro ou o segundo lugar nas eleições. O único caminho é o fortalecimento da luta contra a UE, pelo desligamento desta, com o cancelamento unilateral da dívida, a socialização da riqueza, com o poder operário e popular.

Um passo nesta direção é a condenação decisiva da UE nas próximas eleições junto com a condenação do capitalismo, que gera o fascismo e a guerra imperialista. E isto só pode ser feito através do fortalecimento decisivo do KKE nas eleições europeias, através do fortalecimento do “Agrupamento Popular” nas eleições municipais e regionais.

É por isso que, a partir desta mesa redonda, dirigimos um chamamento de luta comum, de união de forças e de fortalecimento do KKE, que é a única garantia para que o povo seja forte e para poder determinar seu presente e futuro.

09/Maio/2014

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=jGlrWCa9tMo

[*] Secretário-geral do KKE. Intervenção realizada numa mesa redonda em Atenas.

A versão em inglês encontra-se em inter.kke.gr/… e em português em pcb.org.br/…

Este discurso encontra-se em http://resistir.info/ .

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