O terrorismo sionista contra Gaza

GENOCÍDIO – Até o dia 14, foram realizados 252 ataques aéreos e mais outros 97 pelo mar, que provocaram 17.200 refugiados e a morte de 34 crianças, 15 adolescentes, 24 mulheres, 44 idosos e 63 homens adultos. Além disso, 1.023 palestinos ficaram gravemente feridos

AO MENOS 180 mortos e mais de 1.000 feridos palestinos e um bairro praticamente destruído não são ainda suficientes para aplacar o desejo de vingança dos sionistas, após o assassinato, no dia 12 de junho, de três jovens israelenses pelas mãos, provavelmente, de alguns militantes jihadistas da tribo dos Qawasameh – que na região de Hebron fazem de tudo para desacreditar o grupo islâmico Hamas.

Também não foi suficiente o linchamento do jovem palestino Mohamed Abu Jadair, que, aos 2 de julho, foi seqüestrado pelos colonos sionistas do bairro de Shoafat, na Jerusalém Oriental e linchado publicamente. Não satisfeitos, os colonos queimaram o corpo do jovem ainda vivo.

Em resposta, começaram as manifestações de protesto dos jovens palestinos na Cisjordânia e foi nesse contexto que o exército sionista realizou 42 “operações de segurança máxima” em todos os territórios palestinos, prendendo cerca de 1.000 jovens palestinos, dos quais 570 eram ex-presos políticos libertados em 18 de outubro de 2011, quando o Hamas trocou o soldado israelense Gilad Shalit – capturado nos arredores de Gaza, em 2006 – pela libertação de 1.027 presos políticos palestinos.

Na realidade, o exército sionista se aproveitou disso para satisfazer a opinião pública sionista – que nunca aceitou a troca de um soldado israelense por 1.027 “terroristas palestinos” – voltando, assim, a prender 570 ex-presos políticos com a infamante acusação de serem “suspeitos do assassinato dos três jovens israelenses”.

Foi nesse âmbito que os oficiais que estavam à frente dessas operações, no dia 20 de junho, receberam a ordem do Estado Major de prender até Aziz Dweik, de 66 anos, que é o porta-voz do Conselho Legislativo Palestino e logicamente membro da direção do Hamas.

Na realidade, o endurecimento do cerco militar ao território da Faixa de Gaza e os ataques aéreos e navais realizados por terra e por mar foram planejados atenciosamente pelos oficiais do Estado Major do Tzahal não tanto para vingar-se do assassinado dos três jovens israelenses, mas sim para concluir as “operações de ruptura total”, que os militares realizaram primeiro em 2008 e depois em 2011.

Operações essas que nunca chegaram a ser concluídas porque o mundo começou a acusar Israel de genocídio. De fato, em 15 de setembro de 2009, o juiz sul-africano Richard Goldstone – que liderava a comissão do Conselho de Direitos Humanos da ONU após a operação “Chumbo Fundido” em 2008 – acusou o exército de Israel de”… cometer crimes de guerra em Gaza. Embora o governo israelense tenha procurado caracterizar suas operações, essencialmente, como uma resposta aos ataques de foguetes, no exercício do seu direito de autodefesa, a comissão considera que o plano visava, pelo menos em parte, um alvo diferente: a população de Gaza como um todo…”.

Por outro lado, a atual “Operation Protective Edge” (Operação Margem de Proteção) é uma verdadeira ação de guerra de extermínio contra uma população de quase 2 milhões de pessoas, praticamente cercadas em Gaza City, contra a qual o governo sionista de Tel Aviv lançou um ataque que movimenta 41.500 soldados, cerca de 200 tanques, 50 caças-bombardeiros, 10 aviões de reconhecimento, 250 rampas de lançamento para mísseis ar-ar e do tipo Patriot, 40 navios lança-foguetes, 20 corvetas, dois submarinos, além de inúmeros aviões-espião drones (sem piloto) e a espionagem ostensiva do satélite OFEK-7, capaz de detectar objetos e pessoas a até 70 cm do terreno.

A verdade é que os generais do Tzahal já haviam planejado a referida “Operation Protective Edge” em 2013. Porém, a mesma só começou a tomar corpo quando o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, não aceitou o acordo de reconciliação entre o Hamas e o Fatah, do presidente Mahmoud Abbas.

Um acordo histórico para o futuro do Estado palestino, que ocorreu no dia 24 de abril de 2014, precisamente sete anos após a vitória dos candidatos islâmicos do Hamas ao governo regional da Faixa de Gaza.

É necessário sublinhar que o governo sionista de Benjamin Netanyahu – com a tácita cobertura da Casa Branca, dos países europeus e a tradicional covardia de grande parte do mundo árabe – se aproveitou da reconciliação entre o Hamas e o Fatah para enterrar de vez o moribundo processo de paz e assim poder voltar à estratégia do “Grande Israel”, que, nas condições atuais, implica a derrota militar e decisiva do Hamas, a colonização definitiva do Vale do Jordão e o fechamento dos últimos corredores palestinos na Cisjordânia, com a construção de mais condomínios para colonos judeus.

Um projeto idealizado pelos sionistas ortodoxos ligados ao movimento Be’ad Artzeinu, que foi enterrado pelo general Ariel Sharon, em 2005, quando após 38 anos de ocupação e diante da inegável resistência dos palestinos, ordenou a retirada militar da Faixa de Gaza e a desocupação dos assentamentos dos colonos sionistas.

Entretanto, o desejo de voltar a realizar o pretensioso projeto do “Grande Israel” foi inegavelmente confirmado, no dia 5 de junho, pelo ministro da Habitação de Israel, Uri Ariel – líder do partido ultra-sionista Pátria Judaica – que legitimou os planos para a construção de mais 1.500 casas para os novos colonos judeus na Cisjordânia e até na própria Jerusalém Leste. Além disso, o ministro da Habitação, diante dos microfones da TV israelense declarou: “Essa é uma resposta à formação do governo de coalizão na Autoridade Nacional Palestina (ANP), que une o Fatah e o Hamas, este último classificado por Israel e pelos EUA como um grupo ‘terrorista’”. Depois, entrevistado pelo jornal israelense Haaretz, Uri Ariel ainda declarou: “Eu louvo esta decisão de dar uma resposta sionista apropriada contra o estabelecimento do gabinete palestino do terror”.

Sequestro ou provocação?

Não é casual e até circunspecto que os três jovens israelenses foram seqüestrados e assassinados na região de Hebron, onde operam algumas células jihadistas, cujos membros são originários da tribo Qawasameh, que sempre realizaram atentados quando os dirigentes do Hamas ou do Fatah tentam romper o isolamento diplomático abrandando o clima conflituoso com Israel.

Por outro lado, não devemos esquecer que a participação dos agentes do Mossad, o serviço secreto israelense, na Síria e no Iraque ao lado dos ”insurgentes do ISIS e da Brigada Al Nustra” pode ter frutificado uma concreta rede de duplos agentes nos grupos jihadistas.

Agentes que, ao voltarem para a Palestina, podem ter motivado o seqüestro dos três jovens israelenses para desqualificar o acordo de reconciliação entre o Hamas e o Fatah. Uma provocação feita no momento político mais apropriado para justificar o início da “Operation Protective Edge” contra o Hamas em Gaza.

De fato, diferentemente do passado, ninguém reivindicou o assassinado dos três jovens israelenses. Ninguém enviou o vídeo com sua prisão e ninguém leu um comunicado pedindo algo em troca ou explicando as razões do sequestro. Algo que sempre acontece quando os grupos jihadistas ou as brigadas do braço armado do Hamas executam uma operação em território israelense.

Por que desta vez ninguém reivindicou o sequestro? Por que os três jovens foram logo executados e enterrados, até com dificuldade? Por que a descoberta dos corpos aconteceu logo após o habitual telefonema anônimo?

Achille Lollo é jornalista italiano, correspondente do Brasil de Fato na Itália e editor do programa TV “Quadrante Informativo”.