Reflexões sobre a vitória política e militar da Resistência Palestina

Resumen Latinoamericano, 7 de agosto de 2014 – Indiscutivelmente Israel quis em todos estes dolorosos dias de assassinatos massivos, apagar o povo de Gaza do mapa do Oriente Médio.

Quis, porém não conseguiu, e a razão fundamental é que a inteligência nazi-sionista se equivocou de cabo a rabo quando imaginou que quanto mais mortes ocorressem na população civil, quanto mais meninos e meninas caíssem com seus corpinhos destroçados pelas bombas de fósforo lançadas pelos “valentes” soldados de Tel Aviv, a consequência imediata seria fundamental para “retirar a água” da Resistência. Equivocaram-se e ocorreu o contrário: o povo palestino abraçou seus filhos mais corajosos, esses que nas piores das circunstâncias estiveram nas batalhas contra o inimigo, e conseguiram reverter a enorme desigualdade bélica. A luta armada do Hamas e de outras organizações militantes palestinas se converteu no inferno dos invasores, que em seu desespero apenas conseguiram continuar matando civis e aumentando a sua conta de crimes de lesa humanidade que colocam Israel na pior das posições.

– Mais além das idas e vindas que tenham sido as negociações diplomáticas, está claro que a Resistência Palestina ganhou a batalha política e militar contra seu agressor, e o fez quase sozinha, contra um inimigo impiedoso, que não é somente Israel, mas que possui bases econômicas e militares em Washington, Londres, Paris, Berlim e em quase todos os países da União Europeia, que permanentemente se ajoelham ante os lobbies sionistas que jogam com a sorte. É desnecessário falar dos governos da América Latina que continuam comprando armas de Tel Aviv.

– Os milicianos do Hamas, da Jihad Islâmica, da FPLP e também muitos combatentes do Al Fatah, que ignoraram as recomendações contrárias apresentadas por esse camaleão chamado Mahmoud Abbas, deram justa causa à luta. Concluíram que a Palestina é muito mais que isso e superaram todas as desigualdades – as ideológicas e as bélicas. Precisamente, isso é o que ficou claro no campo de batalha. O Hamas se preparou durante os últimos anos para este momento, já que sabia que o expansionismo imperialista israelense voltaria a atuar. Inclusive o advertiram de mil maneiras e até interceptaram transmissões do principal canal televisivo israelense para lembrá-los: “Venham, estamos esperando-os”. Assim foi: a soldadesca sionista assassina, com seus cérebros lavados e esmagados desde a infância com o ódio racista que sempre os caracterizam, e com o pedantismo vulgar que dá o fato de acreditarem ser “o povo escolhido”, não puderam avançar com seus tanques além dos limites impostos pela própria Resistência. É claro que frente a cada baixa sofrida (mais de 150 soldados e oficiais israelenses mortos) fizeram sentir sua vingança, bombardeando mercados, escolas, hospitais, centros de refugiados e qualquer outro ponto onde se concentraram os desesperados cidadãos de Gaza. Porém, apesar disso e da intermitência das bombas e dos tiros dos tanques, não puderam meter o medo no corpo da população até o ponto de renunciarem a solidariedade com aqueles que combatiam o terror com as armas na mão.

– Israel, como também fizeram os Estados Unidos no Vietnã e no Iraque, pode se dar o sinistro luxo de bombardear (com aviões ou drones) e destruir milhares de casas, martirizando quase dois mil palestinos e ferindo gravemente outros 10 mil. No entanto, em algum momento, as batalhas se resolverão na terra e outra vez Gaza será a tumba dos desejos sionistas de apoderarem-se do território (tornando-se o único território livre que resta na Palestina ocupada), expulsando seus colonos ao mar ou ao deserto.

– Como em toda batalha que se preze, por mais desigual que esta seja, existe um ponto de inflexão para paralisar a indiferença cúmplice da mais que desvalorizada “comunidade internacional”, e neste caso passou pela loucura sionista de crer que pode investir contra tudo e contra todos com a mais absoluta impunidade. As bombas que destruíram as escolas da ONU mais de uma vez, encheram o copo da mais prolongadíssima paciencia internacional e, então, foi possível escutar pela primeira vez que aqueles que tinham deixado a Palestina na mais absoluta solidão enquanto o genocida fazia sua tarefa, reprovaram o invasor e encararam uma pressão que de produzir-se um mês antes teria salvado milhares de mártires.

– Outra consequência imediata e muito perigosa para o Estado terrorista israelense é que, com o calor dos foguetes atirados profusamente pela Resistência contra os assentamentos de colonos judeus que ocupam a terra da Palestina, muitos deles abandonaram seu estilo altivo e prepotente, quase sempre próximo da criminalidade, e fugiram como ratos do deserto, gerando um mar de deslocados. Uma coisa é estar instalado com todas as comodidades e apoiado no canhão dos fuzis em uma terra que não os pertence, depois de ter produzido o etnocídio de Naqba em 1948, e outra muito diferente é que o pequeno David que sofreu humilhação durante mais de 66 anos, decida devolver parte do mesmo remédio.

Agora, pela primeira vez em sua sinistra história, o Estado terrorista israelense se encontra com o grave problema de conter dezenas de milhares de judeus que temem retornar a seus lares, e exigem uma solução imediata de seu governo. Ou seja, pedem o que nem Netanyahu, nem Liberman, nem nenhum chefe sionista pode fazer, porque o povo palestino está disposto a ficar em sua terra para sempre, e não deseja vizinhos violentos ou expansionistas.

– Um aspecto importante que a Resistência colocou à tona foi exigir que o bloqueio criminoso que Israel impôs durante anos à população de Gaza, seja suspenso como parte das negociações para vislumbrar um futuro de paz. Como bem disse o dirigente do Hamas, Ismail Haniyeh: “Mais que as próprias bombas que o inimigo lança a cada ano contra nossos homens, mulheres e crianças, matam as ações do bloqueio, a falta de alimentos e remédios, a dor de não saber como será o dia de amanhã nem a possibilidade de sair para pescar sem que seja metralhado”. Daí o fato deste ponto ser fundamental no momento de negociar um cessar fogo permanente.

– Também deve ser destacada como uma vitória indiscutível por parte da Resistência a enorme solidariedade de povos e alguns governos (os da ALBA em primeiro lugar) oferecida pela América Latina e pelos países integrantes do Movimento de Não Alinhados. Não há neste momento um território no planeta onde a militância consciente não agite bandeiras palestinas (em alguns lugares como o País Basco e Irlanda, elas são penduradas em suas varandas), se manifeste na rua aos milhares ou, como no caso de Evo Morales e Nicolás Maduro, se ponha à vanguarda da condenação ao genocida, rompendo relações diplomáticas ou oferecendo seus territórios “livres de sionismo” aos órfãos do massacre israelense.

– Com suas ações, Israel vem gerando um gigantesco bumerangue que começa a golpear a própria cabeça do monstro. Os descendentes das vítimas do Holocausto cometeram algo similar, com menos vítimas, porém com iguais intenções etnocidas. Como bem disse Fidel Castro em sua última reflexão: “O genocídio dos nazistas contra os judeus esgotou o ódio de todos os povos da terra. Por que o governo desse país crê que o mundo será insensível a este macabro genocídio, hoje cometido contra o povo palestino? Por acaso se espera que ignore o quanto existe de cumplicidade por parte do império norte-americano neste massacre vergonhoso?”.

– A Palestina, como ontem o Hezbolah no Líbano, venceu a morte, demonstrando que apenas com luta e mais luta (e não com conciliação ou cumplicidades com o inimigo) os povos avançam. Certamente muitos poderão opinar que o preço pago é muito alto, mas não se pode esquecer que ao longo da história dos povos, a Independência se conquista com o maior dos sacrifícios. E nesta oportunidade, a Palestina tem dado uma lição inquestionável a todas e todos os que buscam objetivos iguais. Agora, mais que nunca, é necessário exigir Justiça para os crimes de lesa humanidade cometidos por Israel e, também, continuar incentivando o boicote aos produtos provenientes do Estado sionista. Que não cesse a solidariedade internacionalista, nem sequer quando as corporações midiáticas “decidam” que os milhares de mortos e feridos “já não são notícia”. Eles, os escribas e escrevinhadores condescendentes com quem mais lhes paga, também foram derrotados pela Resistência Palestina.

Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/?p=4426

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)