A veia terrorista de Barack Obama

Depois de ter herdado, de início com algum pudor e sob outras designações, a guerra contra o terrorismo inventada pelo seu antecessor, Barack Obama não se limita a igualar George W. Bush no recurso a práticas terroristas como, em alguns casos – e não apenas o do record mundial de execuções extra judiciais cometidas com drones – consegue ultrapassá-lo.

A situação mais flagrante, e que contribuiu para demonstrar como os Estados Unidos são governados por um partido único, porque em matéria de violações dos direitos humanos não há quem consiga distinguir um democrata de um republicano, é a da proliferação de ameaças, tentativas e execuções de golpes de Estado.

No reinado de Obama a série faz corar de inveja alguns dos mais empedernidos falcões que passaram pela Casa Branca: Honduras, Paraguai, Ucrânia, Macedónia, Egipto, Qatar, Síria, Líbia, Iraque, Mali, República Centro Africana e, como não podia deixar de ser, Venezuela.

O assunto venezuelano poderá ter passado quase despercebido. Foi escondido para com isso se tentar abafar o fracasso da intentona, ou então explicado ao contrário através dos mecanismos censórios doutrinários que caricaturam o papel da comunicação social.

O golpe esteve marcado para 12 de Fevereiro, tentando reeditar a tragédia chilena de 1973, mas as autoridades venezuelanas anteciparam-se e puseram a nu um contexto através do qual se prova que em Washington não se olha a princípios nem a meios para alcançar os fins pretendidos, sempre apresentados, como é de bom-tom, como a instauração da democracia onde supostamente ela não existe.

Nesse dia 12 de Fevereiro, no quadro da chamada “Operação Jericó”, um bombardeiro modelo Tucano ENB 312, já anteriormente envolvido num atentado contra dirigentes das FARC colombianas, deveria ter bombardeado o palácio presidencial de Caracas, a Assembleia Nacional, instalações da ALBA e a televisão TeleSur para instaurar um “governo de transição” a entregar a reconhecidos fascistas como António Ledezma, significativamente conhecido como “o vampiro”, Maria Corina Machado e Leopoldo Lopez. O avião, pintado com as cores da aviação venezuelana, pertence a um bando de mercenários integrado na máfia mundial dos exércitos privados e empresas de segurança que dá pelo nome de Academi e outrora se chamou Blackwater – de que todos já ouviram falar como um dos mais ativos braços terroristas na invasão do Iraque. Empresa onde pontificam um ex-chefe da NSA (Agência Nacional de Segurança) e o ex-procurador geral da Administração Bush.

A trama da intentona conduz ao quartel-general de operações em Bogotá e ao comandante da operação, Ricardo Zuñiga, assessor de Barack Obama para a América Latina e também, porque quem sai aos seus não degenera, neto do presidente do Partido Nacional das Honduras que organizou os golpes fascistas de 1963 e 1972. Acresce que Washington recorreu a outsorcing para montar a operação, atribuindo ao Canadá a gestão dos aeroportos civis a utilizar, ao Reino Unido a propaganda e ao Mossad israelita as eliminações físicas consideradas necessárias. Ledezma, o “vampiro”, viajara recentemente a Israel, onde foi recebido afectuosamente por Netanyahu, Lieberman & Cia.

Como o golpe falhou e foi desmascarado, em 9 de Março Barack Obama accionou o estatuto que lhe permite declarar a Venezuela “uma ameaça contra a segurança nacional” dos Estados Unidos, previsto para os casos em que exista “uma extraordinária e invulgar ameaça à segurança nacional e à política externa, situação que deve ser tratada como uma emergência nacional”. Isto é, Barack Obama instaurou a estratégia terrorista de golpe de Estado permanente contra a Venezuela, alegando a corrupção dos dirigentes de Caracas e a violação dos preceitos democráticos.

Ironia do destino, um dos escolhidos para o tal “governo de transição”, o supracitado “vampiro” Ledezma, em tempos autor do “Caracazo”, massacre de centenas de estudantes que protestavam contra a austeridade, é o governador da região de Caracas, eleito através dos mecanismos de um regime que ele próprio e os seus tutores não consideram democrático.

Eis como Obama em nada se distingue dos mais tenebrosos falcões que passaram pela Casa Branca. Anote-se, por ser verdade, que na Venezuela, na Ucrânia, na Macedónia e onde quer que tal lhe convenha, o presidente dos Estados Unidos não tem qualquer pudor em recorrer a dirigentes e grupos de assalto nazi-fascistas desde que seja, ele o diz, para instaurar a democracia.

13/Março/2015

[*] Jornalista.

O original encontra-se em jardimdasdelicias.blogs.sapo.pt/a-veia-terrorista-de-barack-obama-748181

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/venezuela/goulao_13mar15.html