Africom instala-se no Sul de Espanha*
Carlos Lopes Pereira
Assiste-se em Espanha a um comprometimento bélico sem precedentes. A ditadura fascista forjou uma aliança com os Estados Unidos cedendo as bases militares de Torrejón, Saragoça, Morón de la Frontera e Rota. Após o fim do franquismo, Madrid entregou-se à OTAN, primeiro com a UCD de Adolfo Suarez, depois com o PSOE de Felipe Gonzalez e José Luís Zapatero. O PP de Aznar e Mariano Rajoy eliminou os escassos impedimentos negociados com a OTAN e introduziu a Espanha na sua estrutura militar.
O comando militar dos Estados Unidos para África, o Africom, reforçou a sua base em Morón de la Frontera, em Sevilha. A base aérea passa a ser permanente e a dispor de mais marines.
Nesse sentido, os governos de Washington e Madrid modificaram à pressa o convénio de cooperação militar que os liga. Receiam que as próximas eleições em Espanha mudem a correlação de forças e dificultem a continuação das facilidades concedidas.
A alteração apresentada pelo governo do Partido Popular foi aprovada a 7 de Julho pelo parlamento, também dominado pela direita.
O Africom, com o quartel-general em Stuttgart, na Alemanha, vai manter entre 850 e 3500 fuzileiros em permanência na base sevilhana, servida por modernos aviões e helicópteros.
Uma organização democrática, a Plataforma Global contra as Guerras, denunciou a «entrega de Morón aos marines norte-americanos» e organizou um protesto contra a aprovação, pelo Congresso dos Deputados, da modificação do convénio permitindo a ampliação da base. Com palavras de ordem como «Não queremos ser colónia, nem da Alemanha nem dos EUA!», «Não à guerra!, Não em nosso nome!» ou «OTAN não! Bases fora!».
Num manifesto aos trabalhadores, aos jovens, aos cidadãos, a plataforma considera que «de facto, passamos a ser um território ocupado por uma força estrangeira, sobre a qual não temos nenhum controlo nem jurisdição, uma força aerotransportada de prontidão imediata às ordens do comando militar dos EUA, preparada para intervir em África, no Próximo Oriente ou no Mediterrâneo Oriental». Realça que nada disto é do conhecimento da população, que nada disto foi debatido nas campanhas eleitorais mais recentes. E acusa: «Uma vez mais, um governo que agoniza compromete o futuro e a segurança dos cidadãos e entrega a soberania nacional às forças imperiais norte-americanas».
Barbárie belicista
Assiste-se em Espanha, segundo os ativistas, a um comprometimento bélico sem precedentes. A ditadura fascista forjou uma aliança com os Estados Unidos cedendo as bases militares de Torrejón, nos arredores de Madrid, Saragoça, Morón de la Frontera e Rota, estas duas na Andaluzia. Após o fim do franquismo, Madrid entregou-se à OTAN, primeiro com a UCD de Adolfo Suarez, depois com o PSOE de Felipe Gonzalez e José Luís Zapatero. O PP de Aznar e Mariano Rajoy eliminou os escassos impedimentos negociados com a OTAN e introduziu a Espanha na sua estrutura militar.
Hoje, a base aeronaval de Rota, na baía de Cádis, integra o Escudo Antimísseis na Europa. Em Torrejón, constrói-se umbunker para sede do Centro de Operações Aéreas da OTAN. E, agora, Morón será uma base permanente do exército expedicionário norte-americano.
Tudo isto, salienta a Plataforma Global contra as Guerras, no contexto de uma crise de refugiados sem precedentes, que fogem dos sangrentos conflitos na Síria, no Iraque e na Líbia – provocados pelo imperialismo norte-americano –, refugiados que, aos milhares, procuram, através do Mediterrâneo, chegar às costas da Europa. Ao mesmo tempo que «a violência brutal de grupos fanatizados, que foram armados e enquadrados pelos EUA e seus aliados na região» se estende pelo Próximo Oriente e pelo continente africano.
Tudo isto em vésperas das manobras militares, as maiores desde a Guerra Fria, que a OTAN vai levar a cabo, em Outubro, na zona do estreito de Gibraltar. Manobras anunciadas como sendo de «preparação para reagir a uma crise, (…) dada a crescente instabilidade do Médio Oriente até ao Norte de África». Instabilidade, uma vez mais, provocada e alimentada pelo imperialismo dos EUA com a intervenção e ocupação do Iraque, com o bombardeamento e a destruição da Líbia, com a guerra subversiva em curso contra a Síria.
Para os democratas espanhóis, o governo de Madrid, ao reforçar a aliança com os Estados Unidos, pretende fazer dos povos de Espanha «cúmplices da barbárie belicista», convertendo o país ibérico «numa parte substancial do aparato militar da guerra de dominação que se estende pelo mundo».
Intervindo perante o Congresso dos EUA, o comandante do Africom, general David Rodriguez, revelou em Março de 2014 que, até essa altura, tinham sido efetuados em África 55 operações, 10 exercícios e 481 «atividades de cooperação no domínio securitário». Desde então, sabe-se, outras ações bélicas confirmam a crescente ingerência norte-americana no continente.
Desenvolvendo relações militares com a maioria dos estados africanos, o Africom é hoje um dos mais ativos instrumentos da política imperialista dos EUA em África.
*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2172, 16.07.2015