Discriminação

O gabinete israelense aprovou, no dia 10 de outubro, um projeto de lei que exige dos candidatos à cidadania um juramento de lealdade a Israel como “Estado judeu e democrático”. Ele segue para o parlamento, onde a coalizão governamental tem confortável maioria, para discussão e eventual aprovação.

Há intensa reação a este projeto, classificado por árabes israelenses e segmentos da população judaica como “racista”, já que aplicável apenas aos não judeus. Mesmo dentro do Likud, partido de direita que comanda a atual coalizão governamental, há discordância. Dan Meridor, Ministro da Inteligência e da Energia Atômica, destacada figura likudista, observou que não há justificativas para o projeto e que o texto aprovado no gabinete apenas consolida, na população árabe, o sentimento de rejeição e preconceito. Isso é confi rmado pelo deputado Ahmed Tibi, do partido Raam-Taal, que disse que “a exigência do juramento de lealdade será feita principalmente aos cônjuges palestinos de cidadãos árabes”. O deputado Jamal Zahalka, do partido Balad, ponderou que “em nenhum lugar do mundo existe uma exigência de juramento de lealdade à ideologia do Estado como condição para se obter a cidadania”.

Artistas e intelectuais judeus israelenses, reunidos em Tel Aviv, divulgaram um manifesto veemente, onde afirmam que “um Estado que use a força para invadir o domínio sagrado da consciência individual dos cidadãos, que imponha castigos àqueles cujas opiniões e crenças não coincidam com as do poder ou que não manifestem ‘o caráter’ que o Estado exige, deixa de ser democrático e se converte em fascista”. Entre os signatários deste documento estão Shulam it Aloni, Uri Avnery, Alex Ansky, Shery Ansky, Menachem Brinker, Ran Cohen, Ruth Cohen, Yaron Ezrachi, Galia Golan, Haim Guri, Sna’it Gisis, Yoram Kaniuk, Dani Karavan, Yehoshua Knaz, Elia Leibowitz, Alex Libak, Hanna Meron, Sammy Michael, Merav Michaeli, Sefi Rachlevsky, Gabi Solomon, David Tartakower e Micha Ullman.

Pesquisas recentes mostram um ânimo cada vez mais conservador dos eleitores israelenses. De acordo com uma delas, se as eleições fossem hoje, o partido Israel Beiteinu, do ultradireitista Avigdor Liberman, aumentaria sua bancada em 40%. Há projetos tramitando no parlamento com teor semelhante ao agora aprovado pelo gabinete. O chanceler Liberman defende abertamente uma política de remoção dos árabes israelenses. Tudo isso ajuda a fomentar um clima de confronto e violência.

Manifestamos nossa mais profunda preocupação com a iniciativa do governo israelense. Ela tem caráter antidemocrático e, de forma inédita, sugere uma política de Estado que cria constrangimentos a indivíduos pelo simples fato de não serem judeus. Além disso, surge no momento em que se tenta uma negociação com os palestinos para se chegar a um acordo de paz. O efeito do projeto, nesse caso, é o de injetar gasolina num incêndio. Para delírio dos fanáticos e extremistas que apostam sempre no pior.

Rio de Janeiro, 18 de outubro de 2010

ASA – Associação Scholem Aleichem de Cultura e Recreação

Amigos Brasileiros do Paz Agora

Centro Cultural Mordechai Anilevitch

Meretz – Brasil

ICUF – Federación de Entidades Culturales Judias de la Argentina

Movimiento Judio por los Derechos Humanos (Argentina)

Programa de rádio Leña al fuego (Argentina)