Sabra e Chatila: As relações públicas do etnocídio, 10 razões que provam uma responsabilidade política

imagemEqbal Ahmad (textos)/Diego Abu Arab (Ilustrações)/Resumen Latinoamericano/Marcha, 16 de setembro de 2015 – Especial sobre o massacre de Sabra e Chatila.

1 – Menajem Beguin e Ariel Sharon decidiram a invasão de Beirut Ocidental – em violação de um acordo internacional garantido pelos EUA – aproximadamente às 11 horas da noite de terça-feira, 14 de setembro de 1982, poucos minutos após a notícia da morte de Bechir Gemayel (político libanês, comandante paramilitar e presidente eleito. Foi um alto mandatário do Partido Falange Libanesa e comandante da milícia Forças Libanesas durante os primeiros anos da Guerra Civil Libanesa. Foi eleito presidente em 23 de agosto de 1982, enquanto o país era vítima da guerra civil e ocupado).

2 – Antes do amanhecer de quarta-feira, 15 de setembro, as Forças de Defesa Israelenses entraram em Beirut Ocidental. A razão oficial dada para esta violação foi a preocupação de Israel pelos perigos de uma violência civil generalizada. No entanto, os generais Sharon e Eytan ordenaram que o ataque dos falangistas aos acampamentos dos refugiados palestinos ocorresse simultaneamente com sua invasão em Beirut Ocidental.

3 – O general Eytan voou para Beirut na noite de terça-feira, 14 de setembro. Lá, reuniu-se com o general Amir Drori, comandante da divisão para Beirut Ocidental. Juntos encaminharam-se para os quartéis generais falangistas, onde Eytan “ordenou que os comandantes de milícias efetuassem uma mobilização geral de todas as suas forças…”. Estes chefes do Estado Maior israelense informaram que deviam entrar nos dois acampamentos de refugiados. Nem Amin Gemayel nem seu pai Pierre, fundador do Partido Falangista, foram informados das ordens de Eytan nem do posterior movimento dos milicianos para os acampamentos. Aparentemente, o general Sharon reservou esta informação para quando se reunisse com eles no dia seguinte.

4 – O general Eytan transformou o quartel central falangista em posto de comando avançado, comandando a dominação dos acampamentos de refugiados, permanecendo ali das primeiras horas da manhã de quarta-feira, 15 de setembro, até a manhã de quinta-feira, 16 de setembro. O general Sharon reuniu-se com ele no posto de comando entre as 8 e 9 da manhã de quinta-feira; aprovado o acordo com os falangistas, do terraço com vista aos acampamentos dominados, telefonou para o primeiro ministro Beguin. Diz-se que ele informou a Beguin que não existia nenhuma resistência em Beirut e todas as operações ocorriam de forma satisfatória. Estava presente na cena o chefe do Mossad, o diretor de Inteligência Militar Israelense, o segundo chefe do Estado Maior (Moshe Levi), o General Drori, o Brigadeiro General Yaron, o comandante de divisão e outros oficiais. O General Sharon fez outro chamado a Beguin. O Ministro de Defesa falou com primeiro ministro duas vezes do terraço do posto de comando. Foi em um desses chamados que se decidiu formular da seguinte maneira o demorado anúncio israelense: “… as Forças de Defesa Israelenses entraram esta noite em Beirut ocidental para prevenir possíveis distúrbios graves e assegurar a tranquilidade…”. Do posto de comando, o general Sharon foi ao quartel central dos falangistas e ordenou que as milícias coordenassem suas operações com as FDI.

5 – Às 11 da manhã de quinta-feira, 16 de setembro, o general Amir Drori e o general Amos Yaron se reuniram com oficiais falangistas para “coordenar” a entrada das milícias nos acampamentos e para organizar um “sistema de comunicações” no posto de comando isralense que dominava os acampamentos de refugiados. De volta a Israel, o chefe do Estado Maior Eytan informava ao gabinete israelense a possibilidade de uma iminente vingança por parte dos falangistas: “Já posso ver em seus olhos o que estão esperando… e será terrível”, diz-se que comentou no gabinete.

6 – As milícias entraram nos acampamentos às 6 horas da manhã de quinta-feira, 16 de setembro. Aproximadamente uma hora depois, um tenente israelense que fala árabe e que era um dos ajudantes do general Yaron, ouviu uma conversa na qual Elias Hobeika, chefe do “serviço de inteligência” da falange, dava o sinal para começar a matar “mulheres e crianças” nos acampamentos. O tenente israelense informou o general Yaron, que estava presente nesse momento.

7 – Essa foi possivelmente a primeira informação – ainda que não a única – da matança massiva ignorada por Yaron e outros oficiais israelenses. Aproximadamente às 8 da noite, outro oficial miliciano dentro do acampamento de refugiados se comunicou por rádio com o posto de comando israelense para perguntar o que fazer com as 45 pessoas que estava retendo. Foi dito que fizesse a vontade de Deus. O oficial de inteligência israelense que recebeu a mensagem não comunicou essa informação a seus superiores (incluindo Yaron) por cerca de uma hora, “porque estava programada uma reunião de oficiais no quartel central de campo para pouco depois”. Um pouco mais tarde, o general Yaron e seu pessoal estavam no refeitório do posto de comando quando entrou o oficial de ligação falangista para informar que já tinham matado cerca de trezentos terroristas e civis; isto ocorreu na presença de muitos oficiais da FDI que estavam ali, inclusive o general Yaron. Às 8:40 da noite, durante uma reunião, o oficial de inteligência que tinha reservado a informação recebida anteriormente, a comunicou. O informe da Comissão Kahan demonstra que ele foi interrompido e silenciado por Yaron.

8 – Às 11:30 da noite – continua sendo o Dia Um, quinta-feira, 16 de setembro – comando israelense no Líbano, fez circular um informe em várias unidades de inteligência em Israel, que afirmava: INFORMAÇÃO PRELIMINAR TRANSMITIDA PELO COMANDANTE DAS FORÇAS FALANGISTAS LOCAIS NO ACAMPAMENTO DE REFUGIADOS DE CHATILA AFIRMA QUE ATÉ AGORA SEUS HOMENS LIQUIDARAM EM TORNO DE 300 PESSOAS. ESTE NÚMERO INCLUI TERRORISTAS E CIVIS. Na sexta-feira, 17 de setembro, às 5:30 da manhã, este informe da noite anterior foi entregue ao coronel Hevroni, chefe do birô do diretor de Inteligência Militar Israelense.

9 – Na sexta-feira, 17 de setembro, os informes do massacre começaram a se acumular e, segundo o informe da Comissão Kahan, foram sistematicamente ignorados pelas autoridades israelenses. Na sexta-feira, o general Eytan se reuniu com importantes comandantes da milícia falangista às 4 da tarde (depois de receber informes sobre a matança do próprio lugar onde ela foi efetuada), e aprovou que continuassem as “operações” nos acampamentos “até as 5 da manhã, hora em que devem parar a ação devido à ‘pressão norte-americana’. Nessa mesma noite, o general Eytan telefonou para o Ministro de Defesa, Ariel Sharon, para informar que os ‘cristãos’ tinham se ‘excedido’, e tinham prejudicado a população civil mais do que se esperava”. A matança continuou até às 8 da manhã de sábado, 18 de setembro.

10 – Durante as quarenta horas da matança, o exército israelense proporcionou apoio logístico, incluindo iluminação e tratores para retirar os cadáveres.

Publicado originalmente na  Revista de Estudos Palestinos. Julho – Setembro 1984

Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/2015/09/16/sabra-y-chatila-las-relaciones-publicas-del-etnocidio-10-razones-que-prueban-una-responsabilidad-politica/

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)