Uma intifada no feminino contra Israel!
Por Sal Emergui / Resumen Latinoamericano/ 23 de Outubro de 2015 – São jovens, fartas de estéreis negociações com Israel e, segundo suas palavras, decididas a “ajudar os corajosos contra os soldados israelenses”. Universitárias que alternam as aulas com os conflitos na violenta escalada que encerrou sua terceira semana. Nascidas nos esperançosos anos dos Acordos de Oslo, sua geração não sonha com a paz. Como muitos israelenses de sua idade, o vem como fruta proibida.
Cobertas ou não com os tradicionais lenços palestinos, dão um passo à frente e participam ativamente na “luta contra a ocupação”, como contam ao El Mundo, no encontro em Cisjordânia. Horas antes, estiveram em novos distúrbios.
“Medo? Nenhum de nós aqui tem medo de morrer. Queremos que nos devolvam nossas terras”, sentencia Aya Fowad Hijazi Shobaki (21 anos), estudante de Comunicação e Ciências Políticas da Universidade Al Quds (Jerusalém). Quando insinuamos que enfrentar soldados do ‘checkpoint’ de Bet El, próximo de Ramalah, não trará terras, mas feridos e talvez mortos, responde: “Eu sei, mas não temos outra opção. As negociações não funcionam. Cada vez, eles mudam os motivos e a situação piora”.
Uma menina que pede para não ser fotografada nem identificada revela: “Atiro pedras e o que tiver na mão para atingir os israelenses”. Aya tem uma postura modesta: “Eu estou na primeira linha de frente, mas atrás, recolhendo pedras, rochas e tudo o que encontremos para dar aos meninos”, relata.
Não temem se converter em Shahida (mártir). Algumas das mulheres que este mês atacaram os israelenses deixaram escrito seu desejo de ser Shahida.
“Meus irmãos estão muito preocupados, porém é algo que levo em meu interior. Eles sabem que não posso evitar. Tenho que ajudar meu povo e sinto que devo fazê-lo por meu pai”, acrescenta enquanto observa o retrato de um homem com barba e olhar perdido. É seu pai, um veterano da Al Fatah que está há 10 anos na prisão israelense.
Sobre os esfaqueamentos de jovens palestinos aos israelenses em outubro, não têm dúvidas: “não possuem outras armas e o fazem sempre como resposta aos ataques israelenses”.
Enquanto Aya apoia a solução dos dois Estados, Asma Mizher (22) se opõe. “Estas terras são nossas”, exige esta estudante de Informática nascida em Ramalah.
Uma juventude sem confiança no futuro
70% dos habitantes da Cisjordânia e de Gaza têm menos de 30 anos. Veem que o futuro não os espera. “Desde que nasci só conheço a ocupação. Nas redes, vi o que acontece e decidi me juntar aos mártires. Participei de manifestações, ainda que acredite que tenho que fazer muito mais”, confessa Asma, da Al Fatah e coordenadora da organização ‘As Irmãs de Dalal Mugrabi’. Trata-se de uma associação universitária em honra ao integrante do comando palestino que, em 11 de março de 1978, sequestrou um ônibus no norte de Tel Aviv. O ataque acabou com o assassinato de 35 israelenses.
Para Israel, Mugrabi é uma terrorista. Para Asma e muitos outros na Palestina, “uma mártir”. Existe aqui uma das chaves: a diferença abismal entre as narrativas dos dois povos. Seja na descrição das ações de hoje ou, se abrirmos o foco, nas raízes do conflito. As mídias israelenses e palestinas apresentam uma escrita de enfrentamento que acaba semeando a semente de um futuro de hostilidade e desconfiança. As redes sociais aceleram e incendeiam o processo.
“Os israelenses pensam que todos somos terroristas, porém não é verdade. Lutamos para acabar com a ocupação”, aponta Asma, que defende os ataques: “Todas as ações são uma resposta. É a nossa resposta depois que soldados e colonos nos atacam sempre, inclusive em manifestações pacíficas”.
Religiosa e sempre com o véu, enfatiza que “desde a época do profeta Maomé, o Islã defende que as mulheres lutem”. As meninas – bem maquiadas e com uma potente retórica – causam maior interesse midiático que seus companheiros. “Damo-nos muito bem. Agradecem nossa ajuda. Não estão enciumados”, conta Aya com um meio sorriso antes de apontar os dois motores de uma nova Intifada: “A ocupação e as mudanças de Israel em Al Aqsa”.
Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/2015/10/23/cisjordania-una-intifada-en-femenino-contra-israel/
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)