EUA: 11-S, terrorismo de Estado

imagemJohn Saxe-Fernández

«A montagem do 11-S foi uma espécie de Pearl Harbor para justificar um ambicioso e secreto projecto, o ‘Project for a New American Century’», diz o autor. Talvez não seja tão secreto como isso. Só poderá surpreender quem desconheça a natureza do imperialismo. E o que este artigo recorda de mais importante é que as vítimas da guerra e do saque não estão apenas nos países agredidos e dominados. Estão também nos próprios EUA, nomeadamente no gigantesco saque do erário público acelerado desde 2001.

O documento, sob estrita vigilância, foi colocado no fundo de uma cave do Congresso. Foi permitido acesso aos legisladores com proibição de tomar notas e segundo juramento assinado de não divulgar o seu conteúdo sob pena de processo judicial. ¿Porquê tanta restrição? Não existindo razões legítimas de segurança nacional, a censura foi para encobrir a cumplicidade de funcionários e agentes de Arabia Saudita em parte crucial da montagem do 11-S, uma espécie de Pearl Harbor para justificar um ambicioso e secreto projecto, o Project for a New American Century, PNAC, que inclui guerras de agressão (a coberto da alegação de antiterrorismo) e um regime change nos EUA, uma vez que Bush assentou em que a Presidência tem o poder de ignorar legislação aprovada pelo Congresso quando entre em conflito com a sua interpretação da Constituição.

Quem agregue as 29 páginas censuradas ao conteúdo do relatório bicamaral descobre que Arabia Saudita é o país estrangeiro envolvido e mais mencionado nos ataques e que o segredo é porque dessas páginas se conclui que nem Iraque, Afeganistão, Líbia, Síria, Iémen, Paquistão ou Laos foram colaboradores ou encobridores dos ataques. Além disso, desde Setembro de 2000, um ano antes de tomarem o poder, Bush/Cheney haviam decidido atacar o Iraque e Hussein e não a Arabia Saudita: como parte do esquema de domínio global estavam os interesses de grandes monopólios dos EUA e Inglaterra no acesso a jazidas de alta qualidade e baixo custo de extracção do Iraque que Saddam tinha concessionado a firmas europeias e russas. Como informou um analista do MI6, uma vez Bush/Cheney instalados na Casa Branca a acção militar contra Iraque tornou-se inevitável e os dados foram manipulados de acordo com as decisões políticas correspondentes.

Por detrás do PNAC estavam os multimilionários contratos de reconstrução do Iraque que a cúpula governamental dos EUA geriria em torno dos volumosos gastos de um Departamento de Defesa (DoD) com sistemas de auditoria frágeis, para os qualificar com generosidade. Sob os neocon a canalização de riqueza do público para o privado nos EUA realiza-se por meio de inovadores sistemas de subcontratação de quanta função pública esteja à mão: seja ela a avaliação estratégica, de logística, gestão de cárceres clandestinos, controlo de multidões, interrogatório de prisioneiros (tortura), contra-insurgência rural e urbana etecetera. Já em 2004, com Bagdad e Iraque feitos em pedaços, Bush criou uma estrutura para coordenar a reconstrução de países arrasados pelos EUA e sua posterior estabilização com repressão, massacres de contra-insurgência e operações tipo Ayotzinapa.

Essa estrutura no Departamento de Estado, cuja responsabilidade entregou a Carlos Pascual, ex-embaixador na Ucrânia (e no México), operaria com fundos do DoD. A sua missão seria acelerar a transferência de riqueza pública para os privados agilizando a gestão de contratos. Em conferência num instituto em DC, relatada por Naomi Klein, Pascual disse que se trata de planos pós-conflito para 25 países que não estão, todavia, em conflito. Para Pascual, a reconstrução e estabilização seria também capaz de coordenar três operações totais de reconstrução em países diferentes ao mesmo tempo, com duração de cinco a sete anos (ibid). Prometeu inclusivamente que os contratos de reconstrução (de sistemas hídricos, electricidade, escolas, hospitais, mercados arrasados pelo bombardeio e a guerra) estariam prontos para ser assinados antes de a guerra preventiva ser lançada.

Em 15 anos desde o 11-S são milhões de baixas civis, de desaparições forçadas, de deslocados pela violência, de grande saqueio do Iraque e outros países e do erário público dos EUA. De tal modo que em meados de 2016 auditores do DoD detectaram uma inexplicável falha estimada em ¡5.6 milhões de milhões (trillions) de dólares! Os criadores e operadores do PNAC e seus sucessores justificam a atenção dos Tribunais Federais e, desde logo, do Tribunal Penal Internacional, se é que essa instância é capaz de reparar nos crimes de guerra dos dirigentes de nações ‘indispensáveis’.

As 29 páginas, tal como a Constituição vigente nos EUA, o habeas corpus consagrado na Magna Carta, as Convenções de Ginebra e em geral o direito penal internacional são documentos com dados e princípios já superados e que estorvam, segundo os neoconservadores dos tempos de Bush e de Obama. No entusiasmo de empresas e altos funcionários por estes contratos sustentados numa nova ¿ordem? global encontrar-se-á o motor do abandono por parte dos EUA do direito penal internacional e a sua opção desde o 11-S por guerras de agressão, o maior crime em curso segundo as normas derivadas dos julgamentos de Nuremberga.

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