OS MILITARES E A LUTA DE CLASSES
Do ponto de vista histórico, o Estado nunca foi neutro. Ele sempre representou e sempre representará os interesses das classes dominantes. Isto é fato! Desde quando surgiram as classes sociais. No conflito entre elas, quando as classes dominadas começam a questionar a exploração econômica que sofrem, o Estado sempre faz a intervenção para colocar ordem a seu favor.
Os militares, em sua grande maioria, são oriundos das camadas mais pobres da sociedade capitalista, mas são formados e doutrinados por uma ideologia que não representa a visão de mundo dos explorados. Através da ideologia burguesa, são doutrinados e treinados a ver qualquer forma de luta e reivindicação das massas exploradas como subversiva e inimiga da sociedade capitalista. Estas ideias e visão de mundo não estão presentes apenas nos setores militares, mas também nas escolas, universidades, meios de comunicação de massas etc.
A todo tempo a propagação da ideologia burguesa procura formar consenso para que todos aceitem como normal a exploração e a retirada de direitos das classes trabalhadoras. Quando as massas trabalhadoras começam a questionar a exploração em que vivem e os aparelhos ideológicos sozinhos não conseguem convencer os dominados a aceitar a ordem social vigente como normal, os militares são chamados a manter a ordem com a força bruta.
Durante as mobilizações contra a privatização da CEDAE, o governo do Estado do Rio de Janeiro e o governo federal, em conluio, colocaram a Força Nacional mais as Forças Armadas para garantir a entrega dessa empresa estatal ao grande capital, com a desculpa de que todo este aparato era para combater a violência, quando na verdade, foi para combater os movimentos populares que lutam em defesa das classes trabalhadoras. Fatos como este tendem a ocorrer à medida que as Polícias Militares sozinhas não consigam conter as revoltas populares.
O positivismo tem forte tradição em nossa cultura política; nossa República foi fundada sob o lema de Ordem e Progresso, resgatado pelo atual governo ilegítimo Michel Temer. Mas quem não lembra da velha frase do ex-Presidente Washington Luiz: “A questão social é caso de Polícia”?
O positivismo como concepção filosófica da burguesia surge em uma Europa em convulsão social. Formulado pelo filósofo francês Auguste Comte, o positivismo procurava associar a ideia de progresso nos avanços da tecnologia – a serviço do grande capital – à manutenção da ordem na sociedade capitalista, legitimando a exploração sobre os trabalhadores. Estes, segundo esta filosofia burguesa, deveriam aceitar como naturais a organização social e o modo de produção capitalista.
Além da influência do positivismo, nossas escolas militares foram doutrinadas na ideologia do anticomunismo, que enxerga em qualquer ação ou reivindicação popular um inimigo potencial a ser combatido. É a ideologia do combate ao inimigo interno. Os cursos promovidos pela Escola das Américas ajudaram a difundir esta ideologia nos diversos países americanos, onde o inimigo a ser combatido não é a ameaça externa e sim a própria população que luta contra o imperialismo e as multinacionais que se associam às burguesias locais para saquear as riquezas de nossos povos.
Os governos pós-ditadura em nada mudaram as concepções de nossas instituições militares. Toda vez que as lutas dos trabalhadores começam a questionar a ordem burguesa, as classes dominantes ameaçam resolver os problemas sociais com a criminalização e perseguição dos movimentos populares. Durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o ex-presidente ameaçava os que lutavam com a velha frase “As baionetas são mais eficientes que paus e pedras”; os governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Roussef (PT) responderam às mobilizações populares com a criação das chamadas leis antiterror, com o único objetivo de reprimir os movimentos populares; o governo golpista de Michel Temer (PMDB) está apenas se utilizando das leis disponíveis criadas por outros governos a serviço da burguesia.
Este é um processo em andamento em todo o mundo capitalista, o que obriga as massas populares a responder através da autodefesa.
Fazemos um chamamento, em especial aos militares honestos que tenham sentimentos patrióticos, para não se deixar levar pela onda conservadora e reacionária antipopular de reprimir seu próprio povo. Queremos dizer que na luta dos trabalhadores na defesa de seus direitos cabem os militares patrióticos que não se deixaram usar nas prisões, torturas e desaparecimentos de combatentes que por lutarem contra este sistema opressor que é o sistema capitalista.
Na luta dos trabalhadores, sempre haverá espaço para militares que se recusam a ser instrumento a serviço das classes dominantes. Porém, não conciliamos com militares que aceitem ser instrumento a serviço das classes dominantes. Não pode haver acordo com este tipo gente que aceita ir para as ruas reprimir greves e manifestações dos trabalhadores quando estes reivindicam seus direitos.
“Que as armas e os fuzis se voltem contra a burguesia; façamos greve de soldados, somos todos irmãos trabalhadores”.
As classes trabalhadoras não devem recuar, tampouco se guiar pelos editoriais da grande imprensa burguesa. O momento é de muita firmeza ideológica na defesa dos nossos direitos. Mais do que lutar para manter os atuais direitos, os trabalhadores de todos os setores precisam construir a unidade de ação, criar uma agenda de lutas que aponte para construção de uma alternativa anticapitalista que possa ser materializada no PODER POPULAR em direção ao SOCIALISMO no Brasil.
Que outros outubros possam vir através de novas Revoluções Socialistas em diversos países do mundo capitalista!!
José Renato André Rodrigues
Professor de Filosofia da Rede Pública Estadual do Estado do Rio de Janeiro
Secretário Político do PCB na cidade de Nova Iguaçu – RJ