A flotilha que não navegava

TEL AVIV, 2 jul (IPS) – A decisão da Grécia de impedir que zarpe uma flotilha carregada de ativistas que se dirigem a Gaza é a última de uma série de medidas que põe em destaque uma aliança de estados contra a frente de organizações não governamentais internacionais.

“Conforme uma decisão do ministro de Proteção Cidadã Christos Papoutsis, se proibiu a partida de barcos com bandeiras gregas e estrangeras de portos gregos até a área marítima de Gaza”, rezava o anúncio emitido na sexta-feira pela embaixada da Grécia em Israel.

No mês passado, o ministro dos Transportes do Chipre divulgou um comunicado similar. E antes, por “conselho” da Turquia, a Fundação de Alívio Humanitário havia cancelado sua participação no Mavi Marmara, barco de bandeira turca que liderava a primeira Flotilha da Liberdade, quando comandos israelenses o atacaram, na madrugada de 31 de maio de 2010.

Pouco mais de um ano depois desse ataque, no qual morreram nove ativistas, oito deles turcos, desatando protestos internacionais e piorando as relações entre Israel e Turquia, a segunda Flotilha da Liberdade – “Seguimos sendo humanos”– tinha previsto dirigir-se a Gaza para, uma vez mais, tentar romper o bloqueio imposto em 2006 por Israel.

Tudo isto parece haver tido um efeito dissuasor sobre os países geograficamente próximos ao Estado judeu. “A Grécia de julho de 2011 não á a Grécia de maio de 2010 em relação a Israel”, disse um alto funcionário israelense que participou no processo de impedir a segunda flotilha.

“Os organizadores não compreenderam isto, e agora estão pagando o preço”, assinalou.

Meia hora depois que o buque estadunidense Audacity of Hope (A audácia da esperança) zarpou na sexta-feira do sul oriental porto grego de Perama sem autorização, tentando chegar a Gaza, foi interceptado por comandos das Autoridades da Guarda Costeira Helênica.

“Nos obrigaram a voltar a um porto grego rodeado de grades e arames farpados”, assinalou uma mensagem publicada na rede social Twitter por USBoatToGaza.

Hagit Borer, uma cidadã israelo-americano, relatou o episódio ao portal israelense de notícias Ynet: “Os comandos chegaram com metralhadoras. Foi bastante atemorizante. Pareciam prontos para o combate, eram ameaçadores. Usavam capacetes e tinham seus rostos cobertos”.

Outro ativista se lamentou ante o mesmo meio: “É muito triste que os gregos estejam fazendo o trabalho sujo de Israel não deixando-nos navegar. Eu não sabia que o Mediterrâneo era propriedade de Israel”.

A flotilha passou a tentar romper o sítio a Gaza para tentar romper o cerco imposta a ela mesma, ainda que em vão.

Na quinta-feira, enquanto se encontrava atracado na Turquia, o barco irlandês M.V. Saoirse se viu obrigado a desistir devido aos danos que recebeu. No começo da semana, o sueco-grego Juliano sofreu danos no sul ocidental porto grego de Piraeus. Segundo os organizadores da flotilha, em ambos casos houve sabotagem deliberada.

“Se conclui que os sabotadores foram israelenses”, acusou o porta-voz do buque irlandês, Raymond Deane. O Ministério de Relações Exteriores de Israel levou dois dias negar a acusação.

“Por que os organizadores da flotilha não se queixam ante a polícia”, perguntou o porta-voz Yigal Palmor.

O periódico turco Hurriyet informou que, segundo “diplomatas turcos”, a embarcação irlandesa estava danificada desde “antes de ingressar em águas turcas” e que, segundo uma investigação inicial, os danos “poderiam não ser o resultado de uma sabotagem”.

Inclusive o vice porta-voz do Departamento de Estado (chancelaria) dos Estados Unidos, Mark Toner, declarou na quinta-feira que seu país não havia tido nenhuma “confirmação independente” de que os buques houvessem sido sabotados.

Dos aproximadamente 1.000 ativistas que viajavam em 15 barcos, sobraram poucas centenas a bordo de nove naves operativas, ainda que avariadas.

Na quinta-feira, na cerimônia de graduação de cadetes da força aérea de Israel, o primeiro ministro Benjamin Netanyahu já parecia saber que, provavelmente, o empreendimento da flotilha se afundaria lentamente.

Ao expressar a gratidão de seu país aos líderes mundiais, fez especial menção ao seu par e “bom amigo”, o primeiro ministro grego George Papandreou.

Pela primeira vez em muito tempo, sustentavam alguns funcionários israelenses, agora é a vez do Estado judeu desfrutar de certa solidariedade e legitimidade internacional, ainda não necessariamente do tipo da que determina a opinião pública mundial.

Ironicamente, o catalizador deste revés foi provocado pela amplia solidariedade internacional que apoiou o movimento de ativistas contra as políticas de Israel para com os palestinos, observam.

Em certo sentido, a flotilha não á mais que um prelúdio da verdadeira batalha pela legitimidade que atualmente jogam Israel e Palestina. Ambos povos e a comunidade internacional lidam com as implicações de fazer a paz e criar um Estado palestino, cuja aprovação pode lograr em setembro na Organização das Nações Unidas.(FIN/2011)

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