As eleições do DCE e as tarefas do campo da esquerda socialista na UFC
Por Antonio Lima Júnior*
Entre os dias 23 e 25 de outubro foram realizadas as eleições para o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal do Ceará (UFC). A eleição foi disputada por três chapas: chapa 10, ligada ao PT, PCdoB e Levante Popular da Juventude; chapa 20, do Campo Mandacarú, ligada ao PSOL, PCB e independentes; chapa 30, do PDT. Antes de tudo, comecemos por analisar curiosamente que a chapa 30 era ligada ao partido que está promovendo a imagem de Ciro Gomes como presidenciável e que, historicamente vinculada à UJS em eleições anteriores (ganhando o DCE juntos em 2012), teve um expressivo apoio dos estudantes vinculados à direita nesta eleição.
O processo eleitoral começou bastante conturbado, após a saída de alguns integrantes da Comissão Eleitoral, expondo alguns áudios ligados a integrantes da chapa 10, em que ameaçavam burlar as eleições para garantir o quórum, pois, segundo os mesmos, a maioria da Comissão Eleitoral era ligada à chapa 10. Desde então, travou-se a jornada em busca de garantir a “legalidade” da eleição através do quórum mínimo.
Aparentemente, o problema central desta eleição parece ser o quórum, visto que estamos em uma conjuntura onde há um grande descrédito da população nas instituições, somando-se ao histórico problema do movimento estudantil, onde os estudantes se eximem dos processos devido às posturas das organizações que dirigem as entidades, ou seja, não pelas entidades em si.
A luta pelo quórum mínimo significou construir uma eleição baseada em um número de estudantes que foi questionado, pois durante as eleições alguns estudantes da pós-graduação não encontraram seus nomes na lista. Além disso, a exposição dos áudios criou um clima de descontentamento entre os estudantes, em que muitos, em especial aqueles que veem no Campo Mandacarú uma alternativa política, se eximiram da votação por saberem que algo iria acontecer.
O Campo Mandacarú, constituído por organizações da Oposição de Esquerda da UNE (RUA, UJC, MAIS, NOS) e independentes, é fruto de um processo de ascensão do movimento estudantil da UFC a partir das ocupações do ano passado e de uma esquerda que havia se enfraquecido em momentos anteriores, mas que agora consegue buscar uma unidade programática contra o avanço do conservadorismo e da conciliação na UFC. Isso também não deixa de ser fruto do exemplo do Bloco de Esquerda Socialista no Ceará, com uma construção constante e ativa das organizações que o compõem.
A chapa 10, composta pelas organizações que historicamente burocratizam o movimento estudantil e têm experiência em construir escândalos nos processos eleitorais, não somente nesse setor, como no sindical (e aqui cabe lembrar que o Levante Popular esteve nas últimas eleições do Sindicato dos Comerciários de Fortaleza, construindo a campanha da chapa da Articulação de Esquerda do PT), trabalhou o processo inteiro garantindo sua presença em todas as urnas da capital e do interior, utilizando inclusive o mecanismo onde alguns membros da chapa se desvincularam da mesma na última hora para se inscrever como fiscal de urna. É deixar o galinheiro aos cuidados da raposa!
Com maioria absoluta na Comissão, a apuração dos votos foi tratorada, como diz o jargão do movimento estudantil, impedindo que as ocorrências registradas fossem levadas ao Conselho de Entidades de Base (CEB), representado pelos Centros Acadêmicos (CAs) presentes. A chapa 20 e os CAs próximos da mesma passaram a madrugada do lado de fora, esperando em vão qualquer procedimento de discussão sobre o processo da apuração.
O resultado numérico da eleição foi de 3441 votos para a chapa 10, 1022 votos para a chapa 20 e 1437 votos para a chapa 30, além de 388 nulos e 269 brancos. Mas o resultado político dessa eleição foi um total descrédito dos estudantes no processo eleitoral e uma negação do resultado exposto. Alguns Centros Acadêmicos posicionaram-se durante as eleições por um boicote, enquanto outros, ao terminar o processo, já estão pedindo a anulação do mesmo.
Diante disso, o Campo de Esquerda, que saiu politicamente vitorioso do processo eleitoral por não estar vinculado às falcatruas e por ter se defendido das difamações construindo a eleição na base, dialogando com os estudantes, tem como tarefa central agora a sua apresentação enquanto saída política para o movimento estudantil da UFC contra uma gestão do DCE que será claramente burocrática e autoritária, apesar de intitulada “Todas as vozes”. Claro, todas as vozes da conciliação e do autoritarismo.
O Campo Mandacarú deve sair das eleições com a cabeça erguida e se construindo como referência entre os estudantes, se inserindo nas lutas diárias do movimento estudantil e aliado aos Centros Acadêmicos que têm cumprido o papel de entidade de base legitimadas pelos estudantes não somente no campo eleitoral, mas no campo político da luta cotidiana.
Num processo eleitoral claramente deslegitimado pela base, sair perdendo é a melhor vitória política para um campo comprometido com a luta dos estudantes por uma educação pública e de qualidade, sem interferência dos interesses do capitalismo em transformar o conhecimento em mercadoria. Portanto, o processo de construção do trabalho de base é essencial para demarcar terreno e diferenciar-se da esquerda corrompida e desbotada, que não tem vergonha na cara de fazer conchavos, falcatruas e que tem como objetivo a burocratização do movimento e a desmobilização dos estudantes.
*Jornalista e militante do PCB Ceará
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