Boulos no Roda Viva: um bom início para a reorganização da esquerda socialista

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Nesta segunda-feira (07), presenciamos um marco na televisão brasileira: a primeira entrevista em rede nacional da pré-candidatura de Guilherme Boulos, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), à presidência da República. A entrevista foi concedida ao vivo no programa Roda Viva, da TV Cultura.

Com transmissão online, a entrevista do pré candidato da Frente de Esquerda Socialista, que engloba o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), o Partido Comunista Brasileiro (PCB), a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), o MTST e diversos movimentos sociais, foi um momento ímpar para o período pré-eleitoral que vivemos. Rodeada de jornalistas e “especialistas”, aquilo que deveria ser uma entrevista com o pré-candidato à presidência mostrou na verdade o caráter da imprensa burguesa: a todo momento, Guilherme Boulos recebia “cascas de bananas”, com perguntas que não buscavam questionar sua proposta de governo, mas sim associar sua imagem a uma esquerda que estaria ultrapassada, sem propostas “factíveis” para a política brasileira.

De forma qualificada, Boulos respondeu a todas as provocações, mostrando sua capacidade política e seu conhecimento nos mais diversos assuntos. Com uma excelente retórica, Boulos aceitou o desafio e enfrentou a bancada de desqualificados que nada aprenderam sobre como fazer uma entrevista digna. Cientistas políticos que mal sabiam diferenciar o conceito de ideologia da caracterização das classes sociais receberam uma aula de sociologia, política e direitos sociais. Para além da entrevista em si, que mostrou a clara tendência de parcela considerável do jornalismo brasileiro em fabricar opiniões no interesse das classes dominantes, foi apresentada a qualidade política de uma pré-candidatura detentora de um programa anticapitalista, disposto a avançar na reorganização da esquerda socialista.

O programa da plataforma Vamos, que é a base de sustentação política da pré candidatura de Boulos e Sônia Guajajara, é reflexo do contexto em que está hoje inserida a esquerda socialista: com muito pouco espaço de afirmação de suas ideias no período da conciliação de classes desenvolvida pelos governos petistas, há uma conjuntura adversa de ataques aos direitos da classe trabalhadora, com uma população profundamente desacreditada no sistema político burguês, ao mesmo tempo em que abrem-se possibilidades para a retomada da organização popular, para o que é preciso apresentar um discurso voltado às lutas imediatas, sem descolar da necessidade de romper com o capitalismo e construir uma plataforma política de acordo com os interesses e necessidades gerais dos trabalhadores e setores populares.

Ao falar de taxação das grandes fortunas, política de habitação e reformas sociais de base, Boulos apresentou um programa que está ligado aos interesses da ampla maioria da população, não para agradar a imprensa e os setores que historicamente controlam a política no país. Foi insistente no ataque aos privilégios dos banqueiros e na necessidade de realizar reformas tributárias e plebiscitos que incentivem a participação popular nos rumos do Brasil. Isto porque a candidatura de Boulos tem um caráter essencial de reorganização dos movimentos populares, para que haja a possibilidade real de um resultado político após outubro, contribuindo para o fortalecimento das e dos muitos enfrentamentos aos governos que virão.

Além disso, o discurso de Boulos mostrou sua diferença com outras pré-candidaturas de viés progressista, mas que vacilam em colocar o dedo na ferida do capitalismo. Enquanto as candidaturas do PT, PCdoB e PDT já mostram suas aberturas para alianças com setores que há muito governam o país, responsáveis pelo golpe parlamentar-midiático de 2016 e pelos retrocessos políticos e sociais em curso, Boulos apresenta a proposta de coligação com o PCB e tem como vice a líder indígena Sônia Guajajara, comprovando o compromisso político com os povos oprimidos e com a construção do poder popular.

Setores descontentes com os rumos de partidos da esquerda que continuam com o projeto de conciliação podem aproximar-se da candidatura de Boulos, o que é favorável para o movimento de reorganização da esquerda socialista, que deverá firmar-se no trabalho de base e no enfrentamento aos ataques da burguesia e aos muitos pacotes de maldades que ainda estão sendo gestados contra os trabalhadores. Por isso, é fundamental que a militância comunista e socialista esteja preparada para o embate político de uma campanha que será bastante ideológica, enfrentando as candidaturas mais reacionárias e aquelas que ainda apostam na conciliação de classes e na continuidade da política neoliberal. A entrevista de Boulos no Roda Viva foi o pontapé inicial para hastear a bandeira de “Vamos com Boulos!” e que é possível apresentar um programa político de governo elaborado com e em favor dos trabalhadores, no rumo da construção do poder popular e do socialismo.

Por Antônio Lima Júnior e Ricardo Costa (militantes do PCB e colaboradores do Jornal O Poder Popular)

Assista abaixo os melhores momentos da entrevista e a fala de Boulos ao final do programa:

5 grandes momentos de Guilherme Boulos no Roda Viva

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